A o tempo da quaresma não significa a um voltar-se para nosso interior de maneira individualista e egocêntrica, mas sim é um apelo para que a partir de uma conversão pessoal possamos nos tornar mais solidários para com o próximo, uma vez que um gesto de caridade apaga uma multidão de pecados. (IPd 4,8)
O exercício quaresmal da caridade ou esmola é uma forma concreta de socorrer quem se encontra em necessidade e, ao mesmo tempo, uma prática ascética, isto é, um exercício espiritual para se libertar da atração desvirtuada aos bens terrenos. Não podemos negar que a tentação da ganancia com relação aos bens materiais é real, o próprio Jesus no alerta de forma enfática quão forte é a atração das riquezas materiais e como deve ser firme a nossa decisão de não as idolatrar, quando afirma: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16, 13).
A esmola ajuda-nos a vencer esta tentação, educando-nos para ir ao encontro das necessidades do próximo e partilhar com os outros aquilo que, por bondade divina, possuímos. Isso faz emergir em nós o senso comunitário, e num âmbito ainda mais cristão, um senso de fraternidade que deve ser traduzido em gestos concretos partilhando com quem necessita, isto é, com o próximo em nossa vizinhança, em nosso ambiente de trabalho, ou mesmo à rua com quem se encontre… Desta forma, a purificação interior é corroborada por um gesto de comunhão fraterna entre os filhos de Deus, como acontecia já na Igreja primitiva.
Segundo o ensinamento evangélico, não somos proprietários, mas administradores dos bens que possuímos: assim, estes não devem ser considerados propriedade exclusiva, mas meios através dos quais o Senhor chama cada um de nós a fazer-se intermediário da sua providência junto do próximo.
Há um outro aspecto muito importante para nós cristãos sobre a prática da caridade, o de ser um gesto totalmente discreto. Se por um lado nossa vida deve ser sempre um exemplo para os não crentes, por outro lado o verdadeiro cristão não deve buscar fazer disto pretexto para uma promoção autopromoção, deste modo o Evangelho nos recorda essa característica típica da esmola cristã: deve ficar escondida,” Que a tua mão esquerda não saiba o que fez a direita”, diz Jesus, “a fim de que a tua esmola permaneça em segredo” (Mt 6, 3-4). Quem faz caridade por reconhecimento humano já recebeu aqui na terra e está privado da recompensa celeste, não podemos esquecer-nos tudo deve ser realizado para glória de Deus, e não nossa.
Assim somo chamados a compreender a esmola com um olhar mais profundo que transcenda a dimensão meramente material, a esmola evangélica não é simples filantropia: trata-se antes de uma expressão concreta da caridade, virtude teologal que exige a conversão interior ao amor a Deus e aos irmãos
Há ainda um outro aspecto negativo que devemos evitar ao praticar a caridade: a mesquinhez. Quem partilha deve partilhar com alegria e generosidade, muitas vezes somos tentados a fazer o mínimo, quase que ajudar por obrigação, a ponto de partilhar somente o supérfluo mas a atitude da viúva no evangelho foi totalmente diferente disso, mesmo sendo pobre e tendo muito pouco partilhou da sua pobreza, lançando no tesouro do templo “tudo o que tinha para viver”, dizendo Jesus: “Em verdade vos digo: esta pobre viúva deu mais do que todos os que lançaram no cofre, 44.porque todos dera do que tinham em abundância; esta, porém, pôs, de sua indigência, tudo o que tinha para o seu sustento” (Mc 12,43- 44). A sua pequena e insignificante moeda tornou-se um símbolo eloquente: esta viúva dá a Deus não o supérfluo, não tanto o que tem como sobretudo aquilo que é; entrega-se totalmente a si mesma.
A prática quaresmal da esmola torna-se, portanto, um meio para aprofundar a nossa vocação cristã. Quando se oferece gratuitamente a si mesmo, o cristão testemunha que não é a riqueza material que dita as leis da existência, mas o amor. Deste modo, o que dá valor à esmola é o amor, que inspira formas diversas de doação, segundo as possibilidades e as condições de cada um.
Neste período quaresmal devemos fazer um esforço pessoal e comunitário de adesão a Cristo para sermos testemunhas do seu amor. A Quaresma convida-nos a prática da esmola, para crescermos na caridade e nos pobres reconhecermos o próprio Cristo.Com a esmola, oferecemos algo de material, sinal do dom maior que podemos oferecer aos outros com o anúncio e o testemunho de Cristo, em cujo nome temos a vida verdadeira.