Falta pouco mais de um mês para a visita do Papa Francisco à sede das Nações Unidas, em Nova Iorque. Um evento que se tornou ainda mais significativo com o grande impacto que a Encíclica “Laudato si” tem tido na comunidade internacional. Entrevistado pela Rádio Vaticano, o observador permanente da Santa Sé na Onu, Dom Bernardito Auza, parte justamente desse fato em sua reflexão:
Dom Bernardito Auza:- “Fiquei bastante contente com as reações muito positivas em relação à Encíclica: todos falavam sobre ela já antes de sua publicação e, sobretudo, depois. Como dizia o diplomata de um grande país durante as negociações sobre o desenvolvimento sustentável: “Estamos aqui negociando duramente e dedicamos tanto tempo sobre o documento quadro para o desenvolvimento sustentável e, no entanto, parece que somente poucos se interessam realmente, mas todos, ou quase todos, sabem alguma coisa sobre a Encíclica!” Penso que isso resume um pouco o interesse que a Encíclica suscitou, inclusive no âmbito da Onu. Posso dizer que estou muito contente porque também durante essas recentes negociações intergovernamentais sobre a “Agenda pós-2015 sobre o desenvolvimento sustentável” muitas delegações citaram a “Laudato si”. Portanto, posso dizer que, no âmbito da Onu, a Encíclica foi muito bem acolhida.”
RV: A Encíclica pede um novo modelo de desenvolvimento econômico, mais atento aos pobres e à defesa do ambiente: une as duas coisas. Houve quem criticasse esse pedido do Papa…
Dom Bernardito Auza:- “No âmbito de meu trabalho junto às Nações Unidas, ouvindo os pronunciamentos oficiais dos países membros da organização – sobretudo dos países em desenvolvimento – e os das grandes organizações internacionais que lidam com a economia e com o comércio, creio ter entendido e percebido uma crescente tomada de consciência sobre a importância da compreensão de uma economia mais integral, como, propriamente, disse o Papa. Esse apelo a distanciar-se da obsessão de um desenvolvimento econômico baseado somente no Pib – essa não é uma economia que defende um desenvolvimento sustentável –, eis a força desse apelo por uma economia mais atenta aos pobres, mais atenta à ecologia, é justamente esse o espírito que a Onu quer colocar no centro da Agenda sobre o desenvolvimento sustentável até 2030.”
RV: Em novembro próximo se realizará, em Paris, a Conferência sobre o clima: o senhor acredita que a palavra do Papa Francisco possa desempenhar um papel nas decisões que serão tomadas nesse importante evento?
Dom Bernardito Auza:- “Diria que sim. A meu ver, a influência inspiradora da Encíclica é muito evidente já nas negociações para o desenvolvimento. A Conferência de Paris de novembro-dezembro próximos será, certamente, sobretudo técnica. Mas creio, inclusive falando com as delegações, que a inspiração e – até mesmo, diria – a filosofia, a teologia moral que impele os Estados, homens e mulheres a alcançar um acordo, o Papa já as tenha dado nessa Encíclica.”
RV: Daqui a pouco mais de um mês o Papa Francisco falará na sede das Nações Unidas: qual a expectativa que se respira, quais são as expectativas para esse grande evento?
Dom Bernardito Auza:- “O primeiro indicador dessa grande expectativa para a visita do Papa são os milhares de pedidos de ingressos que, infelizmente, não poderemos dar! Na Onu falamos todos os dias sobre isso e já tive encontros com o Protocolo para ver como responder da melhor maneira possível às muitas expectativas e pedidos para poder ver o Santo Padre, mesmo de longe. Com certeza, esperamos viver essa experiência, um grande vento, inclusive para a Onu.”
Fonte: Rádio Vaticano