O Papa presidiu esta segunda-feira, 07, uma missa com a presença de um grupo de vítimas de abusos sexuais por membros do clero quando eram crianças ou adolescentes.
A celebração decorreu, como habitualmente, no início da manhã, na residência de Francisco, Casa Santa Marta, e o grupo era composto por 6 pessoas da Alemanha, Inglaterra e Irlanda. Após a missa, eles tiveram um encontro a portas fechadas com o Papa.
O Papa frisou, em sua homilia, que “o coração da Igreja olha para os olhos de Jesus nas crianças abusadas e chora pelos seus filhos que traíram a sua missão e abusaram de inocentes”.
“Esta é a minha angústia e dor pelo fato de alguns sacerdotes e bispos terem violado a inocência dos menores e a sua própria vocação sacerdotal ao abusar sexualmente deles. É mais do que atos deploráveis. É como um culto sacrílego porque esses meninos e meninas foram confiados ao carisma sacerdotal para serem conduzidos a Deus, e eles os sacrificaram ao ídolo de sua concupiscência. Profanam a imagem de Deus à qual fomos criados.”
O Santo Padre destacou que esses atos execráveis de abusos perpetrados contra menores deixaram nas vítimas cicatrizes por toda a sua vida. “Eu sei que essas feridas são uma fonte profunda e muitas vezes de implacável pena emotiva e espiritual, e também de desespero. Alguns sofreram com a tragédia do suicídio de uma pessoa querida. A morte desses amados filhos de Deus pesa no coração de toda a Igreja”, disse ainda o pontífice.
“A presença de vocês aqui fala sobre o milagre da esperança que prevalece contra a escuridão mais profunda. Sem dúvida, é um sinal da misericórdia de Deus que hoje temos a oportunidade de nos encontrar, adorar a Deus, olharmos nos olhos e buscar a graça da reconciliação. Diante de Deus e ao seu povo manifesto minha dor pelos pecados e crimes graves de abusos sexuais perpetrados por membros do clero contra vocês. Humildemente peço-lhes perdão.”
O Santo Padre pediu também perdão pelos pecados de omissão dos líderes da Igreja que não responderam adequadamente as denúncias de abusos apresentadas pelos familiares e por aqueles que foram vítimas de abuso. “Isso causou ainda mais sofrimento aos que foram abusados e colocou em perigo outros menores que se encontravam em situação de risco”, frisou o Papa que acrescentou:
“Não existe lugar no ministério da Igreja para aqueles que cometem esses abusos. Comprometo-me a não tolerar o dano causado a um menor perpetrado por qualquer pessoa, independentemente de seu estado clerical. Todo bispo deve exercer seu serviço de pastor com diligência a fim de salvaguardar a proteção dos menores e prestarão conta dessa responsabilidade.”
Francisco concluiu sua homilia, afirmando que “devemos fazer de tudo para que tais pecados não mais se repitam na Igreja”.
Na viagem de volta da peregrinação à Terra Santa, no dia 26 de maio, o Papa havia antecipado a sua intenção. Falando à imprensa, disse que “a Igreja Católica vai manter uma política de ‘tolerância zero’ em relação a casos de abusos. “Neste momento, há três bispos sob investigação e um já foi condenado, faltando apenas avaliar a pena a ser aplicada. Não haverá privilégios”, declarou.
Participou da Missa o Cardeal Sean O’Malley, arcebispo de Boston e coordenador da comissão instituída por Francisco para a tutela dos menores. Dom O’Malley é também membro do conselho consultivo dos cardeais, C9, criado pelo Papa para ajudá-lo na administração e reforma da Cúria Romana.
Fazem parte da Comissão Pontifícia para a Tutela dos Menores a francesa Catherine Bonnet, estudiosa de psicologia e psiquiatria; a irlandesa Marie Collins, representante das vítimas de abusos; a inglesa Sheila Hollins, docente de psiquiatria; o jurista italiano Claudio Papale; a ex-primeira ministra polonesa Hanna Suchocka; o jesuíta alemão Hans Zollner, decano da Faculdade de Psicologia da Universidade Gregoriana; e o jesuíta argentino Humberto Miguel Yanez, diretor do departamento de Teologia Moral da Gregoriana e ex-docente no Seminário São Miguel de Buenos Aires.
A ‘linha dura’ da Santa Sé em relação aos casos de pedofilia na Igreja registoru um resultado importante nos últimos dias, com a redução ao estado laical do arcebispo polonês Dom Jozef Wesolowski, ex-núncio em Santo Domingo, processado canonicamente por abusos contra menores. Uma vez que sua expulsão do clero será ratificada com a sentença definitiva, ele será também processado penalmente no Vaticano. Medidas como esta demonstram que na era Bergoglio não há espaço para a impunidade.
Bento XVI, em 17 de abril de 2008, foi o primeiro Papa a encontrar um grupo de vítimas de padres pedófilos, na Nunciatura de Washington, durante visita aos EUA. O Papa Ratzinger teve ainda outros encontros na Austrália, Malta, Reino Unido e Alemanha.
Fonte: Rádio Vaticano
Local: Cidade do Vaticano