Na Igreja, o sacramento do Batismo apaga o pecado original
A Congregação para a Doutrina da Fé publicou, em 22 de fevereiro de 2018, a Carta Placuit Deo (Aprouve Deus). Nela, afirma que a salvação eterna só é possível, por meio de Cristo, em Sua Igreja, cuja porta de entrada é o Batismo (cf. n. 1 e n. 12). Para bem valorizar esse sacramento, é preciso entender o pecado original (= da origem).
O Credo Niceno-Constantinopolitano – aquele mais longo que, algumas vezes, rezamos, nas Missas, e que leva esse nome por ter sido formulado nos Concílios de Niceia (325) e de Constantinopla (381) – professa: “Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis”. Isso quer dizer que tudo é obra de Deus.
Pois bem, no relato bíblico, em sua linguagem própria feita catequese (cf. Gn 2-3), o que se vê, em resumo, é o seguinte: Deus criou o homem e a mulher, ou seja, seres dotados de corpo material e alma espiritual – síntese do visível e do invisível – e os colocou em um estado de harmonia e felicidade grandiosas: o paraíso.
Naquela condição, o Senhor lhes deu o dom sobrenatural (que ultrapassa as exigências da natureza humana, por isso é pura doação) da filiação divina, graça santificante que elevou nossos primeiros pais à condição de filhos muito amados Seus. Presenteou-lhes também com os dons preternaturais (que ampliam as capacidades da natureza humana) da imortalidade (cf. Gn 2,17;3,3-4.19) – nunca morreriam, mas passariam, como quê em um sono, para a eternidade –, da impassibilidade (cf. Gn 3,16) – não sofreriam mal algum –, da integridade (cf. Gn 2,25; 3,7-11) – não padeciam da concupiscência ou da tentação ao pecado – e da ciência moral infusa – que os levava a viver, sempre, segundo a vontade de Deus.
Foi, contudo, solicitada dos primeiros pais uma prova: poderiam dizer “Sim” ou “Não” àqueles grandes dons de Deus (cf. Gn 2,16-17). Ele nos fez livres e, por isso só nos salva com o nosso pleno consentimento. Ora, o ser humano, refém da tentação, representada na sugestão da serpente, disse “Não” a Deus, julgando, em sua soberba, raiz de todos os pecados (cf. Eclo 10,15), que desobedecendo ao Criador seria igual a Ele (cf. Gn 3,5). Foi um pecado singular (não uma falta qualquer) que trouxe consequências muito sérias. Adão e Eva perderam – estavam nus (cf. Gn 3,7) – todos os dons sobrenaturais e preternaturais dados por Deus. Eis o pecado original originante.
Distingue-se do pecado original originante o pecado original originado, aquele que herdamos, por transmissão, dos primeiros pais. Embora se chame pecado original (está na origem), não é uma culpa pessoal ou falha cometida livremente, mas a falta da graça santificante e dos dons preternaturais já mencionados.
Alguém poderia, aqui, acusar a Deus de injusto por nos ter privado desses dons. Tal acusação é falsa, pois os dons que não recebemos não eram da essência humana, mas como quê importantes anexos dados pelo Senhor. De modo oportuno, o Pe. Leo Treze, em sua obra A fé explicada (Quadrante), p. 40, diz o seguinte: “Se antes de eu nascer, um homem rico tivesse oferecido a meu pai um milhão de dólares em troca de um pequeno trabalho, e meu pai tivesse recusado a oferta, na verdade eu não poderia culpar o milionário pela minha pobreza. A culpa seria de meu pai, não do milionário”.
Apesar de tudo, o Pai celeste enviou Seu Filho para nos redimir (cf. Rm 5,12-21; 1Cor 15,45-49). Na Igreja, o sacramento do Batismo apaga o pecado original (e atuais, se houver, no caso de adultos) elevando-nos, de novo, pela graça santificante, à dignidade de filhos(as) de Deus. Não recebemos os dons preternaturais reforçadores da nossa natureza, mas recuperamos o mais importante: o dom da vida eterna. Daí a necessidade de se batizar, o quanto antes, as criancinhas.
– Ver: Catecismo da Igreja Católica, n. 396-403; 415-420.
Fonte: Aleteia