José Ulisses Leva é padre secular e professor de História da Igreja da PUC-SP.
Por ocasião dos 300 anos (1717-2017) do Encontro de Nossa Senhora da Conceição Aparecida com o povo brasileiro, em especial nós, cristãos católicos, nos sentimos profundamente felizes. A celebração nos remete há três séculos, ocorrida no Porto de Itaguaçu, nas proximidades de Guaratinguetá, interior paulista. Este momento de profunda Fé nos leva a uma reflexão teológico pastoral, sob os aspectos Trinitário, Eclesial e Mariano.
Quando remetemos à Trindade Santa lemos nos relatos que foram três os pescadores, João Alves, Domingos Garcia e Felipe Barroso, que encontraram a imagem de Nossa Senhora. Desde sempre a Santíssima Trindade se fez presente na Criação do mundo, sobretudo no momento em que “Deus disse: ‘Façamos o ser humano à nossa imagem e semelhança’ […] Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher Ele os criou” (Gn 1, 26-27). Em Aparecida não foi diferente à ação misericordiosa do Altíssimo Deus em relação aos pescadores. A presença de Deus Uno e Trino e o acolhimento dos pescadores, foram fundamentais para que ação divina tornasse a pesca frutuosa.
No milagre de Aparecida, os pescadores estavam numa barca nas águas do rio Paraíba do Sul, no Vale do Paraíba, São Paulo, quando encontraram a imagem. Simbolicamente, a imagem de barro de Nossa Senhora encontrada no rio nos faz lembrar que somos feitos do barro e precisamos do sopro divino para que haja vida; a barca representa a Igreja de Cristo Jesus; a água é o mundo onde a Igreja está inserida, como também, nos recorda os Sacramentos, tanto do Batismo quanto da Eucaristia. A barca se movimenta nas águas, às vezes, turvas e profundas.
Os pescadores estavam mergulhados no trabalho de encontrar peixes para o Conde de Assumar, que passava pela Vila de Guaratinguetá. Estavam exaustos e sem perspectivas. Num determinado momento da pescaria encontram o corpo, sem a cabeça, de uma imagem, mas ainda sem sucesso quanto à pesca. Os peixes, de fato, começam a surgir quando encontram a cabeça, isto é, a totalidade da imagem, assim chamada na invocação de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Portugal e das Colônias, e, finalmente, Aparecida.
Mesmo navegando em águas profundas e turvas, dentro da barca, estamos firmes e seguros: “O barco, entretanto, já longe da terra, era atormentado pelas ondas, pois o vento era contrário […] Mas Jesus logo lhes falou: ‘Coragem! Sou eu. Não tenhais medo’” (Mt 14, 24.27). No Corpo Eclesial, cuja cabeça é Cristo Jesus, somos queridos. No Sacramento do Batismo, somos amados pela Trindade Santa; e, no Sacramento da Eucaristia, somos alimentados pelo Salvador e Redentor, Nosso Senhor Jesus Cristo. Sentados à Mesa da Palavra, nós ouvimos Deus Revelado e, rodeados à Mesa da Eucaristia nós nos servimos do Banquete do Reino de Deus, anunciado pelo Divino Mestre, cuja meta é o Céu, para todos os que o ama, serve e o anuncia na alegria.
De fato, em 1717, Deus realizou o milagre: a abundância dos peixes se deu sob a intercessão de Maria Santíssima. Os personagens e as épocas são diferentes, mas a ação Misericordiosa de Deus permanece a mesma. “Avança mais para o fundo, e ali lançai vossas redes para a pesca” (Lc 5,4).
Seja a celebração do III século do Encontro de Nossa Senhora com os brasileiros, sob o Patrocínio da Conceição Aparecida, um momento fortíssimo de reafirmarmos nossa Fé à Santíssima Trindade, sob o olhar carinhoso e maternal da Mãe de Deus e nossa, na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica de Jesus Cristo, Salvador e Redentor de todo gênero humano.
Fonte: Nucleo Fé e Cultura