Papa Francisco: a dor é cristã, mas o ressentimento não

Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco iniciou a semana celebrando a missa na capela da Casa Santa Marta na segunda-feira (13/02).

 

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O Papa ofereceu a celebração por padre Adolfo Nicolás, prepósito-geral da Companhia de Jesus de 2008 a 2016, que na quarta retorna ao Oriente para o seu trabalho. “Que o Senhor – disse o Papa – retribua todo o bem feito e o acompanhe na nova missão. Obrigado, padre Nicolás”.

No centro da homilia de Francisco esteve a primeira Leitura, extraída do Livro do Gênesis, que fala de Caim e Abel.

Pela primeira vez na Bíblia “se diz a palavra irmão”. É a história de uma “fraternidade que devia crescer, ser bela e acaba destruída”. Uma história – disse o Papa – que começa “com um pouco de ciúme”: Caim fica irritado porque o seu sacrifício não é apreciado por Deus e começa a cultivar aquele sentimento dentro de si. Poderia controlá-lo, mas não o faz:

“E Caim preferiu o instinto, preferiu cozinhar dentro de si este sentimento, aumentá-lo, deixá-lo crescer. Este pecado que cometerá depois, que está oculto atrás do sentimento. E cresce. Cresce. Assim crescem as inimizades entre nós: começam com um pequena coisa, um ciúme, uma inveja e depois cresce e nós vemos a vida somente daquele ponto e aquele cisco se torna para nós uma trave, mas a trave nós que temos, está lá. E a nossa vida gira em volta daquilo e destrói o elo de fraternidade, destrói a fraternidade”.

Aos poucos se fica “obcecado, perseguido” por aquele mal, que cresce sempre mais:

“E assim cresce, cresce a inimizade e acaba mal. Sempre. Eu me distancio do meu irmão, ele não é meu irmão, é um inimigo, que deve ser destruído, expulso… e assim se destroem as pessoas, assim as inimizades destroem famílias, povos, tudo! Aquele corroer o fígado, sempre obcecado com aquilo. Isso aconteceu com Caim, e no final acabou com o irmão. Não: não há irmão. Somente eu. Não há fraternidade. Somente eu. Isso que aconteceu no início acontece a todos nós, a possibilidade; mas este processo deve ser detido imediatamente, no início, na primeira amargura, detido. A amargura não é cristã. A dor sim, a amargura não. O ressentimento não é cristão. A dor sim, o ressentimento não. Quantas inimizades, quantas rupturas”.

Na missa em Santa Marta concelebram com o Papa alguns novos párocos, e Francisco diz: também nos nossos presbitérios, nos nossos colégios episcopais: quantas rupturas começam assim! Mas por que deram a sede a ele e não a mim? E por que isso? E … pequenas coisinhas… rupturas… Destrói-se a fraternidade”. E Deus pergunta: “Onde está Abel, teu irmão?”.  A resposta de Caim “é irônica”: “Não sei: Acaso sou o guarda do meu irmão?”. “Sim, és tu o guarda do teu irmão”. E o Senhor diz: “A voz do sangue do teu irmão está clamando por mim, da terra”. Cada um de nós – afirmou o Papa, e também ele se coloca na lista – pode dizer que jamais matou alguém:  mas “se você tiver um sentimento ruim por seu irmão, você o matou; se insultar o seu irmão, você o matou no coração. O assassinato é um processo que começa com uma coisa pequena”.  Assim, sabemos “onde estão aqueles que foram bombardeados” ou “que foram expulsos”, mas “estes não são irmãos”:

“E quantos poderosos da Terra podem dizer isto … ‘Tenho interesse por este território, tenho interesse por aquele pedaço de terra, por aquele outro … se a bomba cair e matar 200 crianças não é culpa minha: é culpa da bomba. Tenho interesse naquele território …’. E tudo começa com aquele sentimento que o leva a se distanciar, a dizer ao outro: ‘Este é fulano, ele é assim, mas não irmão …’, e acaba na guerra que mata. Mas você matou no início. Este é o processo do sangue, e o sangue hoje de tantas pessoas no mundo clama a Deus da terra. Mas está tudo ligado, eh? Aquele sangue lá tem uma relação – talvez uma pequena gota de sangue – que com a minha inveja, o meu ciúme fiz derramar, quando destrói uma fraternidade”.

E esta é a oração conclusiva do Papa: “Que o senhor nos ajude a repetir esta sua palavra: ‘Onde está o teu irmão?’, nos ajude a pensar naqueles que “destruímos com a língua” e “a todos os que no mundo são tratados como coisas e não como irmãos, porque é mais importante um pedaço de terra do que o elo da fraternidade”.

 

Fonte: Rádio Vaticano

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