Um ano depois do rompimento da barragem de Fundão, a arquidiocese de Mariana lembrou dos atingidos e das vítimas com intervenções sociais e celebrações
Familiares das vítimas e atingidos se reuniram no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), para fazer memória da tragédia que devastou o local e clamar por justiça, no sábado, dia 5 de novembro. Cerca de 1000 pessoas, segundo a Defesa Civil do município, participaram do ato político e religioso, entre elas, representantes de 12 países, movimentos sociais e organizações.
Cruzes de madeira lembravam as vítimas e mudas de árvore foram plantadas como forma de homenagem e manifestação. Um culto ecumênico também foi celebrado. Durante o ato, padre Geraldo Martins reforçou que palavra da arquidiocese é de “solidariedade aos atingidos”.
Para Marcos Messias, atingido, o dia foi de relembrar tudo. “Eu nasci e cresci aqui. Voltar a Bento no dia que completa um ano da tragédia é manter vivas as lembranças desse lugar que é tão especial para nós”, afirmou.
Para o padre Geraldo Barbosa, que também acompanhou o ato, ainda há muita coisa para se fazer com os atingidos de Mariana e da Bacia do Rio Doce. “Vivemos hoje uma celebração de justiça e de fé. Nessa celebração, com as cruzes que foram ficadas e as árvores plantadas não foi simplesmente uma encenação que lá vivemos, mas uma realidade de dor e sofrimento”, ressaltou.
Uma marcha saiu de Regência (ES) no dia 30 de outubro e percorreu todo o trajeto da lama que afetou o curso do Rio Doce. O ato em Bento Rodrigues finalizou a caminhada organizada pelo Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), que também promoveu dos dias 3 a 5 o Encontro dos Atingidos na Arena Mariana.
Outro ato que marcou a memória do desastre foi organizado pelo coletivo “Um Minuto de Sirene”. A intervenção com os atingidos fez soar uma sirene, marca do movimento. Cartazes com pedidos de “justiça”, “respostas” e “não ao S4” também fizeram parte da manifestação. Na ocasião foi apresentada nova edição do jornal “A Sirene”, que tem o objetivo de criar uma narrativa de contraponto às falas da empresa Samarco, responsável pelo rompimento da barragem. O jornal é uma produção dos atingidos e é uma das principais estratégias de comunicação entre as pessoas que foram afetadas pela lama, além de fazer um resgate da memória coletiva das comunidades atingidas.
Bem-aventurados
No mesmo dia, o arcebispo de Mariana, dom Geraldo Lyrio Rocha, presidiu uma missa por ocasião da memória de um ano da tragédia. A celebração, já com a liturgia da Solenidade de Todos os Santos, teve na liturgia o trecho do Evangelho de Mateus, quando Jesus apresenta as bem-aventuranças.
A reflexão na homilia de dom Geraldo Lyrio foi conduzida por cada afirmação de Jesus durante seu sermão. Já na primeira indicação, dos “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus”, dom Geraldo explicou que a expressão “pobres em espírito”, usada pelo evangelista Mateus, não se refere àqueles que, embora ricos, são espiritualmente desapegados da sua riqueza. “Essa expressão se refere à classe pobre que, como hoje, constituía a maior parte da população da terra de Jesus, pois, além das carências materiais, os pobres a que Mateus se refere, se em encontravam em péssimas condições de vida”, afirmou.
“Estas bem-aventuranças, proclamadas por Jesus, representam uma reviravolta em relação aos valores do mundo, pois, declaram felizes aqueles que não assumem os critérios mundanos como valores em sua vida. Nisto consiste a santidade a que todos nós somos chamados”, destacou.
Ao final, dom Geraldo lembrou-se de maneira especial das vítimas da tragédia de Bento Rodrigues. “Neste primeiro aniversário do rompimento da barragem de Fundão, ao mesmo tempo em que nos solidarizamos com todos os atingidos por essa tragédia, ao longo de toda a Bacia do Rio Doce, queremos especialmente rezar pelos que morreram para que, unidos aos santos de Deus, na glória do céu, possam participar definitivamente da bem-aventurança prometida aos pobres, aflitos, mansos, aos que têm fome e sede de justiça, aos misericordiosos, puros de coração, promotores da paz e perseguidos por causa da justiça”, concluiu.
Ainda na celebração foi lida a nota da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) sobre o aniversário do maior desastre ambiental da história do Brasil e apresentado o vídeo “Lama sem Alma”.
Com informações e foto da arquidiocese de Mariana (MG)
Fonte: CNBB