O Evangelho deste 17º domingo tem uma importância especial para nós. Nele, São Lucas relata o momento em que Jesus ensina aos discípulos a oração que hoje continuamos rezando e que nos identifica como discípulos de Jesus: o Pai-Nosso. É importante destacar o contexto em que o Evangelho situa a oração. É acompanhada de uma catequese em que Jesus ilumina os discípulos sobre a perseverança da oração. Por isso, Jesus apresenta a parábola ou a narrativa do Senhor que pede pão a seu amigo porque está com uma visita. Ensina-nos, também, a confiança com a qual devemos rogar a Deus. Por isso, a parábola compara a bondade de um pai dentre os nossos e a do Pai celestial.
Além disso, a Igreja, em sua liturgia, faz com que este Evangelho seja precedido pela leitura do Gênesis, na qual Abraão intercede diante de Deus pelos habitantes de Sodoma e Gomorra, a quem Deus quer castigar por suas iniqüidades. Aí é que está a chave do tema deste domingo. A oração apresentada por Jesus não é a de quem pede de forma egoísta por seu próprio bem, mas a de quem intercede por seus irmãos. Abraão participa dessa espécie de leilão às avessas com Deus para buscar uma razão para salvar seus irmãos, os habitantes de Sodoma e Gomorra, do castigo e da morte que se avizinha deles. No início, Abraão nada tem a ver com isso. Em Sodoma vive um sobrinho seu, mas este será salvo por Deus. Com os demais habitantes das duas cidades, Abraão não tem mais nenhum laço, a não ser pertencerem à humanidade. Os habitantes são maus, por isso serão castigados, e Abraão foi escolhido por Deus para ser pai de um povo que será o fiel depositário da promessa. Abraão poderia ter ido embora e não ver o que estava para acontecer. Ou poderia ter comentado com Deus como era necessário, embora fosse triste, tomar decisões radicais para extirpar o mal da sociedade humana. Mas faz exatamente o contrário. Tenta desesperadamente salvar os que se haviam condenado por suas próprias ações. E Deus cede a Abraão. A cifra necessária de justos para salvar a cidade Ca de 50 para 10 ante a insistência de Abraão. Algo parecido se pode dizer do Evangelho, quando aquele que vai pedir os pães não faz para si, mas para dar de comer a um amigo que acabara de chegar a casa.
Poderíamos dizer que a chave da oração está no pedido de intercessão. Pedir a Deus por nossos irmãos e irmãs requer uma grande solidariedade. É que realmente, somos irmãos e irmãs, sua morte ou seu fracasso é nossa morte e o nosso fracasso. Oremos, intercedendo por eles e elas porque, se nós, que somos maus, oferecemos coisas boas a nossos filhos, quanto mais o Espírito de vida do Pai do céu, que tanto nos ama!