Reflexão sobre a palavra de Deus, para melhor vivê-la (Cf Jo 6,60-69)
A liturgia da palavra nos apresenta neste domingo a última parte do capítulo sexto de São João. Por que a Igreja fez essa opção? Por causa do conteúdo desse capítulo. Sugiro que seja meditado integral ou parcialmente, para ser melhor vivido. Para nós, essas palavras não podem ser duras como o foram para o povo da antiga aliança e para alguns apóstolos, mas suaves, consoladoras, mesmo que questionadoras. Digamos, portanto, com e como Pedro: só tu Senhor tens palavras de vida eterna (Jo 6,68).
Infelizmente, muitos pensam, ainda hoje, como aqueles membros da antiga aliança: murmuram e se escandalizam por causa da palavra de Deus (Jo6,61). Estão tristes, insatisfeitos, quando não revoltados e por isso murmuram. O povo de Deus não pode ser murmurador. Sente, sem dúvida, as dificuldades de seguidores de Cristo: é normal. A Cruz, também hoje, tem seu peso. O testemunho requer personalidade, pois o cansaço e o desanimo se manifestam na vida. Digamos então, nós procuramos viver, nossa opção: ser fiéis a Cristo crucificado, que ofereceu sua vida, por amor de nós e morrendo, ressuscitou. Venceu.
Afirma o texto que Jesus conhecia os seus. Hoje, também. Não há segredos para Ele, em nosso coração. Podemos até ser fracos, pois somos pecadores, mas não murmuradores nem falsos. Nem Judas ou traidores. Amor com amor se paga. Ninguém, é claro, se torna grande por acaso, ou de hoje para amanhã. É preciso combater o bom combate da fé, do qual fala São Paulo (2ª Tm4,7). A constância é irmã gêmea da fidelidade.
Não estamos sós. O Pai está conosco e nos atrai por seu amor (Jo 6,44.66). Jesus nos garante que a fidelidade é dom a nós concedido. É também esforço, por isso é preciso pedi-lo. Insistir. Sempre. O Espírito Santo é nosso advogado, pois defende nossa causa (Jo 16,7-14); Também Maria, nossa mãe, membra vencedora do povo de Deus, está conosco. E modelo para nossa vida. Os Santos e Santas são nossos irmãos e irmãs. São um verdadeiro exército de vencedores.
Neste quarto domingo do mês de agosto, celebramos o Dia dos Irmãos Leigos e Leigas. Que contingente: são 99% da Igreja. Eles têm invejável vocação e missão no mundo. Cabe-lhes tornar a família um santuário de amor, escola de virtudes e patrimônio da humanidade (Bento XVI). Significa transformar, filhos e filhas às vezes apáticos, em homens e mulheres conscientes e integrados na sociedade e na política que deverá ser a ciência, arte virtude do bem comum: de justiça social. Artífices de um mundo novo. A partir do que vemos e percebemos, há lugar, aliás muito lugar, para o exercício da verdadeira cidadania e do autêntico patriotismo. Parabéns, leigos e leigas: ajudai-nos a sermos mais irmãos e irmãs. Ajudai os religiosos e religiosas a serem verdadeiros consagrados, e aos ordenados, verdadeiros profetas e pastores. Já há médicos, advogados e políticos santos na Igreja, mas há ainda lugar… Procuremos o nosso e o assumamos com garra. Felicidades.
+ Carmo João Rhoden, scj
Bispo Emérito de Taubaté-SP
Presidente da Pró-Saúde