2020 – UMA ODISSÉIA SEM ESPAÇO

                    Estou passando porque tenho pressa. Todos temos. A porta é estreita, mas a vida é larga, generosa, espaçosa como o tempo. Não o passado, porque dói muitas vezes, porque assustou, porque muitos fogem dele… mas o futuro, o futuro mais que perfeito, sem pretéritos de saudades e recordações nada agradáveis. As retrospectivas foram piores do que as expectativas. Para muitos o tempo parou, o mundo parou. Tenho pressa! Todos temos.

    Estou passando. Estamos juntos. Até meu amigo Fonseca, companheiro de jornada, me acompanha graças a Deus. E desabafa aliviado: ”Vou devagar… porque carrego duas grandes malas. Na primeira vão os meus pesados pecados… Na segunda, muito mais pesada, vão os méritos infinitos de Jesus. Ao entrar no céu direi: Pai Eterno, agora podes julgar-me; e a Pedro direi: fecha a porta porque fico. (Santa Backita)”. Belas e oportunas recordações. A santidade daquela alimentando as expectativas deste ou  daqueles que ainda se alimentam com esperanças de eternidade sem dores, sem o sofrimento que nos aflige hoje.

    Estamos passando… Passamos! A agulha do camelo selecionou não os melhores, nem os piores, mas pura e simplesmente  aqueles que ganham uma nova oportunidade de continuar nesta caminhada de aprendizado constante. Vida ou morte, independência ou livre arbítrio é o brado preso na garganta dos que ainda respiram, anseiam, procuram o sentido disso tudo. Por que eu, por que você? É mais fácil passar o camelo do que o rico, o pretencioso, o que se basta por si só. É mais fácil reconhecer o impossível, o inexplicável, o mistério a envolver um presente ainda não aberto, mesmo que seu volume denuncie formas e possibilidades. Sim, o presente, sempre presente, traz consigo revelações e surpresas muitas. Como serão dias futuros, próximos anos? Depois do susto, como trilhar novos dias sem a panaceia do medo, da insegurança?

    Todos carregamos duas malas: nossos pecados e nossa fé… Importa reconhecer aqueles, mas também fortalecer aquela… A fé, a esperança, a confiança na proteção criadora e salvadora de Deus, em especial para aqueles que acreditam nos “méritos infinitos de Jesus”. Novos tempos, novos dias, exigem antes atitudes novas de vida e resoluções que mudem nossa maneira de ser, pensar, agir. Assim fazemos dos nossos fantasmas existenciais os colaboradores eficientes na construção de um mundo novo, sem traumas, sem pandemias, sem fome ou guerra… mesmo que tudo isso ainda macule a realidade que vivemos. Acreditar é o verbo. E este se faz carne, se faz alfa e ômega, princípio e fim de uma história existencial sem sentido para a grande maioria.

    Tempo e espaço sempre regeram a história humana. Tragédias e conquistas também. Por isso, um ano que foi difícil para alguns, certamente para outros foi oportunidade de vitória. Se chegamos até aqui já temos com o que nos gloriar. Demos graças. “Cuidem-se”, diz o Papa. Porque dias melhores virão, se a esperança for maior do que o sentimento derrotista, este que nos faz pequenos diante dos desafios. A vida é maior! A graça de entender e penetrar seus mistérios é dom, é dádiva de gratidão pelo simples direito de existir. O espaço que aqui ocupamos é nosso maior privilégio, seja este um hiato no tempo ou longevos anos de provações e desafios para sobreviver.

    (PS) Sobrevivemos, vencemos um ano de trevas. Muitos dos nossos não. Na travessia entre um ano e outro, nós do MEAC perdemos um dos nossos. Francisco Sobrinho, de Manaus, não resistiu ao vírus, mas venceu na fé que sempre o sustentou. Vá com Deus, irmão! Ganhamos mais um na eternidade!

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