UMA ANDORINHA NÃO FAZ VERÃO

              Ainda é primavera, é verdade. Mas as primeiras incursões de andorinhas americanas em meu quintal já anunciam o verão. Logo serão milhares, em revoada lírica sobre nossos telhados, fugindo do inverno do hemisfério norte, mas deixando aqui seus alaridos e dizendo a todos que sol e calor lhes dão energia para voos tão longínquos. Fazem-me pensar na beleza da vida e no esforço de sempre a louvar, apesar da árdua viagem longe dos ninhos. Aqui encontram mais calor, mais alimentos, luz e beleza…

              Aves migratórias seguindo o rastro do Sol! Pudéssemos também nós entender o sentido dessa viagem em nossas vidas! Pudéssemos trazer para nossa existência a lição que esse esforço inspira! Em especial neste mês missionário! Em especial quando somos convidados a refletir sobre o valor de nossa presença neste mundo, no qual temos por ideal cristão a tarefa de levar conosco a bagagem de nossa fé, a vida missionária. Não é uma tarefa que se cumpre por obrigação, mas razão de ser, essência da missão que um dia recebemos no ninho das nossas origens cristãs. Não preciso aqui repetir os refrãos que sibilam em nossos ouvidos desde a catequese, mas toma-los com mais critérios para alimentar nossa viagem neste mundo, nossos voos existenciais em busca do verdadeiro Sol, a luz que nos ilumina por completo, a razão de nossa fé. Eis pois: é Deus quem nos alimenta, nos aquece e nos revela a beleza da vida cristã.

              Mas as andorinhas nos ensinam. Uma só não faz verão. Sozinha não faz borbulhar o espetáculo de um mistério da natureza, seus voos repletos de lições de sobrevivência, de encantamento, de louvor. Quem nunca se encantou com elas? Eis que o conjunto é que faz o espetáculo. Eis que na vida missionária da igreja que somos, uma única voz soa a um grito no deserto, não convence, não revela a importância da luz que nos atrai, não faz verão. Dai a importância de uma vida missionária coesa, em sintonia com as diretrizes da Igreja, em harmonia com os ensinamentos de Cristo, em concordância com os riscos que uma viagem tão longa e misteriosa – a vida – nos faz realizar com alegria e determinação. Não importa a distância. Não importa o quadrante, o hemisfério, o terreno árido ou fecundo, mas são estes o destino onde nossa missão se realiza, permanente ou momentaneamente, para saudarmos a vida e glorificarmos seu Criador, nossa Luz.

              Unamos nossas forças nessa viagem. Deus nos guia e nos conduz em direção à vida. Sem bolsas, sem alforjes. Ensina-nos a viagens mais audaciosas em nossos planos existencialistas. Quer-nos em sintonia com Ele, confiando sempre em sua Providência. Dá-nos o alimento necessário, não só o pão de cada dia, mas igualmente o pão do céu, sua palavra em nossa boca. Assim se constrói um espírito missionário. Aberto para o mundo e para sua realidade. Confiante nos planos de Deus. Sejam estes bem realizáveis dentre os nossos, no mundinho de nossas origens ou em terras distantes, onde sua luz e sua inspiração nos guiou para também lá fazer brilhar os mistérios da nossa natureza divina. Isso tudo não é subserviência à sua vontade, mas transbordamento da verdade que domina uma criatura agradecida pelo dom da vida. Somos sujeitos da transformação que sonhamos para o mundo. Um mundo sem os cravos da violência, da corrupção, da fome e da injustiça que vemos campear em todos os hemisférios, de norte a sul, leste a oeste. Como andorinhas em revoada, a soma dos esforços individuais que nossa doutrina nos pede será a grande contribuição da presença missionária de nossa Igreja no mundo. Não menosprezemos essa força que temos, essa capacidade de transformar o mundo com nossa ação e presença, o voo missionário para anunciar novos tempos aos homens. Afinal, nossas ações concretas de fraternidade e misericórdia confirmam nossa missão: “Enviados para testemunhar o Evangelho da Paz”. Nada mais.

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