Francesca Sabatinelli – Vatican News
Era sábado à noite e cerca de 100 mil manifestantes ouviam discursos políticos e cantavam pela paz com os palestinos. Dois anos antes, Israel assinara com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) o acordo de Oslo, que previa, em primeiro lugar, o reconhecimento mútuo. Tinha como base o conceito de terra por paz: durante a fase intermediária de negociações, Israel entregaria à administração palestina territórios da faixa de Gaza e da Cisjordânia.
Às 21h30 o radical judeu, Yigal Amir matou a tiros o primeiro-ministro Yitzhak Rabin no final da manifestação. O local do assassinato, na época chamava-se praça dos Reis de Israel, a partir daquele momento foi chamada de Praça Rabin, em memória da coragem de um soldado primeiro e de um político. Com Shimon Peres e Yasser Arafat, presidente futura Autoridade Nacional Palestina, Yitzhak Rabin recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1994.
A dor de uma testemunha
Manuela Dviri, escritora e jornalista italiana, naturalizada israelense, continua com firmeza sua campanha pela vida e contra a guerra, e tem uma clara memória dos momentos dramáticos do ataque. Entrevista.
Manuela Dviri: No momento em que anunciaram a morte de Rabin, lembro-me de dizer para mim mesma: Rabin morreu pela paz, agora a paz triunfará. Eu tinha certeza disso! Também porque eu tinha visto todos aqueles jovens, adolescentes, na Praça Rabin, chorando, velas acesas por toda a praça, todos desesperados, os ministros, Peres, os generais, vi pessoas chorando que eu nunca imaginei ver chorar, e disse a mim mesmo: com certeza a paz triunfará, nós continuaremos e essa será a maneira de recordar Rabin. E ao invés nada disso aconteceu, porque no final o mal venceu, e o projeto de paz ficou bloqueado naquela ocasião.
Pode-se realmente dizer que aqueles tiros disparados nas costas por Yigal Amir mudaram a história…
Manuela Dviri: Mudaram a história para pior, porque Peres, que concorreu às eleições alguns meses depois, foi derrotado. E desde então, os representantes da paz daqueles anos, exceto por um breve período Ehud Barak (Primeiro-Ministro de Israel de maio de 1999 a março de 2001 ndr.), nunca mais voltaram ao governo e, devo dizer, foi uma grande derrota… Para mim, sinônimo de paz é vida, paz é vida, paz é boa, e em vez disso há aqueles que, ainda hoje, dizem “os delinquentes de Oslo”, assim como costumavam dizer de Rabin “o delinquente de Oslo” e hoje praticamente não se fala mais sobre os Acordos de Oslo. É muito triste admitir que venceu o mau e não o bem. Para mim a paz é o bem.
O que gerou na sociedade israelense da época e de hoje o trauma desta morte?
Manuela Dviri: Na minha opinião, Israel não fez as contas o suficiente, e isto talvez seja a coisa mais difícil de dizer, mas não fez as contas detalhadamente. Yigal Amir, o assassino, foi punido, está na prisão, mas o acordo de Oslo está dormindo, o projeto de paz é quase inexistente, o que significa que não fizemos as contas, digo isto com muita tristeza, mas é a verdade.
Um político israelense disse que o legado de Rabin é a confiança…
Manuela Dviri: É verdade, confiança, mas também coragem. Ele era um chefe de Estado que sabia muito bem o que eram guerras e que teve a coragem de dizer: “Sabemos como fazer guerras. Somos muito bons em fazê-las, mas prefiro não as fazer, prefiro arriscar com a paz”, porque a paz é um risco, pode também não funcionar. Yitzhak Rabin arriscou, quis arriscar, e pagou com sua vida.
Cerca de um ano antes da sua morte Rabin encontrou João Paulo II no Vaticano. Os observadores destacaram que ambos tinham muitas coisas em comum, eram muito humanos. Rabin, além disso, estava convencido de que o papel da Santa Sé teria uma importância cada vez maior no processo de paz do Oriente Médio…
Manuela Dviri: A importância desses momentos é que eles realmente continuaram, embora com outras pessoas. Na Praça Rabin, durante a manifestação, a pessoa mais próxima de Rabin era Shimon Peres. As relações com a Santa Sé prosseguiram muito bem precisamente através de Peres que foi, entre outras coisas, também primeiro-ministro e presidente do Estado de Israel. Em uma dessas reuniões, tive também a honra de participar, e foi uma bela reunião de paz, nos Jardins do Vaticano, (Invocação em prol da Paz, 8 de junho de 2014 na presença do Patriarca Bartolomeu I) foi uma grande alegria para mim estar lá, estavam presentes Abu Mazen, Shimon Peres, e o Papa Francisco.