A palavra vocação é entendida, na Igreja, como instrumento e caminho por onde Deus realiza seu plano de amor. Portanto, é um perfeito dom que as pessoas têm para exercer sua missão com responsabilidade. Assim aconteceu com Abraão, com Moisés, com os profetas, mas continua nos dias de hoje. Podemos dizer que uma profissão, bem desempenhada, seja verdadeira vocação, doação.
Na identidade da missão vocacional deve estar o desejo de fazer o bem, porque é doação, mas também o propósito de denúncia dos erros e falcatruas por quem impede os projetos de libertação. Todo bem tem que estar revestido do projeto de Deus, mesmo em meio aos condicionamentos humanos. Talvez aqui esteja a vocação do brasileiro, de construir um país com melhor dignidade.
Interessante que todos nós passamos, e o projeto de Deus continua. A vocação tem que ser exercida em seu tempo, e pesa sobre todas as pessoas uma porcentagem de responsabilidade. Agindo mal, as consequências ficam muito mais evidentes. É o que estamos vendo, a todo instante, na sociedade brasileira. Com a justiça divina não se brinca e todos nós teremos que enfrentá-la.
O cumprimento vocacional é dificultado pelo apego egoísta a bens materiais. Isso pesa muito na vida de nossos líderes políticos, mostrando o nível de vulnerabilidade na administração do bem público. Carregamos em nós as tendências para instintos egoístas e dificultamos a realização vocacional. Mas a vocação é convite para fazer acontecer a plena realização humana.
O Brasil é terra “onde corre leite e mel”, no dizer do profeta. País de fartura, uma especial benção de Deus. Mas as coisas são mal geridas e cuidadas sem as exigências da partilha e da fraternidade. A corrupção tem sido uma bandeira maior, mas é uma história que precisa mudar. Temos carência de lideranças mais iluminadas e comprometidas com a verdadeira libertação do povo.
Clamamos por uma sociedade governada segundo o projeto de Deus. Não é fácil fazer ruptura com as seguranças econômicas e confortos que impedem a liberdade das pessoas para agir. Defender apenas interesses pessoais não ajuda na humanização do país. É por isso que estamos numa profunda crise de identidade, impedindo o brasileiro de viver sua vocação.