Na liturgia do 5° Domingo do Tempo Comum vemos a vocação de três figuras singulares da história do povo de Deus: Isaías, Pedro e Paulo. Deus os chama, mas antes de confiar a missão inerente ao chamado, de um modo terno e afável, se revela e se dá a conhecer. Quão maravilhoso é o profeta Isaías! Em seu inaudito testemunho, ele afirma: “…Vi o Senhor sentado num trono de grande altura…”, com serafins prostrados diante de Deus em adoração e cantando: “Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos”. E, diante da incalculável grandeza e santidade, acha-se pecador e indigno, ao presenciar o próprio Deus, mas uma voz forte lhe fala: “Quem enviarei? Quem irá por nós?”. Nota-se um Isaías vencido por Deus, respondendo num instante: “Eis-me aqui! Envia-me” (cf. Is 8).
Jesus de Nazaré dirige seu primeiro chamado a Pedro e seus companheiros de pescaria, uma vez que, até aquele momento, contava com eles, mas não como discípulos assíduos ao projeto salvífico do Pai. A partir do momento em que eles descobrem a verdade absoluta de Jesus, no poder de suas palavras e na milagrosa pesca, aí, sim, ficam conscientes e dispostos para seguir o Mestre mais de perto, na tarefa de evangelizar e na palavra incisiva de Jesus: “De hoje em diante tu serás pescador de homens” (Lc 5, 10). Esse seguimento é o do desprendimento, da renúncia, acompanhado da liberdade interior, pela qual todos são convidados a se disporem a deixar aquilo que for incompatível com a proposta do Senhor Jesus, também reconduzindo suas barcas para a praia, comprometidos com seu seguimento.
Paulo fala de sua vocação de arauto do Evangelho, no mistério de Cristo, ao se revelar e se dar a conhecer no caminho e nas areias sagradas de Damasco. Pela sua atitude de humilde disponibilidade, ficou de tal modo humilhado que durante toda a sua vida se considera, não só como o menor dos apóstolos, mas como um abortivo. Oferece aos seguidores de Jesus uma resposta generosa, com seu testemunho: “É pela graça de Deus que eu sou o que sou” (1 Cor 15, 10). A nós, Igreja, comunidade dos batizados espalhada por todo o Brasil, eles querem recordar que a vida é vocação: da parte de Deus, um chamado; da dos seguidores de Jesus de Nazaré, uma resposta. Não prescindir da disposição, na confiança de resgatar o Evangelho de Jesus, força necessária para gerar fé e esperança às pessoas do nosso tempo.
Quando Deus vem ao nosso encontro e nos chama, quer que tenhamos bem claro, no exemplo acima, que nossa indignidade e nossa limitação não devem ser pretextos para não aceitar o amoroso convite de Deus, que nos criou para a grande missão de amor, e que nos ajuda na misteriosa compreensão, como no dizer de Santo Ambrósio: “Aqueles que nada tinham logrado, logo pescam uma grande quantidade de peixes em virtude da Vossa Palavra, Senhor, não sendo resultado da eloquência dos homens, mas efeito do chamado celestial”. Amém!