A liturgia celebra, neste domingo, a solenidade da Santíssima Trindade. Os ensinamentos de Jesus Cristo revelaram três pessoas divinas, mas três pessoas num só Deus. Escreve o evangelista: “Quando, vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à plena verdade. Pois ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido; (…) porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará. Tudo o que o Pai possui é meu” (João 16,13-15). Na carta aos Romanos 5,1-5, São Paulo escreve: “Justificados pela fé, estamos em paz com Deus, pela mediação do Senhor nosso, Jesus Cristo. Por ele tivemos acesso, pela fé, a esta graça, (…) porque o amor de Deus foi derramando em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”.
Portanto, o Deus revelado por Jesus Cristo é um único Deus em três pessoas iguais e distintas, o Pai e o Filho e o Espírito Santo. Para facilitar a comunicação, no começo do cristianismo, Tertuliano (160+220) criou a palavra trindade (três+unidade). A fé cristã professa: creio em Deus Pai (…); creio em Jesus Cristo (…); creio no Espírito Santo. A fé cristã é performativa e não simplesmente informativa, isto é, o que se crê orienta o modo de viver. Crer em Deus uno e trino orienta os cristãos a viverem em unidade, em comunidade e a se amarem na diversidade.
O teólogo africano Ananias Mpunzi escreve: “Deus é a unidade da comunidade e aquela comunidade requer uma igualdade das pessoas singulares e entre elas relações recíprocas. O homem foi criado à imagem de Deus e, por isso, a nossa humanidade não é soma ou a totalidade das nossas singularidades. É a unidade que une os homens na plena relação de dar e receber, relação que brota do amor que nos faz pessoas”.
Vivemos em tempos de redes, de conexões múltiplas. Quem não está conectado é classificado como analfabeto digital e tem muitas dificuldades para resolver problemas básicos do cotidiano. Por outro lado, vivemos em tempos de uma valorização quase exagerada do individual, um individualismo. Gera-se com isto uma crise nos valores comunitários e na capacidade de envolver-se com causas que vão além dos interesses pessoais. Tecnologicamente é inconcebível não estar em rede, mas em outros temas humanos procura-se o isolamento, o egoísmo. As ciências mostram claramente que o mundo não pode mais ser tratado de forma fragmentado e dividido. Todas as ações individuais humanas têm repercussões mundiais. Por exemplo, um canudinho de plástico usado na minha cidade, se não for corretamente descartado, pode agredir um ser vivo a milhões de quilômetros.
A antropologia aponta que o conceito de pessoa é relação. Falar do “eu” é possível porque existe um “tu” que permitem construir um “nós”. A pessoa é relação dialogal, é comunicação. É impossível viver sem os outros. Somos mutuamente interdependentes. Por isso a teologia católica fala da Trindade como de um só Deus em três pessoas. Existe a unidade de fundo, com uma íntima relação de comunhão entre as três pessoas.
A fé na Santíssima Trindade apresenta-se como um desafio para descobrir e transmitir a “mística” de viver juntos gerando experiências de fraternidade. Sair de si mesmo para se unir aos outros faz bem. Somos convidados a abraçar o risco do encontro com o rosto do outro, com a sua presença física que interpela, com seus sofrimentos e suas reinvindicações, com a sua alegria contagiosa permanecendo lado a lado. “Melhor ainda, trata-se de aprender a descobrir Jesus no rosto dos outros, na sua voz, nas suas reivindicações; e aprender também a sofrer, num abraço com Jesus crucificado, quando recebemos agressões injustas ou ingratidões, sem nos cansarmos jamais de optar pela fraternidade” (Papa Francisco).