Para expor uma pequena reflexão para o tempo de Quaresma, já que estamos caminhando para o seu encerramento com a Semana das Dores, eis que cito o Salmo 15,11: Senhor, Vós me ensinareis o caminho da vida; há abundância de alegria junto de vós.
Por meio de diversas imagens, Jesus nos ensina que o caminho que conduz à vida, à santidade consiste no pleno desenvolvimento da vida espiritual: fala-nos do grão de mostarda, que cresce até se transformar num grande arbusto, aonde vêm pousar as aves do céu; do trigo, que chega à maturidade e produz espigas graúdas… Esse crescimento, não isento de dificuldades e que às vezes pode parecer lento, corre paralelamente ao desabrochar das virtudes. A santificação de cada dia comporta o exercício de muitas virtudes: a justiça, a fortaleza, a laboriosidade, a lealdade, o otimismo.
Para que possam crescer, as virtudes exigem muitos anos repetidos, pois cada um deles semeia na alma uma disposição que facilita o seguinte. A pessoa que, por exemplo, já ao levantar-se vive o “minuto heroico”, vencendo a preguiça desde o primeiro momento do dia, conseguirá com maior facilidade ser diligente nos outros deveres que a aguardam, sejam pequenos ou grandes, do mesmo modo que o esportista melhora a sua forma física e a capacidade de repetir os seus exercícios quando treina com constância. As virtudes aperfeiçoam cada vez mais o homem, ao mesmo tempo em que lhe permitem realizar mais facilmente boas obras e responder rápida e adequadamente à vontade de Deus em cada momento.
O exercício das virtudes indica-nos em cada instante o caminho que conduz ao Senhor. Quando um cristão, com a ajuda da graça, se esforça para alcançar a santidade que Deus lhe pede, torna-se cada vez mais consciente de que a vida cristã lhe exige o desenvolvimento das virtudes. E é a isso que a Igreja nos convida, especialmente neste tempo de Quaresma: a crescer em hábitos operativos bons.
As virtudes humanas proporcionam sempre um novo impulso para nos desenvolvermos como homens de bem. Ainda que a santificação se deva inteiramente a Deus, Ele quis, na sua bondade infinita, que fosse necessária a correspondência humana, e colocou na nossa natureza a capacidade de acolher a ação sobrenatural da graça. Mediante o exercício das virtudes humanas – a lealdade, a serenidade, a veracidade, a pontualidade, a afabilidade e outras – preparamos a nossa alma da melhor maneira possível para a ação do Espírito Santo.
Por outro lado, as virtudes do cristão devem ser praticadas na vida ordinária, em todas as circunstâncias: fáceis, difíceis ou muito difíceis. Não podemos ficar à espera de situações ideais, de circunstâncias mais propícias para progredir nas virtudes: isso equivaleria a ir deixando passar a vida de modo vazio e estéril.
Este tempo de oração no dia de hoje pode servir para nos perguntarmos na presença do senhor: É real o desejo de identificar-me cada vez mais com Cristo? Aproveitamos verdadeiramente as incidências de cada dia para exercitarmos as virtudes humanas e, com a graça de Deus, as sobrenaturais? Procuro amar mais a Deus, fazendo cada vez melhor as mesmas coisas, com uma intenção mais reta?
Para crescermos nas virtudes sobrenaturais e humanas, necessitamos, juntamente com a graça, de uma correspondência pessoal para praticá-las até conseguirmos realmente autênticos hábitos e não simples aparências de virtude.
O importante é que nos decidamos com firmeza e com amor a procurar as virtudes nas nossas tarefas cotidianas. Quanto mais nos exercitamos nesses bons atos, maior facilidade teremos para realizar os seguintes, identificando-nos cada vez mais com Cristo.
Nossa Senhora, “modelo e escola de todas as virtudes” para os seus filhos, ensinar-nos-á a levar até o fim o nosso esforço se recorrermos a Ela pedindo-lhe ajuda e conselho, e ajudar-nos-á a alcançar os resultados que desejamos no nosso exame particular de consciência, que frequentemente terá por objeto a aquisição de uma virtude bem concreta e determinada.