“A visita do Papa Francisco ao Chiapas não será um evento folclórico a ser visto somente como uma expressão da riqueza cultural, mas para além disso, os olhos do mundo verão uma região evidentemente atrasada que não se alinha com o restante do México.” A afirmação está contida no editorial do semanário “A partir da Fé” – da Arquidiocese de Cidade do México – dedicado à “dívida do país para com os povos indígenas”.
Falta de justiça e reconhecimento
O editorial afirma que os povos indígenas precisam de uma justiça e de um reconhecimento que muitas vezes foram “atravancados” pela incompreensão e o populismo e, igualmente, “feridos por governantes e dirigentes” que especularam sobre as necessidades deles e os jogaram em condições desvantajosas de crise e pobreza.
“Nos discursos dos políticos e dos líderes – lê-se no artigo – os nossos indígenas são indispensáveis para o futuro, todavia, as políticas de reconhecimento são discutíveis, porque perduram laços históricos de desigualdade: a discriminação, as violações dos direitos humanos e o paternalismo com fins eleitorais.”
Os direitos dos indígenas submetidos aos caprichos políticos
O editorial recorda que a rebelião armada dos indígenas do Chiapas, em 1994, evidenciou que no forte impulso econômico do país naqueles anos, os povos indígenas ficaram no esquecimento.
A dura resposta do governo contra os “zapatistas” foi seguida de negociações que levaram à amnistia e à aprovação de instrumentos legislativos que, porém, não trouxeram uma paz definitiva. Nem mesmo a reforma dos direitos dos indígenas, de 2001, satisfez as expectativas.
“Os direitos dos indígenas – ressalta o semanário – são ainda sujeitos aos caprichos políticos e às manobras dos líderes que aviltam suas batalhas e aspirações, e o desenvolvimento, ao invés de ser encorajado, é submetido aos ditames neoliberais.”
Nesse contexto, o editorial denuncia que hoje, para favorecer o enriquecimento de grandes empresas e multinacionais, se coloca em discussão a possibilidade de estabelecer, em regiões pobres e marginalizadas, as chamadas “áreas econômicas especiais” para desenvolver uma economia social e privilegiar o mercado interno das comunidades indígenas.
Chiapas: uma região explorada
A revista arquidiocesana ressalta que os processos de diálogo foram sempre lentos e difícil: “Aquilo que deve ser rápido e urgente para os ricos, para os indígenas pode durar anos, e até mesmo décadas inteiras”.
“O Chiapas não é somente uma passagem de migrantes centro-americanos, é um Estado explorado em suas riquezas naturais e humanas, é um dos mais atrasados na alfabetização e no desenvolvimento humano”, lê-se no artigo.
O editorial recorda as palavras do Papa Francisco sobre a riqueza das comunidades indígenas e como a convivência entre as comunidades, mantendo cada uma a própria identidade, constitui uma pluralidade que fortifica a sociedade.
A revista “A partir da Fé” responde a isso dizendo que a reafirmação dos direitos dos povos indígenas e o respeito de sua integridade territorial servirão para valorizar e fortificar todo o México, porque “os indígenas do Chiapas são mais que uma folclórica mini marima”, o instrumento musical popular típico da região.
Fonte: Rádio Vaticano