Amados irmãos e irmãs, a liturgia deste penúltimo domingo do Tempo Comum nos convida a refletir sobre o fim dos tempos, a promessa de salvação e a vigilância necessária para vivermos à luz da fé. As leituras de hoje apontam para a plenitude do Reino de Deus, um momento que não deve ser motivo de medo, mas de esperança e preparação ativa.
Na primeira leitura, o profeta Daniel nos fala sobre “um tempo de angústia como nunca houve” (Dn 12,1), mas também nos assegura que os que permanecerem fiéis serão salvos. Daniel apresenta a imagem gloriosa dos “sábios que resplandecerão como o firmamento” (Dn 12,3), mostrando que Deus não abandona aqueles que confiam n’Ele. Este é o convite para enxergarmos os desafios do presente com olhos de fé. Em momentos de dificuldade, nossa esperança deve estar firmada na promessa divina de resgate e glória eterna. Perguntemo-nos: como temos vivido nossa fé em meio às tribulações da vida? Estamos permitindo que a angústia nos paralise ou confiamos no Senhor, que nos conduz à vitória?
A segunda leitura, da Carta aos Hebreus, nos apresenta Jesus como o único sacerdote que, ao oferecer-se como sacrifício único e perfeito, alcançou a redenção eterna para todos. “Com uma única oblação, levou à perfeição definitiva os que são santificados” (Hb 10,14). Este texto nos lembra que nossa salvação não depende de méritos humanos, mas da graça que recebemos por meio de Cristo. Ele nos chama a responder a esse dom com gratidão e compromisso, vivendo como autênticos discípulos. E nós? Como temos correspondido ao sacrifício de Cristo? Somos gratos ou nos acomodamos, esperando que apenas Deus faça tudo por nós?
No Evangelho de Marcos, Jesus descreve os sinais do fim dos tempos: “O sol se escurecerá, a lua perderá seu brilho, as estrelas começarão a cair do céu” (Mc 13,24-25). Apesar da linguagem apocalíptica, Ele não nos convida ao pânico, mas à vigilância: “Ninguém sabe o dia nem a hora” (Mc 13,32). Essa vigilância não é passiva, mas ativa e esperançosa. Não sabemos quando será o fim, mas sabemos que nosso destino está nas mãos de um Deus amoroso e fiel. Por isso, somos chamados a viver o presente com intensidade, realizando o bem e testemunhando o amor de Deus. Vigilância significa estar em comunhão com Deus, por meio da oração e dos sacramentos; praticar o bem, buscando justiça, paz e solidariedade no dia a dia; e evangelizar, anunciando o Reino de Deus com nossas palavras e ações.
Diante dessas reflexões, podemos tirar algumas lições concretas. Primeiro, devemos confiar em Deus, mesmo em tempos difíceis. A fé nos assegura que Ele está no controle e age em favor dos que O amam. Segundo, precisamos viver com propósito. Cada dia é uma oportunidade para nos aproximarmos de Deus e ajudarmos nosso próximo. Por fim, é essencial preparar-nos para o encontro com o Senhor. Isso não significa adivinhar o futuro, mas viver de forma a estar prontos para acolhê-Lo a qualquer momento. Como nos lembra o Salmo de hoje: “Vós me ensinais vosso caminho para a vida; junto a vós, felicidade sem limites” (Sl 15,11).
Queridos irmãos e irmãs, neste domingo somos chamados a renovar nossa esperança e a reafirmar nossa confiança em Cristo, que é o Senhor da história. Que, ao aproximarmo-nos do final deste ano litúrgico, possamos refletir sobre nossa caminhada e nos empenhar para estar entre aqueles que “brilharão como as estrelas, para sempre e eternamente” (Dn 12,3). Peçamos a Maria, nossa Mãe, que nos ajude a viver na vigilância e na fidelidade, preparando-nos para o dia em que Cristo virá em sua glória. Amém.
+Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)