Cidade do Vaticano (RV) – Prosseguem em Roma as atividades do 6º Fórum Mundial Migrações e Paz, promovido pelo Pontifício Conselho do Desenvolvimento Humano Integral, a Rede Internacional Scalabriniana de Migrações (SIMN) e a Fundação Konrad Adenauer.
Pré-Fórum
Segunda-feira, dia 20, os participantes se encontraram na sede da Caritas Internacional para um primeiro momento de intercâmbio. O Cardeal Cláudio Hummes, Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, convidado a apresentar uma palestra, ressaltou o tema específico da migração dos indígenas na Amazônia. Em exclusiva para a RV, o Cardeal faz uma síntese sobre a sua participação:
“No pré-Fórum, acenei fortemente sobre a questão dos índios no Brasil, onde os indígenas também estão migrando, e migrando para as cidades: uma migração muito significativa e muito preocupante, claro, porque acabamos tendo o fenômeno do ‘índio-urbano’, que fica completamente deslocado na cidade. Deslocado culturalmente, economicamente e socialmente. A grande maioria deles não encontra chances de futuro e acaba se perdendo na cidade. Dificilmente voltam depois para as suas comunidades originárias. É um problema muito grande que está se avolumando e nós precisamos criar, de fato, alguma forma de acolhida e encaminhamento destes indígenas que vão para a cidade”.
“Muito pouco está sendo feito e os índios vão se perdendo. As lideranças nas próprias comunidades falam sobre isso. ‘Nossos jovens estão indo para as cidades, estão indo atrás das luzes; nas cidades eles não têm chance… se perdem’”.
“A grande questão é ‘Por que estão indo para as cidades?’. Todos têm o direito da mobilidade humana, de decidir se vai ou não vai, é claro; ninguém pode impedir isso, mas como são acolhidos, como são acompanhados na cidade, para que possam ter um mínimo de chance, para que possam ter um futuro nesta sua opção de migrar? Então é um fenômeno da migração muito sério porque eles são muito frágeis e vulneráveis. Todos nós conhecemos, são culturas totalmente diferentes: a questão da cultura, da língua, da forma de trabalhar, enfim. Eles não encontram na cidade nenhum apoio ou muito pouco apoio nesta sua decisão de ir para a cidade”.
“Os scalabrinianos e as scalabrinianas trabalham desde as suas origens com migrações e com refugiados, etc., fazem um trabalho esplendido, uma vocação hoje atualíssima, desempenham um trabalho enorme e preciosíssimo”.
“Todos nós temos que encontrar formas de acolher os nossos indígenas que vão para as cidades, para que tenham acompanhamento ao menos da Igreja, para que a Igreja ajude a sociedade a ser mais aberta, a ser mais atenta, mais acolhedora com os nossos indígenas. Isto me parece um problema muito grave que está acontecendo na Amazônia, principalmente, mas até mesmo com aqueles que vêm da Venezuela, por exemplo agora, nesta grande crise econômica. A grande maioria são indígenas que vêm de lá, que estão passando a fronteira, entrando em Roraima e dizendo ‘lá não temos mais nada o que comer, mesmo que tenhamos dinheiro, não há comida nem remédio para comprar. Estamos chegando aqui porque morremos de fome. Roraima está sentindo este problema, é complicado”.
“Vemos gente com tanta boa vontade trabalhando nisto; acolhendo, fazendo tudo o que é possível, mas são emergências. Temos que conseguir criar uma metodologia um pouco mais profissional nisto, não apenas de emergência, mas que dê a possibilidade de acompanhar – como diz sempre o Papa – neste processo, quando eles querem ir para uma cidade. Como acompanhar o índio em seu processo de entrar numa cidade, procurar emprego, enfim, a questão cultural, a questão religiosa? Há algum atendimento religioso, inculturado? Creio que este é um problema muito importante”.
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Fonte: Rádio Vaticano