Como tudo na cultura se torna tão natural e corriqueiro, a dimensão mistérica, que dá sentido à vida, seja humana como divina, fica totalmente despercebida. Isto significa estar olhando apenas para as realidades terrenas, materiais e carnais, desconsiderando a força transformadora que vem do alto. Olha para o alto quem tem o dom da fé e vê as coisas da terra como consequência do agir de Deus.
O que chamamos de “mistério” de toda a criação, está além da capacidade de percepção do olhar humano, que só consegue ver e sentir dentro do contexto palpável do histórico da vida na terra. Para todos os cristãos, a vida e a prática humano-divina de Jesus Cristo, assumida no relacionamento com as fatalidades terrenas, proporciona perceber aspectos diferenciados e divinos nos dados do cotidiano.
Assim é a vida dos que são proclamados santos. Uns declarados oficial e publicamente pela Igreja, começando pela Mãe de Deus, Maria, com os diversos títulos relacionados a circunstâncias de localidade e proclamação, como acontece no caso de Nossa Senhora da Assunção, celebrado no mês de agosto. Muitos outros tiveram vida exemplar e de fidelidade dentro do olhar da justiça e do amor.
A literatura bíblica, principalmente no Antigo Testamento, vê como manifestação de algo divino trovões, vozes, relâmpagos, terremotos, tempestades de granizo (cf. Ap 11,19). A evolução da tecnologia entende tudo isso hoje como evidências naturais, sem alusão ao mistério dos fenômenos e dos sinais divinos. Assim temos um cotidiano com olhares voltados apenas para as evidências.
A vida divina está presente no ser humano, na pessoa, mas não fica limitada apenas à dimensão corpórea e terrena. A bíblia fala da ressurreição como passagem para a eternidade (cf. I Cor 15,21-23). Portanto, a condição de ser humano e ser divino ultrapassa a esfera de capacidade que a razão tem para entender, mesmo com o uso das ciências filosóficas e imaginárias, porque supõe a fé.
Em consonância com o real sentido da fé, ou capacidade de abandonar-se serenamente nas mãos de Deus, está a caridade como belo gesto de serviço e dedicação ao ser humano, para consolidar na pessoa a virtude imprescindível da esperança. Um ser humano sem esperança de realização futura, com apoio na providência divina, não consegue projetar vida de eternidade, além do simples humano.