Vida familiar em tempos de crises

    A nossa Arquidiocese abriu, durante a trezena de São Sebastião, o processo de beatificação dos servos de Deus Jerônimo e Zélia no sábado, dia 18 de janeiro, às 20hs, com a instalação do tribunal especial para esse fim na Igreja Matriz de Nossa Senhora de Copacabana. E na segunda-feira, depois da missa solene da festa de São Sebastião, na Tijuca, os restos mortais do casal foram oficialmente reconhecidos e transladados, em carreata, até a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, da Gávea, onde ficarão a partir de agora.
    Jerônimo de Castro Abreu Magalhães nasceu na cidade fluminense de Magé e Zélia Pedreira Abreu Magalhães nasceu em Niterói, nesse mesmo estado. Estes jovens contraíram núpcias em 27 de julho de 1876, na Chácara da Cachoeira, bairro da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro. Jerônimo estudou Ciências Humanas na Alemanha e Engenharia Civil no Rio de Janeiro.  Zélia dedicou-se desde cedo aos estudos clássicos, falava e escrevia em vários idiomas, imbuída de primorosa formação artística, literária e científica, de modo que aos 14 anos traduziu do italiano para o português a obra de Cesare Cantu “Il Giovinetto”.
    O que há de especial neste casal? O desejo de Jerônimo e Zélia sempre foi o de agradar a Deus desde o período em que se conheceram, quando na troca de olhar já ficou claro que o namoro deles seria um namoro diferente, porque eles viveram um amor verdadeiro, baseado na vida de oração. O casal educou os seus filhos para Deus, e a Eucaristia era algo que procuravam formar seus filhos e proporcionar ao povo de Deus que o cercava, construindo capelas inclusive na sua propriedade de café na cidade do Carmo, no Estado do Rio de Janeiro.
    Desse casamento nasceram 13 filhos, quatro falecidos em tenra idade, os demais (três homens e seis mulheres) abraçaram diferentes ordens religiosas, dentre eles o frei franciscano José Pedreira de Castro, professor de Ciências Bíblicas, que fundou em 1956 um Centro Bíblico e o curso de Sagrada Escritura por correspondência.
    Na Capela da fazenda onde moraram grande parte de suas vidas, inúmeras vezes ao dia o casal era visto rezando com todos os que ali trabalhavam, sendo respeitados em sua dignidade humana, e também iniciavam o trabalho do dia sempre com oração conduzida por Jerônimo e Zélia no pátio da fazenda.
    A maneira como lidavam com a situação de mão de obra na época também foi exemplar. Na fazenda, todos viviam em liberdade e recebiam, além de outros benefícios, como uma enfermaria, também o salário. Portanto, vemos como cristãos, mesmo vivendo em sistemas injustos, podem atuar de maneira diferente.
    Nesse sentido, constatamos como foi possível ao casal viver a vida cristã com todas as virtudes, residindo em região da corte imperial e mesmo nas instabilidades da mudança de regime que houve na época (Império para República). A instável situação política, social, trabalhista, cultural e religiosa da época em nada abalou a vida de santidade dessa família. Um belo exemplo de firmeza na fé em meio às tempestades da vida e da história.
    Ao longo de sua existência, este casal, amadurecido no amor matrimonial, desenvolveu várias obras de caridade e de evangelização, tornando-se exemplo de família cristã para o seu tempo e para os dias de hoje. Além dos inúmeros trabalhos sociais e religiosos tiveram um grande apreço pela formação sacerdotal, auxiliando os seminários da época.
    O casal viveu no cotidiano matrimonial e familiar a santidade própria do casamento. Eles viveram um amor fundamentado na Eucaristia e na santidade do trabalho. Tudo na vida deste casal foi feito com profundo senso espiritual, de abertura à graça de Deus, procurando viver a experiência da santidade.
    Jerônimo morreu com fama de santidade em 1909. Durante a sua viuvez, Zélia distribuiu todos os seus bens e consagrou-se de forma radical na Congregação das Servas do Santíssimo Sacramento, vindo a falecer em 1919.
    Jerônimo e Zélia são exemplos de santidade! Imitando as suas virtudes matrimoniais, nossas famílias irão compreender que a vida sem Deus é impossível. Este casal foi exemplo de “pais de comprovada virtude” e, por isso, queremos pedir a sua copiosa intercessão junto de Deus para as nossas famílias.
    O Papa Francisco, no seu discurso aos voluntários da JMJ, ressaltou a importância do matrimônio sacramental e da busca da santidade: “Deus chama para escolhas definitivas, Ele tem um projeto para cada um: descobri-lo, responder à própria vocação é caminhar para a realização feliz de si mesmo. A todos Deus nos chama à santidade, a viver a sua vida, mas tem um caminho para cada um. Alguns são chamados a se santificar constituindo uma família através do sacramento do Matrimônio. Há quem diga que hoje o casamento está “fora de moda”. Está fora de moda? [Não…]. Na cultura do provisório, do relativo, muitos pregam que o importante é “curtir” o momento, que não vale a pena comprometer-se por toda a vida, fazer escolhas definitivas, “para sempre”, uma vez que não se sabe o que reserva o amanhã. Em vista disso, eu peço que vocês sejam revolucionários, eu peço que vocês vão contra a corrente; sim, nisto peço que se rebelem: que se rebelem contra esta cultura do provisório que, no fundo, crê que vocês não são capazes de assumir responsabilidades, crê que vocês não são capazes de amar de verdade. Eu tenho confiança em vocês, jovens, e rezo por vocês. Tenham a coragem de “ir contra a corrente”. E tenham também a coragem de ser felizes!”.
    Convido a todos que sabem alguma coisa deste casal a colaborarem com depoimentos de possíveis milagres, para que em breve, caso o processo vá adiante, eles sejam elevados à glória dos altares.
    Rezemos, juntos, a oração para a Beatificação do casal Zélia e Jerônimo: “Senhor, nosso Deus, que unis o homem e a mulher pelos laços do Matrimônio, Vos pedimos, por intercessão de Vossos Servos, Zélia e Jerônimo, que se santificaram na vida do amor matrimonial, acolhendo e educando seus filhos na verdadeira Fé, no amor a Deus e ao próximo, a graça da proteção às nossas famílias. Rogamos que seguindo os seus exemplos possamos viver de acordo com o Vosso desejo, para o bem da Igreja e santificação de nossa sociedade.
    Peço-Vos por intercessão de Zélia e Jerônimo a graça que tanto necessito (…) e que eles sejam elevados à honra dos Altares. Por Cristo Nosso Senhor. Amém!”