O papa Francisco concluiu na terça-feira, 5, a viagem apostólica aos Emirados Árabes Unidos. Momentos históricos marcaram esta visita inédita de um pontífice à Península Arábica, como a assinatura do “Documento sobre a fraternidade humana pela paz mundial e a convivência comum” e a missa celebrada para mais de 180 católicos da região, que lotou um estádio de futebol.
Nesta viagem a Abu Dhabi, um momento histórico foi a assinatura do “Documento sobre a fraternidade humana pela paz mundial e a convivência comum”, cujo signatário, ao lado do papa, foi o grão imame de Al-Azhar Ahmad Al-Tayyib. O texto é marcado pela condenação ao terrorismo e à violência, principalmente quando se dizem motivadas por questões religiosas.
“Pedimos a nós mesmos e aos líderes do mundo, aos artífices da política internacional e da economia mundial, para que se empenhem seriamente em difundir a cultura da tolerância, da convivência e da paz, para que intervenham, o quanto antes, para deter o derramamento de sangue inocente e acabar com as guerras, os conflitos, a degradação ambiental e o declínio cultural e moral que vive o mundo de hoje”, afirmam no texto.
Outra declaração é que “as religiões não incitam nunca à guerra, não solicitam sentimentos de ódio, hostilidade, extremismo, e nem convidam à violência ou ao derramamento de sangue”. Essas calamidades, de acordo com o documento, “são fruto do desvio dos ensinamentos religiosos, do uso político das religiões e também das interpretações de grupos de homens de religião”. Por isso, o papa e o grão imame pediram para que cesse a instrumentalização das religiões “a fim de incitar ao ódio, à violência, ao extremismo e ao fanatismo cego, e parar de usar o nome de Deus a fim de justificar atos de homicídio, exílio, terrorismo e opressão”. E recordam: “Deus, Onipotente, não precisa ser defendido por ninguém e não quer que o Seu nome seja usado para terrorizar as pessoas”.
O texto assinado no encontro inter-religioso no Founder’s Memorial, imponente monumento com uma iluminação especial, aconteceu no ano em que se comemoram os oitocentos anos do encontro entre São Francisco de Assis e o sultão al-Malik al Kãmil. Outros pontos do texto dizem respeito ao diálogo; às fortes crises políticas e desigualdades; à família e ao “despertar do sentido religioso”; à condenação das práticas que ameaçam a vida e ao terrorismo; à liberdade de credo, pensamento, expressão e ação; a proteção aos lugares de culto; à cidadania plena; e aos direitos e dignidade das mulheres e crianças.
«Al-Azhar e Igreja Católica pedem para que este Documento se torne objeto de pesquisa e reflexão em todas as escolas, universidades e institutos de educação e formação». Esperam que a Declaração se torne um «símbolo do abraço entre Oriente e Ocidente, entre Norte e Sul».
Polifonia da Fé
A missa celebrada nesta segunda-feira lotou o estádio Zayed Sports City, com capacidade para 45 mil pessoas. Somando com a multidão pelo lado de fora, foram contabilizadas 180 mil pessoas na celebração. A comunidade católica na Península Arábica esteve representada pela “jubilosa polifonia da fé”, que engloba caldeus, coptas, greco-católicos, greco-melquitas, latinos, maronitas, sírio-católicos, siro-malabarenses e siro-malancareses.
Em sua homilia, Francisco refletiu sobre as Bem-aventuranças, que são “um mapa de vida” para os cristãos: “não pedem ações sobre-humanas, mas a imitação de Jesus na vida de cada dia”. Para o papa, as indicações ensinadas por Jesus “convidam-nos a manter puro o coração, a praticar a mansidão e a justiça venha o que vier, a ser misericordiosos com todos, a viver a aflição unidos a Deus”.
“É a santidade da vida diária, que não precisa de milagres nem de sinais extraordinários. As Bem-aventuranças não são para super-homens, mas para quem enfrenta os desafios e provações de cada dia. Quem as vive à maneira de Jesus torna puro o mundo. É como uma árvore que, mesmo em terra árida, diariamente absorve ar poluído e restitui oxigénio”, ensinou.
Na sequência, Francisco fez votos para que os cristãos da Península Arábica sejam “bem enraizados em Cristo” e prontos a fazer o bem a quem estar perto. “Que as vossas comunidades sejam oásis de paz”.