Vamos ao deserto

             O primeiro Domingo da Quaresma, tempo de caminho para celebrar a Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo dá continuidade a esse tempo de deserto iniciado na quarta-feira de cinzas. Jesus é o centro da Quaresma: é para nos unirmos a Ele no seu deserto que entramos neste caminho, é para ter seus sentimentos e atitudes e poder, assim, participar plenamente da celebração de sua Páscoa que caminhamos nestes quarenta dias de combate!. Assim devemos viver com seriedade o tempo quaresmal! Por isso é imperativo colocar-se espiritualmente a caminho para crescer naquele conhecimento interior de Jesus, conhecimento saboroso, conhecimento ungido pelo Santo Espírito, conhecimento que ultrapassa de muito o simples conhecimento exterior adquirido pelo estudo. Deste conhecimento bendito fala-nos a oração da Missa deste domingo, que pede a Deus: que ao longo desta Quaresma possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder ao seu amor por uma vida santa”.

             Na primeira leitura –  Dt 26,4-10 –  o Deuteronômio apresenta-nos o rito de oferta das primícias da colheita: ao apresentar ao Senhor Deus o fruto da terra, o israelita piedoso confessava que pertencia a um povo de estrangeiros e peregrinos, vindos de um arameu errante. O israelita fiel recordava diante de Deus a história de Israel, história de escravidão e de libertação: Meu pai era um arameu errante, que desceu ao Egito… Ali se tornou um povo grande, forte e numeroso. Os egípcios nos oprimiram. Clamamos ao Senhor… e o Senhor ouviu a nossa voz e viu a nossa opressão… E o Senhor nos tirou do Egito… E conduziu-nos a este lugar e nos deu esta terra… Por isso eu trago os primeiros frutos da terra que tu me deste, Senhor”(Dt 26). 

    O Povo de Israel recordava sua dolorosa caminha na conquista da terra prometida por Deus; por isso, oferece os primeiros frutos de seu trabalho (as primícias, o dízimo) recordando o suor do trabalho e a proteção divina. O fiel israelita adora a Deus, com sua oferenda, e reconhecia a parceria vivida com seu Deus libertador. Dízimo é, principalmente, adoração! O tempo da quaresma é também para nós a renovação do caminho do êxodo.

    Na segunda leitura – Rm 10,8-13 – Jesus é o Senhor e Ele nos salva pela fé confessada publicamente e vivida na vida cotidiana. Nós somos salvos gratuitamente pela Fé em Jesus Cristo: Todo aquele que invocar o Senhor será salvo! O apóstolo explica que, se alguém confessar Jesus como Senhor e acreditar que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo (v. 9-10). A fé é uma adesão pessoal, desde o interior humano, que se exprime nas palavras e, sobretudo, na nova vida, transformada pela experiência do batizado. Somos chamados a reavivar nossa fé acolhendo a Palavra que é o próprio Senhor e invocar o Seu nome.

    No Evangelho –  Lc 4,1-13 – Lucas nos  apresenta as tentações de Jesus, e nos ensina a combater: ele venceu Satanás ali, onde Israel fora vencido: Israel pecou contra Deus murmurando por pão; Jesus abandonou-se ao Pai e venceu; Israel pecou adorando o bezerro de ouro; Jesus venceu recusando dobrar os joelhos diante da proposta de Satanás; Israel pecou tentando a Deus em Massa e Meriba; Jesus rejeitou colocar Deus à prova. Nas tentações de Cristo estão simbolizadas as nossas tentações: a concupiscência da carne (o prazer e a satisfação desregrada dos sentidos), a concupiscência dos olhos (a riqueza e o apego aos bens materiais) e a soberba da vida (o poder e o orgulho auto-suficiente e dominador). Somos chamados a viver o deserto na grande cidade, diante dos desafios de uma época que mudou os valores e os paradigmas. Que nesse combate sejamos testemunhas da vitória de Cristo.

              Jesus foi tentado como nós, tentado por nossa causa, por amor de nós. Ele foi tentado como nós, para que nós vençamos como ele! Ele foi tentado não somente naqueles quarenta dias. O Evangelho diz que “terminada toda a tentação, o diabo afastou-se de Jesus, para retornar no tempo oportuno”(Lc 4,1-13). A tentação de Jesus foi até a cruz, quando ele, no combate final, colocou toda a vida nas mãos do Pai e pelo Pai foi ressuscitado, tornando-se causa de vida e ressurreição para nós, que N’Ele cremos, que o seguimos, com ele combatemos e o proclamamos Senhor ressuscitado.

    Neste início de Quaresma, a liturgia nos ajuda a contemplar a Páscoa. Isto porque o tempo quaresmal não é um fim em si mesmo, mas é caminho de luta e combate espiritual para bem celebrarmos, com o coração dilatado, a Páscoa. Deus o arrancou da morte; ressuscitou-o e fez dele Senhor e Cristo e quem nele crer e confessá-lo como Senhor na sua vida, encontra a salvação; encontra um novo modo de viver, encontra a paz, encontra já agora a comunhão com Deus e, depois, a Vida eterna! Assim, Israel nasceu da Páscoa do deserto; a Igreja nasceu da Páscoa de Cristo. Israel era escravo, atravessou o mar e o deserto e tornou-se um povo livre para o Senhor. Nós éramos escravos, éramos ninguém, atravessamos as águas do Batismo com Cristo, e ainda que caminhemos neste deserto da vida, somos um povo livre para o Senhor nosso Deus.

             Vamos fugir de todas as tentações do mal e do pecado com muita oração, jejum e penitência! Quaresma é para nós um tempo forte de conversão e renovação em preparação à Páscoa. É tempo de rasgar o coração e voltar ao Senhor. Tempo de retomar o caminho e de se abrir à graça do Senhor, que nos ama e nos socorre. É um tempo sagrado para aprofundar o Plano de Deus e rever a nossa vida cristã. E nós somos convidados pelo Espírito ao DESERTO da Quaresma para nos fortalecer nas tentações, que frequentemente tentam nos afastar dos planos de Deus.

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