Não obstante a modernidade com o olhar do momento, mas com projeção para o futuro, o passado não pode cair no ostracismo. O tempo passa, a história fica e se forma com o mesmo tempo. A projeção do futuro depende das experiências do passado, porque ele ajuda na compreensão das ações humanas, das transformações e permanências políticas, sociais, econômicas, culturais e religiosas.
Quem constrói a história é o povo, em situações, que podem ser altamente construtivas ou destrutivas, fazendo o bem ou o mal, mas tudo tem seu valor permanente, como experiência, que ajuda no discernimento dos atos assumidos no futuro. Moisés, no deserto, teve a visão de uma sarça em chamas (cf. Ex 3,2), servindo de indicação para os procedimentos diante do chamado do Senhor.
A Quaresma também pode ser interpretada no contexto e significado histórico, numa visão do percurso de um passado para um presente, que chamamos de conversão ou mudança de vida. Um passado de destruição, historicamente, deve se transformar numa realidade diferente e de vida nova. É uma insensatez querer construir o futuro descartando os valores que contam da história.
Os efeitos negativos, decorrentes de uma guerra, deveriam ser evitados. Não sendo assim, a história nada mais faz do que voltar às barbáries do passado. Para a cultura moderna, que tem grande capacidade de negociação, agir com os requintes destruidores do passado é passar por cima dos valores humanitários. É lamentável visualizar, pela mídia, bombas destruindo a história e a vida humana.
O povo hebreu teve um passado muito trágico durante sua permanência no Egito, mas fez um caminho corajoso e sofrido para a liberdade e defesa de sua dignidade. No projeto de Deus, a libertação estava por acontecer, mas na pessoa de Jesus, também em uma via de sofrimento, culminando com sua morte na cruz. Os fatos do passado devem ser exemplo indicativo para o futuro.
Diz o Papa Francisco que o tempo é maior do que o espaço. Significa que existe tempo para mudanças, para a superação da infertilidade e a produção de bons frutos. Isto aconteceu com a figueira improdutiva do Evangelho (cf. Lc 13,6-9). Quem permanece na mesmice e não dá passos fecundos para o bem, acaba desconectado com as possibilidades recorrentes da vida humana.