Caríssimos,
Nós estamos lhes escrevendo hoje com notícias muito ruins.
De fato, conforme a mensagem abaixo do Patriarca Louis Sako, toda a população do Iraque que não está disposta a ser submetida a uma interpretação radical e fundamentalista do Islã, como proclamado pelo Estado Islâmico (EI) – um regresso ao século VII – está para sofrer uma limpeza étnica. Yazidis, cristãos e várias etnias sunitas e xiitas ou são executados ou, no caso de mulheres e crianças, são levados como escravos e vendidos. Aqueles que têm oportunidade e meios fogem para o deserto e montanhas apenas com o que podem carregar. Esta realidade não era vista no país há mais de mil anos.
O tom do patriarca mudou: não é mais um apelo, mas uma voz profética gritando que, sem uma intervenção internacional imediata, o cristianismo milenar e o mosaico multicultural que foi o Iraque deixará de existir.
Meio milhão de cristãos, mas também muçulmanos e outras minorias fugiram do avanço dos militantes do EI, avançando para as aldeias cristãs ao longo das montanhas povoadas pelos curdos. Mas agora mesmo estas aldeias foram atacadas com morteiros durante a noite do dia 06 para o dia 07 de agosto e agora o EI controla a área.
A Igreja, diz o patriarca, está sendo chamada de todos os lados para fornecer ajuda, comida, água e abrigo para as massas em fuga. Mas nada disso adiantará se não forem tomadas medidas agora para garantir que essa população não seja exterminada. Louis Sako denuncia o silêncio de cumplicidade dos líderes muçulmanos, enquanto seu povo (sunitas e xiitas) é assassinado, sem qualquer autoridade mesmo do Iraque (exceto os esforços unilaterais da região autônoma do Curdistão) ou da comunidade internacional que vem para a sua defesa.
Nós o encorajamos a abordar esta questão com os líderes políticos e também com os líderes da Igreja, bem como apelar às Nações Unidas, dentro dos próximos dias antes que seja tarde demais. Esta é uma catástrofe humanitária. O EI cercou a planície de Nínive, o que requer medidas adicionais imediatas para proteger as minorias vulneráveis do Iraque. Pedimos a todos os esforços para criar imediatamente uma linha de proteção em torno das áreas Cristãs e Yazidi.
Temos plena consciência da tentação de analisar os conflitos armados atuais separadamente, mas devemos ver que o EI está invadindo terras na fronteira de um membro da OTAN (Turquia) enquanto mantém o avanço em direção ao Mar Mediterrâneo.
Lhes agradecemos por tudo o que têm feito e continuarão a fazer para as minorias no Iraque e continuamos esperançosos.
Atenciosamente,
Johannes Freiherr Heereman von Zuydtwyck
Presidente Executivo Internacional da Ajuda à Igreja que Sofre
Valter Callegari
Diretor Executivo Nacional da Ajuda à Igreja que Sofre
Abaixo carta na integra de Louis Raphael I Sako
05 de agosto de 2014
Carta para:
Sua Santidade o Papa Francisco
Suas Beatitudes os Patriarcas do Oriente
Suas Excelências os Presidentes das Conferências Episcopais
Os cristãos do Iraque enfrentam uma enorme tragédia.
Os cristãos de Mossul (província de Nínive, no Iraque), aterrorizados, fugiram da cidade apenas com as roupa do corpo. Suas igrejas têm sido profanadas e, no dia 2 de agosto, houve uma migração em massa das aldeias como Telkev, Batnaya e Telleskuf. A informação de que a pequena cidade de Sinjar, junto de outras aldeias vizinhas, foi tomada e setenta pessoas foram massacradas, deu origem ao pânico. Segunda-feira, 04 de agosto, o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) começou o bombardeio da aldeia de Telkef e um jovem cristão foi morto. Tendo dito isto, é evidente que não há praticamente nenhuma colaboração entre o governo central e o da região curda e, além disso, que o novo governo ainda não está formado!
Quanto aos nossos partidos políticos, eles falharam em todas as modalidades tangíveis e isso por razões bem conhecidas de todos, bem como a cada um deles.
Quanto à Igreja, ela se encontra completamente sozinha, mais do que nunca. No entanto, seus líderes são fortemente obrigados a reagir, antes que seja tarde demais, a pressionar, tanto quanto for necessário, a comunidade internacional, bem como os outros tomadores de decisão, tendo em vista as respostas fundamentais para os crimes escandalosos e as conspirações destrutivas que afetam, sobretudo, cidadãos desarmados no Iraque, na Síria e na Palestina – Gaza.
Note-se que a motivação para todas essas mortes é a cobiça por tudo o que está debaixo da terra, como petróleo e gás… o que mais explica essa guerra tão curiosamente radicalizada e, como se seguir o plano excelentemente premeditado, não leva ao menos em conta os destinos do povo.
Estamos igualmente chocados e indignados com a ausência de um forte posicionamento dos muçulmanos e seus líderes religiosos, não menos importante, porque as ações desses grupos representam uma ameaça para os próprios muçulmanos.
Na verdade, discursos não servem para nada, assim também declarações que refazem condenações e indignação; o mesmo pode ser dito para marchas de protesto. Além disso, mesmo apreciando a generosidade de nossos doadores, nós diríamos que as doações e captação de recursos também não são o que irá resolver os nossos problemas. Temos que exigir uma operação administrativa (ex.:governamentais) em grande escala internacional. Há, de fato, a necessidade de uma posição de consciência desse princípio humano simples: a demanda por ações reais e solidariedade, porque estamos diante de uma crise de nossa própria existência, enfrentando o fato de que “nós existiremos ou nós não existiremos”.
Este é um apelo do fundo do coração na busca de uma solução que está exclusivamente nas mãos da comunidade internacional e, sobretudo, às superpotências. Dirigimo-nos profundamente à consciência deles e de que eles deveriam rever suas posições para reavaliar o impacto da situação de hoje.
Esses poderes enfrentam uma responsabilidade humana e moral. Já não é mais razoável recorrer a dois pesos e duas medidas. Eles são chamados para libertar-se dos seus interesses mesquinhos e para unir-se em uma solução política e pacifista que põe fim a este conflito. Esses poderes devem vigorosamente exercer pressão sobre aqueles que apoiam financeiramente e treinam militarmente esses grupos e assim cortar pela raiz essas fontes de violência e radicalização.
Quanto aos cristãos do Iraque, em nosso ministério pastoral, também fazemos um apelo à comunidade internacional; nossos cristãos estão em necessidade urgente de ajuda humanitária, como também eles necessitam de uma proteção eficiente, verdadeira e permanente que lhes assegura que não há limite para a sua existência, cujas origens são tão profundamente enraizadas no Iraque; isso também diz respeito aos cristãos em outras regiões do Oriente Médio, que estão começando a se inflamar e a ser dilaceradas.
Apelamos também aos nossos irmãos e irmãs ao redor do mundo, para que eles também estejam verdadeiramente em solidariedade conosco no nosso tempo de sofrimento desta terrível provação; que vivam conosco esse sentimento de solidariedade, como se pertencessem à mesma família.
Precisamos de uma comunhão de coração e para as orações com nossos fiéis durante esta provação terrível como a que vivemos durante a visita da delegação de Bispos da França, presidida por Sua Eminência o Cardeal Philippe Barbarin, arcebispo de Lyon.
Continuamos a acreditar no diálogo, intercâmbio e convívio.
Que Deus nos conceda a graça e a possibilidade de superar essa provação, para que Ele remova de todos os corações todo ódio e toda violência.
Em grande união de oração,
+Louis Raphael I Sako
Patriarca Caldeu da Babilônia
Fonte: AIS (Ajuda a Igreja que Sofre)
Local: São Paulo (SP)