Jesus afirmou que Ele é a videira e seus discípulos os ramos que ligados a Ele devem produzir frutos (Jo 15,1-8). O essencial, portanto, é conservar uma união recíproca ininterrupta. Expressiva a assertiva de Cristo: “Permanecei em mim e eu em vós”. O fruto resulta desta mútua vinculação. Conforme a explicação deste Mestre divino há uma condição primordial, isto é, que suas palavras sejam continuamente vividas pelo cristão. É deste modo que o Pai atenderá as súplicas, pois estas visarão sempre a conformidade total com os preceitos de seu Filho. Donde ser preciso a escuta contemplativa de tudo que o Mestre divino doutrinou. É deste modo que o cristão se mostra inteiramente imerso no projeto do Pai vivido no cotidiano de sua existência. Verifica-se, desta maneira, uma maravilhosa circulação de amor. Por mais absorventes que sejam as atividades de cada hora, ou mesmo a dispersão produzida pela multiplicidade das ações, tudo isto não interrompe a presença do divino Redentor. Foi o que se deu com São Paulo que pôde asseverar: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”. Eis aí a marca do verdadeiro seguidor de Jesus. Torna-se o ramo que dá fruto e este fruto tem em si o penhor da vida eterna. Isso não acontece com o ramo seco que não deixa passar a seiva divina da graça. Todo cuidado é pouco porque o destino do ramo seco é ser cortado e lançado ao fogo. Há ramos que embora ligados à videira pouco aproveitam de sua seiva. Têm bela aparência, mas não são fecundos e seus frutos são uvas ruins, azedas. É o que ocorre com aquele que não procura aumentar espaços para a graça santificante que foi recebida no batismo. Só pensam nos sucessos humanos, nas ilusões terrenas. O autêntico cristão oferece a cada instante condições para que abundantemente possa correr a seiva da graça. Então surgem frutos opimos das mais variadas virtudes. Ancorado no amor a Deus e ao próximo, com simplicidade passa a existir o ramo viçoso, cheio de vida, o qual se desenvolve para o bem próprio e de toda a comunidade. É de bom alvitre estar cada um atento à presença da energia da graça dentro dele, porque certamente a cada instante está solidificada sua adesão a Cristo. Isso resultado de uma luta sem tréguas contra as tendências do egoísmo e do orgulho. As insinuações malignas de satanás podem deslustrar até as boas obras, por falta da reta intenção de fazê-las apenas para a glória de Deus e bem das almas do próximo. Donde a precaução de crescer continuamente na humildade. Por vezes, Deus permite que surjam dificuldades para testar o vigor do ramo, mas, como dizia São Paulo, tudo concorre para o bem do que ama a Deus. Este se torna um ramo de grande vitalidade espiritual, tendo compreendido plenamente a alegoria legada por Jesus. Com efeito, ao dizer que Ele é a vinha e seu Pai o agricultor, afirmou implicitamente que os cristãos e Ele vivem da mesma seiva. Os fiéis pelo batismo de fato passam a possuir a vida mesma de Deus. A solicitude do Pai para com seu Filho Jesus é a mesma que Ele devota a todo aquele que foi batizado e conserva a graça santificante. Tal dignidade, porém, exige a atenção de quem foi assim tão privilegiado. Cumpre estar vigilante para não entravar a circulação da vida divina que é como uma seiva na bela comparação de Jesus. Eis porque Ele afirmou claramente: “Sem mim nada podeis fazer”. Com Ele resultam os frutos das virtudes que gloriam o Pai. Estes frutos exigem trabalho constante. A união com Cristo é mística, mas profundamente realista. Causa alegria, mas este júbilo interior é obtido através de uma luta perseverante. O Pai como bom agricultor, cioso de frutos de qualidade, envia as provações que depuram e robustecem. Ele exige purificação contínua, para não se tornar um ramo necrosado, doentio, mas sim um ramo viçoso cheio de vida.