Michele Raviart – Vatican News
O grito dos pobres e o grito da Terra ressoaram nos últimos dias na recentemente concluída Cop26 sobre as mudanças climáticas em Glasgow. O Papa Francisco lembrou isto após a oração do Angelus no domingo (14), encorajando quantos ” têm responsabilidades políticas e econômicas a agir imediatamente com coragem e clarividência” e convidando “todas as pessoas de boa vontade a exercerem a cidadania ativa a favor do cuidado da casa comum”. Com esta finalidade Francisco abriu oficialmente as inscrições para a “Plataforma Laudato si'”, um núcleo on-line que coleta, dirige e coordena iniciativas globais e locais inspiradas na encíclica sobre os cuidados com a criação. As palavras do Papa dão um sinal de encorajamento à iniciativa, como explicou o Padre Joshtrom Kureethadam, coordenador do setor de Ecologia e Criação do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.
Como vocês acolheram este apelo?
Com grande alegria, pois é providencial que este apelo tenha sido lançado pelo Papa no Dia dos Pobres. Fiquei impressionado com o fato de o Pontífice ter recordado o grito dos pobres, dizendo que ele está intimamente ligado ao grito da terra… São precisamente esses dois gritos que também ouvimos na COP de Glasgow. A ciência é clara. O tempo está se esgotando. Já nossos irmãos e irmãs, nossos filhos estão sofrendo, especialmente nos países mais pobres. O grito deles é providencial. Isto é o que vimos na Cop e em todos estes anos, os jovens envolvidos neste campo… E então o apelo do Papa me tocou porque ele insiste na cidadania ecológica. O Papa Francisco diz: “Devemos assumir a nossa responsabilidade, todos podem dar sua contribuição”.
Para ser cidadãos ecológicos, existe a Plataforma Laudato si’. Quem pode se inscrever e quais são as iniciativas nas quais será possível participar através da Plataforma?
A Plataforma está aberta a todos, estamos todos convidados a nos tornar cidadãos ecológicos desta casa comum. Pensamos em sete setores, nos inspiramos, como Dicastério, a escolher este número, sete, porque também é um número bíblico que significa plenitude… Sete setores: famílias, indivíduos, paróquias e dioceses, escolas e universidades, hospitais e centros de saúde, o mundo da economia, que é muito importante (empresas – inclusive agrícolas – cooperativas, o mundo do trabalho); depois o setor, que é bastante vasto, das ONGs (grupos, movimentos, organizações, também centros de comunicação que têm um papel muito importante nesta área); e por fim as ordens religiosas, tanto o ramo masculino como o feminino. O primeiro objetivo é envolver todos. Depois propusemos sete objetivos da Laudato si’, e esta talvez seja a originalidade da encíclica. Respondemos ao grito da Terra, e portanto a energia, a água, a biodiversidade, mas também ao grito dos pobres, e portanto das comunidades indígenas, os migrantes, os refugiados… O terceiro objetivo: a economia ecológica. Temos que repensar nossa economia. Recordemos que também temos a experiência da “Economia de Francisco”. O quarto objetivo é a mudança do estilo de vida. Há um belo parágrafo na encíclica – escreve o Papa Francisco – sobre as coisas que todos podem fazer, até mesmo coisas simples: apagar as luzes, comprar apenas o que realmente se cozinha, usar transporte público… Coisas simples. Porque, se não mudarmos nosso estilo de vida, não salvaremos o planeta. E depois o quinto e sexto, que correspondem um pouco aos dois pilares da encíclica: educação e espiritualidade. Este é o caminho principal a seguir porque a espiritualidade é a fonte da nossa fé em Deus. E, por fim, o sétimo, que de alguma forma abrange os outros seis objetivos: que tudo isso seja feito como comunidade.
A plataforma está on-line desde maio passado. O que mudou agora com esta nova fase e qual é o balanço destes meses em que ela esteve ativa?
Sim, a plataforma foi fruto do Ano Laudato si’. Justamente no dia 25 de maio, após sua conclusão, o Papa Francisco lançou a plataforma ‘Laudato si’ em uma mensagem em vídeo. E graças às nossas parcerias, especialmente o Movimento “Laudato si”, também conseguimos criar um site em nove idiomas. Entretanto, sempre trabalhamos com working groups para concretizar estes sete objetivos. As pessoas podem fazer logo uma pré-inscrição. Já temos milhares de inscritos e continuaremos até 22 de abril, Dia da Terra. Cinco meses: a ideia é que a cada ano possamos crescer, dobrar. O tempo está se esgotando, nossos irmãos e irmãs mais vulneráveis não podem esperar mais, mas o que nos dá esperança é que podemos agir e agir juntos, respondendo ao convite do Papa Francisco para participar da Plataforma Laudato si’.