Padre Paulo Dionê Quintão*
O falecimento do CÔNEGO JOAQUIM QUINTÃO DE OLIVEIRA no dia 12 de setembro de 2016, Memória Litúrgica do Santíssimo Nome de Maria, é a expressão da síntese de seu Ministério Presbiteral traduzido numa disponibilidade que causava impressão em todos que conheceram sua faina cotidiana. Suas celebrações sempre enriquecidas pela voz nítida e firme, entoando cânticos a plenos pulmões. Isto para quem atingiu sessenta e cinco anos e dez meses de Sacerdócio. Partiu desta existência corporal, aos 94 anos de idade, entoando os louvores de Nossa Senhora. Seguindo o seu pedido foi posto junto ao seu esquife o ícone de Nossa Senhora da Conceição. A multidão entoava repetidamente: “Nossa Senhora da Conceição, ouve Mãe de Deus nossa oração… Salve Rainha, Salve Rainha, Senhora minha, Mãe de Jesus…”.
Cidadão Honorário de Viçosa, o Cônego Joaquim, descende de uma das mais tradicionais famílias mineiras, que, no século XVIII se estabeleceu em Calambau (Presidente Bernardes), oriunda de São João do Morro Grande (atual Barão de Cocais – MG). Sua vocação foi fomentada pelo saudoso Monsenhor Raimundo Gonçalo Ferreira, quando foi seu coroinha, e de quem foi sucessor como Capelão do Hospital São Sebastião nesta Viçosa de Santa Rita de Cássia.
Adotou como lema “Eis que venho, ó Deus, fazer a Vossa vontade” (Hb 10,9). Nascido a cinco de junho de 1922, em Porto Firme, ingressou no Seminário em Mariana, aos 13 anos, onde fez o curso de Humanidade, Filosofia e Teologia. Foi ordenado Sacerdote aos 27/11/1949. Exerceu seu Ministério nas cidades de Piranga (1950-1951), Diogo de Vasconcelos (1951-1963), Ponte Nova (1964,1966-1967), Barbacena (1965), Mariana (Seminário – 1967-1971), Barra Longa (1971-1979), Guaraciaba (1978-1998), Viçosa e Teixeiras, nestas duas últimas desde 1998, onde conquistou centenas de amizades por seu carisma, acolhimento e disponibilidade em tempo integral aos que o procuravam.
Discípulo missionário do Sumo e Eterno Sacerdote, incansável apóstolo da Igreja de Cristo, Cônego Joaquim nos edificou com seu longevo pastoreio na Messe do Senhor. Exímio mestre que se distinguiu pela pedagogia da presença, participando da vida do povo de modo intenso, cultivando perseverantes amizades. Configurado a Cristo Sacerdote, personificou o Bom Pastor.
A união hipostática permitiu a Jesus ter Sua Pessoa revestida de duas naturezas: divina e humana. Esta lhe deu a possibilidade de ser Sacerdote: dom e oferta apresentados a Deus. A natureza divina proporcionou caracteres infinitos à oferenda. Este foi o jeito que Deus descobriu para dar totalidade ao gesto a Ele oferecido. Qualquer oferta humana, mais generosa que fosse, seria incompleta, seja quanto à adoração, louvor, súplica ou reparação. Em Jesus Cristo, reúne-se a humanidade inteira em perfeita oferenda ao Pai, pela força do Espírito Santo.
Sustentado pelo Espírito Santo, Jesus cumpre o projeto que o Pai lhe confiara. Antes, porém, de seu retorno com a ascensão, Ele institui o sacramento do amor: a Eucaristia. A nova e eterna Aliança é o acontecimento simbólico, (no sentido de reunir tudo), de toda a missão do Verbo encarnado na história. Trata-se do propósito Divino de “reunir todos em Cristo”. Na última Ceia e primeira Missa que Jesus ofereceu, reúnem-se Sua vida e morte. Gesto de amor, manifestando a expressão do amor de Deus.
Jesus que esgotou a totalidade da Salvação em sua vida, paixão, morte e ressurreição, deu dinamicidade ao que, na verdade, é ininterrupto; a Redenção não cessa seus efeitos. Em cada pessoa, em toda a história, Ele quer reatualizar sua missão salvífica. Aqui nasce o Ministério Sacerdotal, A VIDA DO PADRE.
Ser Padre é, pois, agir in persona Christi, sendo orientado (=ordenado) por Ele para Lavar os Pés da Humanidade, ou seja, prestar-lhe o serviço da salvação. Ser Padre é entregar a vida para Jesus e, com Ele, n’Ele e por Ele, tornar-se oferta gratuita à humanidade.
Ser feliz por ser Padre não depende de prestígio popular, muito menos de status quo. Não se vincula a êxitos administrativos, sociais ou políticos; nem mesmo ao sucesso externo das ações pastorais. Depende, isto sim, de ser um com Jesus Cristo. Este último fundamento favorece a abertura à ação da graça sacramental, onde Deus age através da natureza humana e possibilita a eficácia da missão do Sacerdote como: ALTER CHRISTUS. Por isso, nenhum encargo, dentro ou fora da instituição eclesiástica, ultrapassa ou sequer alcança tamanha honra e igual responsabilidade.
Dinâmico e sempre disposto ao trabalho, Cônego Joaquim consagrou sua vida na medida certa do verdadeiro discípulo de Cristo, não visando a que as pessoas se prendessem a si próprio, colocou-se como caminho para Deus. Cingindo-se com a toalha da caridade, como servidor do Reino de Deus, deu o testemunho de UM SACERDOTE SEGUNDO O CORAÇÃO DE JESUS.
*Pároco de “Santa Rita de Cássia” – Viçosa – MG