O maior dos milagres e mistérios da fé cristã é sua própria origem: Deus se fez homem! Para tanto, uniu céus e terra. Um anjo celeste anunciou e uma virgem da terra aceitou… “Céus e terra proclamam vossa glória, hosana nas alturas; bendito o que vem em nome do Senhor, hosana nas alturas!” Tinha razão o salmista. O grande milagre da criação agora se repetia unindo céus e terra, Deus e os homens, numa segunda criação capaz de aperfeiçoar a primeira numa remissão por amor, sem limites. Era bendito aquele que vinha. E que veio.
Num primeiro momento, o anúncio levantou temores. Diante do desconhecido, do inusitado, é natural o medo, a insegurança. Mas as forças angelicais são capazes de acalmar e serenar qualquer coração conturbado. “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus” (Lc 1,30). O conforto angelical aplainou as veredas da incerteza. O sim mariano tornou-se o selo definitivo do grande pacto de amor que a concepção divina proporcionou à humanidade… Então um novo Adão ressurgiu, não mais do barro da terra, mas dos mistérios e das graças celestiais. Não mais um filho do homem, mas um “Santo, Filho de Deus”.
O anúncio evangélico foi o preâmbulo da Boa Notícia que muitas gerações sonharam ver e ouvir. Nascer, crescer e morrer era o limite estabelecido pela desobediência do Éden, o pecado que limitou a vida a um ciclo biológico sem outras expectativas além do fim e da condenação pura e simples. Agora não! Agora o sim de Maria abria um novo horizonte diante das contradições da vida sem sentido. Sim! Há uma porta de redenção a nos apontar outro caminho que não seja o das desilusões da vida e da morte. A mãe cheia de graça acolhe em seu ventre a redenção em pessoa, Aquele que venceria a morte e nos apontaria um túmulo vazio como a maior das vitórias possíveis a um humano. A ressurreição da carne e a vida eterna tornar-se-iam sua bandeira, sua nova e eterna aliança, seu pacto de amor para conosco.
O sim de Maria foi o primeiro passo nessa história. Não há como compreender o cristianismo sem respeitar e venerar esse momento sagrado. Para acontecer o milagre da redenção era preciso que os dois lados – criatura e Criador – estivessem dispostos a reescrever a história. Era preciso que Deus e os homens se reencontrassem na fertilidade da fé – tal qual a pureza da concepção sem manchas, sem interesses, sem maledicências, sem rancores, que se realizaria em Maria. “Faça-se em mim, segundo a tua palavra”! Esse foi o consentimento das graças, que os lábios de Maria proclamaram e aceitaram em nome da humanidade toda. Faça se em nós, poderíamos entender… Assim, a servidão mariana foi o primeiro passo para que Deus pudesse agir e interagir com a humanidade restaurada em sua graça. Assim, o fruto do ventre tornou-se bendito entre nós porque Maria permitiu, porque sua humildade compreendeu quão grandioso era o mistério daquele anúncio angelical. Por isso e por tudo mais é que damos a Maria o título de corredentora. Quem rejeita Maria, rejeita também seu Filho. A graça da salvação só foi possível depois que a mulher “cheia de graça” permitiu que Deus habitasse todo seu ser. E a transformasse em mãe de Deus e dos homens. Só então “o anjo retirou-se”. Ave, cheia de graça!