Tu és o Cristo

    Eis que o tempo comum avança. A Igreja caminha na história, presente no dia a dia das nossas vidas, tendo o Senhor como aquele que conduz a nossa caminhada. Nesse 12º domingo do Tempo Comum a palavra de Deus em toda sua riqueza vem nos iluminar para vivermos cada vez melhor nossa vida cristã. Temos neste mês de Junho a celebração dos santos juninos: já celebramos santo Antônio no dia, 13; celebraremos São João Batista, precursor do Messias no dia 24 e no dia 29 (no Brasil será no domingo seguinte), final do mês, a festa de São Pedro e São Paulo, quando também comemoramos o dia do Papa, grande oportunidade que temos de reforçar nossas orações pela Igreja e pelo santo padre o papa Francisco, para que o Senhor o conserve, o vivifique, o faça feliz nesta terra e não o deixe cair nas mãos dos seus inimigos.

    Que em meio a tantas festas possamos reafirmar aquilo que realmente conta em nossa vida, a busca daquele que é o centro de nossa caminhada que é Cristo, o Senhor! Providencialmente a Palavra de Deus que nos é dirigida neste domingo vai apresentar esta realidade, reafirmando nossa vivência de fé: quem é o centro de nossa vida? Em quem baseamos o seguimento de nossa história? Em que acreditamos? Em quem colocamos a nossa confiança?

    A palavra coloca com muita clareza diante de cada um de nós que é em Jesus Cristo, nosso Senhor em quem cremos, que deu sua vida por nós e que está vivo, ressuscitado e presente no meio de nós. Somos chamados a acolhê-lo, aceita-lo e perguntarmos com mais frequência como podemos anunciá-lo e testemunhá-lo no mundo de hoje, um mundo cercado de contradições e questionamentos, que nem sempre compreende o Evangelho, que vê a Igreja com outros olhos que não os olhos da fé, com abordagens meramente econômicas ou ideológicas. Eis a nossa grande missão! O próximo mês de outubro, mês missionário especial, com uma motivação maior a partir da convocação feita pelo Papa Francisco (batizados e enviados), possa nos ajudar a encontrar caminhos para uma maior coerência de vida em nosso mundo de hoje. A maneira mais eficaz de fazê-lo é o seguimento de Jesus que dá sua vida por nós, como nos aponta de maneira especial a liturgia desse domingo: crer em Jesus Cristo, mas aquele Jesus Cristo que dá a vida e está vivo e ressuscitado no meio de nós.

    O Evangelho deste domingo (Lc 9, 18-24), está dividido em três partes bem delimitadas em seu interior: O diálogo sobre a figura messiânica de Jesus, o anúncio da Paixão por parte de Jesus e o convite ao seguimento da Cruz.

     

    Começa mostrando que, enquanto Jesus orava, apresenta este grande questionamento aos discípulos: Jesus estava rezando num lugar retirado, e os discípulos estavam com ele. Então Jesus perguntou-lhes: ‘Quem diz o povo que eu sou?’ (Lc 9, 18). O Evangelho segue apresentando a resposta dada ao questionamento: Eles responderam: ‘Uns dizem que és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que és algum dos antigos profetas que ressuscitou'(Lc 9, 19). Quem é Jesus? O que dizem os jornais, a internet, as revistas, a grande mídia, as pessoas e as ideologias sobre Ele? Cada uma presenta uma visão, tentando trazer para seu próprio mundo e contexto a opinião sobre quem é Jesus. Jesus é para todos, mas infelizmente há manipulações e imprecisões. Seguramente encontraremos várias respostas a partir da consideração e da observação de cada fato ante o acontecimento Cristo. Se nos detemos a observar, não presos a uma metodologia científica, mas simplesmente observando despretensiosamente as opiniões presentes ao nosso redor sobre esse assunto, constatamos uma enorme diversidade de conceitos e opiniões.

    Há, porém, uma pergunta fundamental: Mas Jesus perguntou: ‘E vós, quem dizeis que eu sou (Lc 9, 20)?’ Independente das opiniões alheias, Jesus convida os discípulos a responder a partir de uma vivência imediata e concreta do Senhor que caminha com eles. Esta será a pergunta fundamental que a Palavra de Deus nos mostra nesse final de semana. Pergunta que parece óbvia, mas que mostra ao mesmo tempo como a lógica do amor e da misericórdia de Deus, juntamente com seus planos, superam nossas expectativas colocadas no amor e na misericórdia do Senhor.

    A pergunta de Jesus: “Quem dizem os homens que Eu sou?”, continua pedindo uma resposta a cada geração. Permanecem muitas opiniões em relação a Ele. É reconhecido como um homem que lutou pelo amor, fraternidade, paz e justiça. É admirado pela preferência em favor dos pobres: desfavorecidos, marginalizados, desprezados. É apreciado pela coragem que teve em defrontar o poder instituído, a honestidade e nobreza de alma, a sua dignidade e determinação perante a morte. Mas tal como os escribas e fariseus do seu tempo não é reconhecido como o Messias prometido. Os próprios discípulos ainda não o viam como tal. Não tinham compreendido que a Sua missão era o oposto daquilo que pensavam. Muitas vozes se levantam e muitas palavras são proclamadas por aí. Mas somos chamados a nos perguntar: qual é o nosso relacionamento concreto e pessoal com Jesus Cristo?  Embora a fé nasça pela confiança no testemunho de um outro, quem é este Senhor com quem me encontrei? Quem é Ele para nós? Como é que nós o encontramos e como somos suas testemunhas? É sempre bom recordar que os primeiros apóstolos, ao saírem para anunciar Cristo, anunciaram aos homens sua experiência viva de encontro com o Senhor. É a alegria de ter se encontrado e ter sido iluminado pelo Senhor que torna eficaz o nosso testemunho, não sendo visto como uma obra meramente humana, mas colocando o protagonismo sempre na graça do Senhor. É por causa do Senhor que fazemos o bem e nos amamos uns aos outros. Nossa ação é fruto do nosso encontro com o Senhor.

    Pedro, o primeiro Papa, tomando a iniciativa, responde: ‘O Cristo de Deus.’ Lucas apresenta o episódio da confissão de fé de Pedro dentro do contexto da oração de Jesus, uma atitude que está presente nos momentos transcendentais de seu ministério. A palavra Cristo significa Ungido, sendo um nome de honra e de ofício. O Antigo Testamento nos conta que eram ungidos os sacerdotes, os reis e os profetas, ungidos pela dignidade de seus cargos. Cristo, ao vir ao mundo, recebe as funções de Sacerdote, Profeta e Rei, e por isso pode ser chamado de Cristo.

    Responde que é o Messias, o Deus conosco. Embora Jesus reconheça a ação da Graça que faz com que Pedro tome esta atitude, Jesus apresenta a conveniência de que esta mensagem ainda não seja propagada, pois primeiramente é necessário passa pelo caminho da cruz: “Mas Jesus proibiu-lhes severamente

    que contassem isso a alguém. E acrescentou: ‘O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia.’ Só após a experiência do Senhor que morre e que dá a vida é que os apóstolos poderão tornar-se as testemunhas. E o Senhor ainda acrescenta mais: Depois Jesus disse a todos: ‘Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la;

    e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará (Lc 9, 23-24).Os que seguem a Cristo são chamados também eles a entregar a própria vida e a descobrir que, quanto mais se entrega a vida, mais se tem vida. Falar de Jesus supõe tê-lo encontrado e ter feito também de nossa vida Páscoa, passagem da morte para vida, carregando nossa cruz e deixando que a presença do Senhor nos glorifique, vencendo em nós nossos pecados e nossas mortes.

    O Senhor profetiza sua paixão e morte para assim fortalecer a fé dos seus discípulos, ao mesmo tempo que mostra a aceitação voluntárias dos sofrimentos vindouros.

    A resposta dada por Jesus ante a proclamação de Fé por parte de Pedro mostra que a missão de Cristo passa pela cruz. Quem quer seguir Jesus não pode contar ou esperar outro caminho. A paixão e a cruz são episódios chave na vida de Cristo, e por isso são também realidades fundamentais para a vida dos cristãos. Já lembrava o padroeiro dos Padres, são João Maria Vianney: “Aquele que ama os prazeres, que busca somente comodidades, que lamenta exageradamente ante o sofrimento, que se inquieta, que murmura e se impacienta porque as coisas mais insignificantes não saem de acordo com suas vontades e desejos, há de redescobrir a eficácia do caminho da cruz”.

    O senhor acrescenta que o cristão deve renovar a tarefa de levar a cruz a cada dia, pois cada momento pode ser o momento propício para a chegada da salvação.

    A primeira leitura, (Zc 12, 10-11; 13,1), vem dentro de um contexto denominado Oráculos de Restauração. Tais oráculos vêm apresentado apontando a uma realidade futura, de tal forma que podemos dizer que eles nos falam de um tempo escatológico. Este tempo virá marcado por um profundo tempo de penitência e arrependimento em Jerusalém, suscitados pelo Espírito de Deus. Esse arrependimento é consequência da morte dada a um homem caro ao povo. Não se sabe quem foi historicamente este homem transpassado. A misteriosa morte desse personagem tem efeitos parecidos aos do Servo do Senhor citado em Isaías, pois a partir dele Judá e Jerusalém vão encontrar a expiação do pecado e abandonar a idolatria, ou seja, sua morte significou um novo início, conversão e volta pra Deus.  Podemos ver nesta figura tão lamentada uma alusão à figura de Jesus Cristo pregado na cruz. Outra característica dos tempos escatológicos será também a purificação do povo mediante a água de uma fonte extraordinária colocada por Deus que apagará seus pecados e suas impurezas. Esta purificação é uma purificação interior, uma purificação do coração, consequência da nova aliança que Deus há de fazer com seu povo. A Liturgia deste domingo vai relacionar esse texto com a predição da Paixão de Jesus.

    O salmo de resposta (62), expressa o desejo da alma do salmista de encontrar  Deus, de contemplá-lo; o salmo recorda a constante experiência que o salmista teve no Templo, estando diante da presença de Deus. O desejo inicial parece ter levado à esperança segura, conforma relata o final do salmo.

    A segunda leitura (Gl 3, 26-29) vai nos mostrar que todos somos um só, revestidos de Cristo, unidade que está amparada na Filiação Divina. Somos um só.  Apresenta a relação da Lei Antiga com as realidades da Nova Aliança. A lei foi dada por Deus como um pedagogo para guiar os homens a Cristo. Com a redenção de Cristo, o homem se vê livre da necessidade desse pedagogo. Pela fé em Cristo e pela imersão no batismo o homem se faz filho de Deus e se reveste de Cristo. A partir desse momento desaparece toda diferença entre aqueles que creem; todos passamos a ser descendência de Abraão e participantes das promessas divinas.  Não há mais do que uma raça: a raça dos filhos de Deus. Não há mais que outra língua senão a língua que nos dá a conhecer Deus e a nos amarmos uns aos outros.

    Portanto, cabe a nós pedir ao Senhor que sejamos testemunhas de Cristo, que sejamos revestidos de Cristo. Aquilo que fazemos e anunciamos seja, através de nossa vida, testemunhando de que seguimos a Cristo, levando nossa cruz de cada dia, dando sinais de que cremos nele seja nos momentos da alegria da ressurreição como nos momentos da tristeza do calvário e da cruz. Que os homens reconheçam que nele está a vida do mundo. Que os homens reconheçam que o sentido da vida está em ser outros Cristos, ipse Christus, aquele que veio, é Messias e Senhor. Que essa palavra possa entrar no coração de cada pessoa ao participar desta celebração. Que Maria, a primeira grande missionária do Pai, nos acompanhe nesse caminho de encontro e de comunicação da presença do Senhor.

     

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