Se, por um lado, a ganância e o desperdício são sempre pecados, por outro, nem todo mundo precisa fazer um voto de pobreza
O Papa Francisco mandou chamar um bispo alemão a Roma recentemente e o suspendeu do seu cargo, enquanto uma investigação sobre as suas despesas estiver em andamento. Dom Franz-Peter Tebartz-van Elst é acusado de ter gasto 43 milhões dólares reformando seus escritórios e sua casa.
Enquanto isso, o Papa Francisco trocou o Palácio Apostólico por uma modesta suíte na casa de hóspedes do Vaticano, disse que se sente mal quando vê um sacerdote ou uma religiosa com um carro luxuoso, e pediu para o clero que viva com simplicidade. O Papa Francisco leva a sério seu voto jesuíta de pobreza e o nome que tomou de São Francisco, quem amava a “Senhora Pobreza”.
No entanto, nem todos os padres e bispos fazem voto de pobreza. A maioria dos sacerdotes católicos faz parte do clero diocesano; eles prometem obedecer seu bispo, mas não fazem voto de pobreza.
O direito canônico tem algumas diretrizes claras para o clero sobre a riqueza, no cânon 281, 1: “Os clérigos, quando se dedicam ao ministério eclesiástico, merecem uma remuneração condigna com a sua condição, tendo em conta tanto a natureza do seu múnus, como as circunstâncias dos lugares e dos tempos, com a qual possam prover às necessidades da sua vida e à justa retribuição daqueles de cujo serviço necessitam”.
Um padre pode herdar a riqueza de uma família, investir sua fortuna em ações e títulos, e receber o lucro por outras tarefas ligadas à sua vocação, como falar ou escrever.
Porém, ainda que eles sejam abençoados com mais riqueza, não se espera que os padres vivam vidas de luxo, extravagantes. O cânon 282,1 diz: “Os clérigos cultivem a simplicidade de vida e abstenham-se de tudo o que tenha ressaibos de vaidade”. Férias extras, roupas caras, moradia extravagante e carros de luxo não são incentivados. O cânon 285, 1 afirma que o clero deve evitar tudo o que é inconveniente para o seu estado de vida.
Portanto, um padre ou um bispo podem desfrutar de uma boa vida, mas devem evitar extravagâncias e excessos. Todas as suas necessidades devem ser atendidas de forma adequada e modesta, para que eles não tenham preocupações materiais. Sua principal preocupação é servir ao Senhor. Eles podem desfrutar de atividades de lazer adequadas e, se seus meios permitirem, não há nada de errado em possuir e desfrutar dos prazeres materiais modestos.
A maioria dos sacerdotes que conheço vive um estilo de vida modesto e despretensioso. No entanto, outros não. Apesar da instrução para “cultivar a simplicidade de vida”, por que tantos de nossos padres e bispos ainda vivem de maneira extravagante? Eles caíram na armadilha da vaidade, da ganância e do materialismo, como tantos outros em nossa sociedade.
Ganância, vaidade e materialismo não se limitam ao clero. O convite clerical a “cultivar a simplicidade de vida” é uma forma de ser um exemplo para todos os cristãos. Os leigos não são chamados à pobreza, mas são chamados a ser bons administradores de sua riqueza, e todos os cristãos são chamados a evitar o materialismo, a ganância e as ciladas das grandes riquezas.
Contrariamente à opinião popular, no entanto, isso não significa que os leigos precisam ser pobres ou dar todo o seu dinheiro aos pobres. Eu sou da opinião de que os leigos devem acumular todo o dinheiro que puderem. Se um homem tem o dom de fazer dinheiro, ele deve trabalhar duro, ser perspicaz, fazer negócios de forma honesta, e ganhar o máximo de dinheiro que puder. Depois, deve se perguntar para que serve tanto dinheiro.
Um leigo que reúne uma grande quantidade de dinheiro pode usar esta bênção para avançar no serviço do Senhor. Imagine o que a Igreja poderia realizar se os ricos usassem a sua riqueza para fazer o bem no mundo! Construiríamos novas igrejas e escolas. Construiríamos clínicas para as mulheres com gravidez de risco. Serviríamos os pobres com as escolas e os programas de assistência à educação. Construiríamos casas de repouso para idosos. Financiaríamos filmes, emissoras de televisão e estações de rádio para anunciar o Evangelho. A lista é imensa.
E se os leigos ricos trabalhassem com os clérigos pobres para realizar grandes coisas para Deus? Muitos filantropos católicos oferecem quantidades generosas, mas… e se todos nós vivêssemos dessa maneira? Se o clero liderasse pelo exemplo e promovesse a simplicidade de vida, então os leigos poderiam responder com essa generosidade radical que caracterizou os católicos ao longo dos séculos.
Uma das razões pelas quais os leigos não são tão generosos quanto antes talvez seja porque os padres estão vivendo luxuosamente.
Local: São Paulo (SP)
Fonte: ALETEIA