TERRA ARRASADA

                Diante de mais uma conferência internacional sobre o clima, desta feita no Egito, região desértica por onde passa o maior rio do mundo, estamos chegamos ao final de mais um ano litúrgico, quando a Igreja nos apresenta o mais enigmático dos Evangelhos de Cristo. Enigmática a mensagem ou as circunstâncias? Não à toa, nosso Brasil também vive seu histórico momento de mudanças e cenário de guerra, destruições antagônicas. Dono da maior floresta do mundo e observado como o grande pulmão desse planeta com ares de terra arrasada, dividido em um caos político-social sem precedentes em sua história, eis que também aqui se presencia uma espécie de destruição de nossa Jerusalém terrena.

                O fato histórico é que nos anos setenta depois de Cristo a cidade de Jerusalém tornou-se uma terra arrasada, com a invasão do exército romano para conter uma revolta judaica. Não ficou pedra sobre pedra, como predissera Jesus: “Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que essas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim” (Lc 21,9). De fato, a profecia se cumpriu e, ironicamente, do belo e portentoso templo restou apenas uma parede, um muro, hoje denominado o Muro das Lamentações! Sintomático esse desastre histórico-religioso. “Essa será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé”. Essa ainda hoje é a grande herança da fé judaico-cristã, que desde então tem no espólio de uma era de glórias terrenas a grande referência de sua predileção divina. Restou-lhes tão somente lamentar uma soberania perdida!

                Nada diferente dos dias atuais. Ainda somos donos de riquezas infindas, de templos simbólicos de graças naturais e ou cívicas capazes de fazer inveja a muitos. Ainda possuímos raízes de uma fé inquebrantável e transformadora, capaz de ressurgir das cinzas e dos assustadores túmulos que a humanidade constrói para si própria, à medida que ações devastadoras de morte e destruição se sobrepõem à fé e esperança dos que buscam novo sentido para a vida ou simplesmente lutam pela sobrevivência. Essa fé está posta contra os muros do egoísmo e do hedonismo que toma conta. “Sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos”, já previa o Cristo. E concluía: “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” E ponto.

                Então não há motivo para temer eventual destruição de uma Jerusalém terrena. Sobra-nos a Jerusalém-celeste, a cidade do alto onde impera a harmonia e a plenitude das graças e glórias celestiais. Nisso acreditamos como povo eleito de Deus. No entanto, nem por isso vamos cruzar os braços e permitir que a mão destrutiva das ambições humanas recaia sobre o paraíso terreno que aqui temos. O exército de Tito foi capaz de saquear e arrasar apenas um símbolo transitório da fé humana, o Templo, mas nenhum exército das forças que nos governam hoje será capaz de destruir o Templo de Deus que ainda somos. Atentem para essa verdade os filhos diletos da fé cristã, que ainda temem eventuais saques ou destruições hipotéticas contra sua Igreja ou família. Nosso Inimigo é forte, mas nosso Deus é maior! A terra arrasada que hoje contemplamos ainda possui o brilho de um Sol radiante e um céu azul donde fluem as chuvas de graças e bênçãos que nos revitalizam constantemente. “Destruam esse templo e eu o reconstruirei em três dias”, disse Jesus.

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