Foi com um cântico em português que se iniciou, esta manhã, o primeiro tempo de oração do encontro “Por uma Nova Solidariedade”, que a comunidade monástica de Taizé promove até domingo na pequena aldeia da Borgonha (França).
As cerca de quatro mil vozes presentes esta semana na colina entoaram “Cantarei ao Senhor enquanto viver, louvarei o meu Deus enquanto existir, nele encontro a minha alegria”.
Esta semana especial em Taizé assinala três datas importantes: o nascimento do fundador, o irmão Roger, há 100 anos, os 75 anos da sua chegada a Taizé, em 1940, e os dez anos da sua morte.
Centena e meia de debates e ateliês aprofundam o tema da solidariedade em diferentes áreas – economia e política, espiritualidade e vida interior, arte e cultura, diálogo inter-religioso, ecologia e justiça, migrações e saúde, por exemplo.
Esta é uma semana diferente, mas desde Maio que a comunidade propõe diferentes iniciativas para assinalar este ano de aniversários.
A primeira delas foi a comemoração do aniversário natalício do irmão Roger, que reuniu muitas pessoas das vizinhanças de Taizé numa oração e num convívio com os monges da comunidade.
No início de Julho, cerca de 350 jovens monges e monjas, católicos, protestantes e ortodoxos originários de 52 países debateram e refletiram sobre a atualidade da sua vocação; e daqui a três semanas, terá lugar um colóquio sobre o pensamento teológico do irmão Roger, para o qual contribuirão essencialmente teólogos com menos de 40 anos.
Também pela primeira vez desde há décadas, os irmãos da comunidade que vivem em pequenas fraternidades nos diferentes continentes estão em Taizé.
A centena de monges reúne-se, assim, durante alguns dias, e estes irmãos – em comunidades situadas em países como o Brasil, o Quênia ou o Bangladesh.
Para este Verão diferente em Taizé, o irmão Alois, pior da comunidade desde há dez anos, preparou uma mensagem especial: “A humanidade atravessa um período de transição difícil e de destino incerto”, escreve.
No texto, disponível no sítio de Taizé na internet, o sucessor do irmão Roger acrescenta: “Há pessoas que fixam o seu olhar nos aspectos negativos, ao ponto de perderem a esperança.”
E acrescenta alguns dos problemas que a humanidade vive: “movimentos de populações, desastres ambientais, desigualdades, desemprego em massa, violências…”
A mensagem propõe, no entanto, um olhar de esperança sobre a realidade: “Outros sabem ver novas manifestações de vida: frágeis ainda, mas muitas vezes levadas por uma criatividade incrível, mostram que o ser humano não foi feito para o desespero. As crises podem libertar energias de que não se suspeitava e podem juntar vontades.”
São exemplos de energias libertadas que estes dias serão debatidas em Taizé.
Seis euro deputados, uma centena de responsáveis de diferentes igrejas – entre os quais o patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente –, membros de organizações de solidariedade ou de promoção dos direitos humanos estão entre as dezenas de convidados que animam os ateliês propostos até domingo.
Na tarde desse dia, quando se completam precisamente dez anos sobre a morte do irmão Roger, uma oração ao ar livre reunirá perto de sete mil pessoas. Será esse o momento culminante desta semana e deste ano aniversário.
“Deus de compaixão, agradecemos-te pela vida do irmão Roger”, escreve o irmão Alois, na carta citada. “Num mundo tantas vezes dilacerado pela violência, ele quis criar uma comunidade que fosse parábola de comunhão.”
A proposta de Taizé e do irmão Alois para o próximo ano é a da misericórdia: “Redescubramos a bondade de Deus e a bondade humana; elas são mais profundas do que o mal! Através delas, atingimos o coração da mensagem de Cristo. Foi neste espírito de Evangelho que o Papa Francisco lançou um ano da misericórdia: todos são chamados a refletir, através da sua vida, o perdão e a compaixão sem limite de Deus.”
A arte também tenta concretizar esta mensagem: à porta da Igreja da Reconciliação, o centro da vida de Taizé, dois grandes painéis estavam hoje a ser colocados, com as palavras “alegria, simplicidade, misericórdia”, escritas em diversas línguas.
E, pela primeira vez na arte dos ícones, um ícone de Jesus misericordioso, que representa as diferentes cenas da parábola do bom samaritano, está também no lugar de honra, no altar da Igreja da Reconciliação.
Na sua carta, o irmão Alois conclui: “És tu mesmo posto à prova? Cristo olha para ti com bondade. Ele cuida de ti como de toda a humanidade. O seu rosto de amor é-te por vezes revelado através de uma pessoa desprezada, tal como este estrangeiro, o Samaritano.”
Fonte: Agencia Ecclesia