Submissão à vontade de Deus

    Perante os enigmas misteriosos da existência humana, para que o cristão possa crescer espiritualmente, nada mais aconselhável do que a total entrega nas mãos de Deus. Esta sábia atitude ante todos os acontecimentos é a imitação perfeita de Jesus e a vivência de suas palavras, repetindo-se com Ele a cada passo: “Sim, Pai, porque assim foi de teu beneplácito” (Mt 11,26). Em absoluto tal comportamento conduz ao quietismo ou a um mórbido conformismo. Com efeito, o cristão faz sempre tudo que está a seu alcance e, deste modo, quando surgem as provações enviadas pela Providência, não se perturba nem se revolta. A conformidade com a vontade divina é arma poderosa por entre as inevitáveis tribulações inerentes ao exílio terreno. Percebe-se então que “sofrer passa, o ter sofrido, submisso a seu Criador, permanece para a eternidade”.  Fica assim o cristão em estado permanente de oração quer nos momentos de paz, quer nos instantes de sofrimento físico ou moral. É capaz de passar de provas em provas, ainda que enfrentando tormentos e angústias. Ainda que destituído de todo apoio e de toda a consolação não desfalece. A docilidade com que se põe ante os desígnios divinos o projeta a notáveis conquistas nas sendas da perfeição. Muitos são aqueles que atingem desta forma grande grau de crescimento interior.  Vão aumentado o sacrifício de seus próprios interesses, sacrificante decididamente o amor-próprio, a soberba com todas as suas terríveis consequências.  Atingem o degrau sublime da oferta de tudo a Deus. Compreendem que o amor a Deus não existe separado de uma fé profunda e de uma inabalável esperança nas promessas de Cristo. É que as três virtudes teologais aperfeiçoam uma a outra. Por tudo isto o cristão se torna útil e benfazejo. A paz que irradia por toda parte influencia decisivamente o próximo, arrastando-o também para a submissão total a Deus. Dilata-se, desta maneira, a vida sobrenatural dentro do Corpo Místico de Cristo. Oferecendo tudo a Deus, nada a Ele recusando, o cristão se enriquece, se torna luz, iluminando todos que se acham em seu derredor. Não é fácil a inteira disponibilidade que conduz a estas maravilhas operadas pela adesão à graça. Para Deus, porém, nada é impossível para as almas de boa vontade. Note-se que, o autêntico discípulo de Cristo o qual não se submete às ilusões terrenas goza de uma ventura que o mundo não pode nunca oferecer. Está no mundo, usufrui de tudo de bom que o avanço científico oferece, mas não se deixa jamais escravizar por aquilo que afronta a sabedoria de Deus. Como muito bem se expressou Lacroix, “o grande mal do mundo e fonte de todo mal é a independência de Deus que o homem tenta,  a autonomia ou liberdade que ele se arroga contra a lei divina”. Toda resistência ao Criador só pode trazer desgraça para o ser humano. Nada engrandece mais a criatura racional do que a sujeição amorosa à autoridade do Todo-poderoso Senhor. Aí está a solução fundamental da vida espiritual. Fazer girar tudo em torno de Deus que deve ser o centro de todas as ações. Bem se expressou Graef ao asseverar: “Somente na medida em que fizermos o vácuo em nós é que o amor de Deus se instalará nele”. Feliz o que no íntimo de seu coração oferta a Deus o seu trabalho cotidiano e suas cruzes. Jesus foi claro: “Por vossa paciência constante, salvareis vossas almas” (Lc 21,19) Realmente, “temos que sofrer com Cristo para sermos glorificados com Ele” (Rm 8,17) É preciso colocar o passado e o futuro entre parênteses e viver intensamente o presente. O passado com seus erros Deus o envolve na sua misericórdia infinita, desde que o arrependimento seja sincero. O futuro a Ele pertence. Deste pedacinho de eternidade que é o instante atual é o ser racional senhor absoluto, mas muitos não sabem tirar dele todo o proveito. Cumpre, portanto, estar continuamente unido a Deus, frui-lo amorosamente, conhecendo-o cada vez melhor e coisas maravilhosas acontecem. São Paulo advertiu: “Eis o tempo favorável, eis o dia da salvação” (1 cor 6,2). Eis por que é necessário rezar com convicção o que está na oração que Jesus nos ensinou: “Seja feita a vossa vontade” (Mt, 6,10). Muitas vezes se esquecem que os caminhos pessoais. não são os caminhos de Deus (Is 55,8).

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