Solenidade de todos os santos

    A solenidade de Todos os Santos fixa antes de tudo a atenção nos Santos que já se acham no céu. Lá junto do trono de Deus cujos louvores cantam para sempre eles  se tornam poderosos intercessores pelos que ainda se acham neste exílio terreno. São um apelo para que não se perca o rumo da felicidade eterna que já conquistaram. Por isto a narrativa das Beatitudes apresentada por São Mateus indica o caminho a seguir nesta vida terrena para que se possa um dia recolher os frutos cotidianamente plantados. A colheita será abundante, se houver a pobreza de espírito, que é o desapego dos bens terrenos. Cumpre ainda diante das tribulações aspirar pelas consolações perenes no Reino Eterno. É preciso, igualmente, ter cultivado a mansidão, ter tido fome e sede da justiça, ostentando sempre muita misericórdia e irradiando paz por toda parte. Aqueles que foram perseguidos por causa da justiça e foram injuriados e injustamente difamados por serem de Cristo, tudo suportando com paciência, estarão no rol dos eleitos. Não menos importante a pureza dos corações, porque esta é também uma condição primordial para se contemplar o Deus três vezes santo. As bem-aventuranças são o retrato falado de quem um dia entrará na Cidade dos Santos. Traçam um caminho e ostentam uma ilustração da santidade. A caminhada do cristão rumo à eternidade é marcada pela perfeição que torna o batizado semelhante a Deus. O Batismo, de fato, confere esta vocação para um estado de vida no qual continuamente se busca a prática de todas as virtudes, numa abominação contínua de todos os vícios. O culto da verdade, o uso da liberdade com responsabilidade e a chama crescente do amor a Deus e ao próximo são os pilares desta perfeição. Trata-se do cumprimento exato dos deveres religiosos e profissionais dentro da observância ininterrupta dos dez mandamentos dados pelo Criador. Deste modo a solenidade de Todos os Santos deve levar a cada um a se interrogar sobre como tem vivido esta vocação para a santidade, a se examinar sobre a capacidade de renunciar a si mesmo, vivendo, porém, numa segurança total pela confiança na graça divina. Cumpre que o cristão se desembarace de tudo que pode entravar as exigências do Evangelho. É necessário sair da rede do egoísmo e do individualismo que limitam a participação ativa no crescimento da comunidade em que se vive. Uma luta perseverante contra a baixa estima e numa convivência harmoniosa com o próximo com o qual se deve ter uma relação sincera. Arremessar para longe toda indolência que impede a ajuda aos outros para os quais devem estar disponibilizados o tempo e os talentos recebidos de Deus. É deste modo que se vive o espírito das Bem-aventuranças, afastando os obstáculos às sendas da santidade. Além de tudo isto, é mister denunciar a hipocrisia dos poderosos, a injustiça social, o enriquecimento ilícito dos corruptos para não se estar mancomunado com a falta de ética com todos os desvios que prejudicam os cidadãos. Não se deve silenciar perante os interesses mesquinhos dos ambiciosos que massacram seus semelhantes. Não chegará à cidade futura do céu, quem não se interessar pelo o bem comum na cidade atual na qual se vive. Por tudo isto o caminho da santidade não é fácil. É uma luta com as armas do amor com as quais se pugna pela ventura comum dentro da liberdade dos filhos de Deus. Ser santo significa vencer as invectivas do mal, irradiando imperturbabilidade e serenidade onde se vive. Portanto a solenidade de Todos os Santos engaja os fieis no cotidiano até o dia em que com Maria, com todos os Santos que conquistaram o céu e entre eles tantos entes queridos com os quais convivemos nesta terra, conheceremos a eterna beatitudes na visão beatífica do Ser Supremo. Deus é santo e seu mistério se tornaria inacessível ao homem finito, limitado, se o Eterno não tivesse decidido desde toda a eternidade que fossemos participantes de seu próprio mistério. São Paulo bem explicou esta realidade: “Ele nos escolheu em Cristo, desde a fundação do mundo, para que fossemos santos e irreprocháveis sob seu olhar, no amor” (Ef 1,4). Como membros do Corpo Místico de Cristo os batizados participam da santidade do Corpo eclesial de Cristo. e será assim possível estar um dia juntos de Todos os Santos na glória do céu. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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