Solene Vigília Pascal da Ressurreição do Senhor

    “Senhor, tens palavras de vida eterna” (Sl 18B/19)

     Celebramos no Sábado Santo, a partir das 18h, a solene Vigília Pascal da ressurreição do Senhor. Jesus ressuscitou no sábado para o domingo de madrugada e a Vigília, na verdade, deveria ser celebrada na madrugada, mas devido à realidade pastoral de nossas comunidades, a Vigília pode ser celebrada ao cair da tarde, após o pôr do sol, por volta das 18h.

    Todo cristão católico deveria participar dessa Vigília, que é mãe de todas as vigílias, a liturgia mais importante do calendário cristão. Celebramos o mistério central da nossa fé. A participação de todos é importante, pois nessa Vigília renovamos as nossas promessas batismais e o compromisso de continuar vivendo a nossa fé. Nessa celebração também são acolhidos novos cristãos com muitos que participam da iniciação cristã de adultos e que recebem os 3 sacramentos da iniciação.

    A Vigília Pascal é uma celebração longa pois são muitos ritos e leituras, e tem momentos importantes: a bênção do fogo novo e a entrada do Círio Pascal, representando a luz de Cristo; em seguida, a proclamação da Páscoa. O segundo momento é a liturgia da Palavra, que contém ao todo nove leituras e conta toda a história da salvação, desde a criação do mundo, a eleição do povo de Deus, a libertação do povo da escravidão e a passagem pelo Mar Vermelho até chegar à terra prometida. As leituras culminam com o Evangelho, que trata da ressurreição de Jesus. As leituras trazem para nós o significado da Páscoa para os judeus e para nós, católicos. Para os judeus, a Páscoa significa a passagem da escravidão para a liberdade, e para nós, católicos, a passagem da morte para a vida, por conta da ressurreição de Jesus. Por isso, as leituras contam toda a história da salvação, desde o Antigo Testamento até chegar a Jesus, além de mostrar as duas alianças de Deus com a humanidade, culminando na segunda e eterna aliança, que é a revelação de seu Filho. Nessa parte entoamos solenemente o Glória e o Aleluia.

    A terceira parte da missa é a liturgia batismal, onde todos que estão na missa renovam as promessas batismais e reassumem o compromisso de viver a fé. Somos mergulhados nas águas do batismo e chamados por Deus a morrer para o pecado e ressurgir para uma vida nova. Nessa celebração também ocorrem batizados de novos cristãos, além de Primeira Eucaristia e até Crisma. Os novos catecúmenos são chamados a trilharem o caminho de luz, abandonando as trevas do pecado.

    A quarta e última parte dessa Missa é a liturgia Eucarística. A oração eucarística costuma ser a primeira, do cânon romano. A Vigília é uma celebração cheia de significados, por isso, convido a quem nunca participou que faça o esforço de participar nesse ano e, dessa forma, coroar as celebrações do Tríduo Pascal.

    A celebração da solene Vigília Pascal é o cume do Tríduo Pascal, iniciadas na Quinta-feira à noite com a Missa vespertina da Ceia do Senhor. Durante o Tríduo Pascal, recordamos a agonia, prisão, condenação, flagelação, o caminho do calvário com a cruz às costas, paixão, morte e, culminando, a ressurreição de Jesus. As alegrias continuam na celebração do Domingo de Páscoa e são liturgias diferentes.

    A Vigília Pascal começa do lado de fora da Igreja, onde acontece a bênção do fogo novo. O Círio Pascal é abençoado e inserido nele os sinais da atualização da festa e aceso nesse fogo novo. O Círio Pascal representa o próprio Cristo ressuscitado, e o fogo novo em que o Círio Pascal é abençoado e aceso significa a Luz de Cristo, e nós devemos refletir essa luz a quem encontrarmos. O mundo vivia sob as trevas do pecado e estava envolto em trevas por causa da morte de Jesus; a luz foi apagada com a morte de cruz.

    Por isso, cada fiel acende a vela que trouxe para a celebração no Círio Pascal, representando que a luz de Cristo deve ser difundida, à semelhança do que acontece no Batismo, quando recebemos de nossos padrinhos a vela acesa no Círio Pascal e somos convidados a ser luz e irradiar essa luz aos outros. Após acenderem as velas no Círio, todos são convidados a entrarem em procissão na Igreja. O Padre ou o diácono conforme entra na Igreja, diz por três vezes: “Eis a luz de Cristo”, e os fiéis respondem: “Demos Graças a Deus”.

    O Círio Pascal é abençoado e aceso nessa noite Santa e permanecerá aceso em todas as celebrações até o Domingo de Pentecostes, cinquenta dias após a Páscoa. São cinquenta dias em que viveremos as alegrias da ressurreição. Após o Domingo de Páscoa, celebraremos a Oitava da Páscoa e, a partir do segundo domingo da Páscoa, continuamos com o Tempo Pascal. Após Pentecostes, o Círio só será aceso nas celebrações especiais de Crisma, Primeira Eucaristia e batizados. O Círio significa ainda a vida nova em Cristo; somos mergulhados nas águas do batismo e ressurgimos novas criaturas.

    Conforme dissemos, essa celebração de hoje é longa e cheia de significados. A liturgia da palavra contém nove leituras contando com o Evangelho e explicita toda a história da salvação. Após cada leitura, é proclamado um salmo responsorial que está intimamente ligado com aquela leitura e com o mistério celebrado nessa noite. Após o salmo, tem uma oração convidando os fiéis a viverem de forma intensa esse momento. Após a sétima leitura, canta-se o hino de louvor, que foi omitido durante todo o tempo quaresmal (com algumas exceções). Após o Glória, iniciam-se as leituras do Novo Testamento, que é uma carta de Paulo e o Evangelho da noite. Durante o Glória, tocam-se os sinos da Igreja e os fiéis são chamados a cantar com grande alegria, pois Cristo ressuscitou. Na aclamação ao Evangelho voltamos a cantar solenemente o Aleluia.

    A primeira leitura dessa vigília é do livro do Gênesis (Gn 1,1-2,2). Nessa leitura vemos como o Senhor criou o universo em seis dias e no sétimo descansou de tudo o que fez, e como ele criou Adão e Eva e os colocou no paraíso. Vemos que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança.

    O Salmo responsorial é o 103(104). Em resposta a essa leitura, nos diz em seu refrão: “Enviai, Vosso Espírito, Senhor, e da terra toda a face renovai”. O Senhor criou o universo por meio do sopro do Espírito Criador. Peçamos que nessa Páscoa um novo sopro do Espírito Santo venha sobre nós.

    A segunda leitura, também tirada do Livro de Gênesis (Gn 22,1-18), mostra como Abraão foi fiel a Deus, e o Senhor promete a Abraão que tornaria a sua descendência maior do que as estrelas. Que possamos ser obedientes a Deus e ouvir a sua voz antes de tomarmos alguma decisão. O salmo responsorial referente a essa leitura é o Salmo 15(16), que diz que o nosso refúgio e proteção é o Senhor; mesmo nos momentos de dificuldade e quando estamos diante do pecado, o nosso refúgio e proteção é o Senhor. Estar perto do Senhor é uma grande alegria, conforme estamos contagiados por essa alegria na noite de hoje.

    A terceira leitura, tirada do livro do Êxodo (Ex 14,15-15,1), mostra como Deus, por intermédio de Moisés, liberta o povo que sofria a escravidão no Egito, e assim passa o povo da escravidão para a liberdade. Um dos significados da Páscoa é a passagem da escravidão para a liberdade; depois, a partir da ressurreição de Jesus, para nós católicos tem um novo significado, que é a passagem da morte para a vida. A resposta a essa leitura é o cântico, extraído do livro do Êxodo (15), exaltando o Senhor pelas maravilhas que fez ao povo de Deus; é uma ação de graças.

    A quarta leitura, tirada do livro do profeta Isaías (Is 54,5-14), nos fala da aliança que Deus fez com o seu povo, que é uma aliança eterna, que se perpetuaria por todo o sempre. É como uma aliança de casamento; apesar da infidelidade do povo, Deus permanece fiel. O Senhor promete nunca abandonar o seu povo e concretiza a aliança com o envio de seu Filho. O salmo de resposta referente a essa leitura é o 29(30), que nos diz que o Senhor perdoa todas as nossas transgressões e infidelidades; basta confiarmos em sua graça.

    A quinta leitura, também extraída de Isaías (Is 55,1-11), o Senhor nos chama para ficar com Ele, para se deliciar do banquete que Ele oferecerá a todos nós. Nos dias de hoje, esse banquete é a Eucaristia; na eternidade, sentaremos todos à mesa ao lado dele. O banquete é para todos, sem exclusão de raça, cor ou classe social. Por isso, não devemos fazer distinção de pessoas aqui na terra, nem julgar ou condenar os outros. A resposta para essa leitura é o cântico de Isaías (12), que nos fala justamente da alegria de beber do manancial da salvação, que somente Deus pode nos proporcionar.

    A sexta leitura, extraída do livro do profeta Baruc (Br 3,9-15,32-4,4), o profeta alerta a todo o povo de Israel para que confiem somente no Deus verdadeiro, ou seja, naquele que os libertou da terra do Egito e fez aliança com eles. Somente ele tem Palavras de Vida eterna.

    O salmo de resposta para essa leitura é o 18(19), que justamente diz em seu refrão: “Senhor, tens palavras de vida eterna”. A lei do Senhor Deus é perfeita, e os preceitos que estão nela descritos não são pesados demais para seguir. Devemos confiar somente em Deus, e só Ele pode nos salvar.

    A sétima leitura é extraída do livro do Profeta Ezequiel (Ez 36,16-17a.18-28). O Senhor alerta o povo para não adorarem deuses falsos, ou seja, não adorarem bezerros de ouro ou imagens de madeira. Somente Ele é o Deus que fez um pacto com eles, e eles não devem romper esse pacto. O Senhor colocará dentro de cada um, um coração novo e os purificará de todo o pecado. O salmo de resposta para essa leitura é o 41(42), que nos diz em seu refrão: “A minha alma tem sede de Deus”. Devemos sempre desejar esse Deus vivo, que nos fala por meio da sua palavra e nos alimenta por meio da Eucaristia. Somente Ele poderá nos salvar, e nenhum outro.

    A oitava leitura é proclamada após o hino de louvor, para fazer uma ligação entre o Antigo e o Novo Testamento. Jesus é a continuação da história, Ele é a nova lei, mas sem excluir a anterior. A leitura da Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 6,3-11). Paulo diz que através do batismo nos tornamos pessoas novas, e se Cristo morreu para nos libertar e é em nome dele que somos batizados, por meio do batismo venceremos o pecado e nos tornaremos novos homens e mulheres. O salmo de resposta para essa leitura é o 117(118). Ao aclamar o evangelho voltamos a cantar solenemente o Aleluia introduzido por palavras cheias de alegria.

    O Evangelho é de Lucas (Lc 24,1-12). Lucas narra nesse trecho do Evangelho que no primeiro dia da semana, que é o (Domingo), bem de madrugada, ou seja, na madrugada de sábado para o domingo, algumas mulheres foram ao túmulo para ver o corpo de Jesus e passar perfumes em seu corpo. Ao entrar no túmulo, ficam como que espantadas em não ver o corpo de Jesus no túmulo. Enquanto estavam paradas, dois homens de branco se aproximaram delas. Elas, ainda sem acreditar, olhavam para o chão. Os dois homens se aproximam delas e perguntam por que elas estavam procurando entre os mortos aquele que está vivo.

    Eles dizem a elas que se cumpriu a Escritura que dizia que Ele deveria ressuscitar dos mortos ao terceiro dia. Então elas se lembraram das palavras de Jesus. Esses dois homens seriam dois anjos que são testemunhas da ressurreição e conversam com elas.

    As mulheres saem correndo e vão anunciar aos onze discípulos a notícia. Essas mulheres eram: Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago. Os discípulos não acreditam nelas, não lhes dão crédito. Pedro, no entanto, como um dos líderes do grupo, levantou-se e foi correndo ao túmulo, olhou para dentro e viu os lençóis dobrados; então voltou para casa admirado com tudo o que havia acontecido.

    Sejamos como as mulheres do Evangelho de hoje, saiamos correndo e anunciemos a todos que o Senhor ressuscitou. Quem sabe já ao final da missa de hoje, amanhã ou nos dias que sucedem a Páscoa, anunciemos para quem ficou em casa, no nosso trabalho, escola e comunidade, que o Senhor ressuscitou. Ele vive, venceu a morte e está no meio de nós.

    Façamos o esforço para participar das celebrações da Páscoa, sobretudo o Tríduo Pascal, iniciado na Quinta-feira com a missa vespertina da ceia do Senhor e culminando com a solene Vigília Pascal. Que possamos sair renovados dessa celebração e transmitir a luz do Ressuscitado a quem encontrarmos. Amém.

    Santa e abençoada Páscoa! Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

    DEIXE UMA RESPOSTA

    Please enter your comment!
    Please enter your name here