Silvonei José, Andressa Collet – Cidade do Vaticano
Além de identificar os pontos centrais do Instrumentum Laboris, a preparação em vista do Sínodo Amazônico de outubro, no Vaticano, também propicia análises mais profundas e de conscientização por parte de brasileiros, consagrados ou não, e às vezes distantes geograficamente da região Amazônica.
Olhar o Sul do Brasil e escutar a Amazônia
O Pe. Vilson Groh, presidente de um instituto que leva o seu nome em Florianópolis, Santa Catarina, ao trabalhar com assessoria pedagógica, jurídica e de captação de recursos de organizações da sociedade civil, abre esse espaço de reflexão e convida o Sul do Brasil a olhar e a escutar diversamente a realidade vivida no norte do país.
“A escuta é importante, na dimensão de escuta de uma população que eu não conheço. A Amazônia, por exemplo, tem 400 línguas diversas. Imagina a cultura, a etnia, a medicina e o modo de olhar o mundo por trás dessas línguas! E na cultura da diversidade devemos entender que a questão não é só terra, mas também de entendimento da problemática mundial em olhar essa realidade em termos do que significa a Amazônia para o resto do mundo em termos, por exemplo, das populações indígenas que são verdadeiras cuidadoras da Mãe Terra. E aí rediscutir o desenvolvimento através da cosmovisão indígena e num modo de produção capitalista. O Papa quando fala da terra diz que é a mais pobre das pobres, porque é a mais sucateada, do ponto de vista do processo da exploração. E a cosmovisão indígena traz a sociedade do bem viver que é uma integração entre as pessoas, com a Mãe Terra e com o uso dos bens da Mãe Terra.”
Não é apenas assembleia e documento final
O evento pastoral de defesa da vida na Amazônia também deverá oferecer uma nova perspectiva de compreensão do trabalho eclesial, afirma o articulista, Pe. Vilson. O tema do Sínodo, “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”, vai ajudar o evento a não se limitar a uma assembleia e a um documento final mas, segundo o sacerdote, será um divisor histórico.
“Eu penso que o próprio título do Sínodo é a construção de novos caminhos. Construir novos caminhos significa que talvez a gente deva fazer um grande exercício de saída de si, daquilo que o Papa Francisco fala de uma Igreja em saída. Acho que esse deve ser um pouco o método do caminho: como é que a gente sai de estruturas prontas, dadas, que não dão resposta a contextos tão profundos quanto às problemáticas que a gente vive na Amazônia: a da biodiversidade, da terra, indígena, da água. É entender o contexto da Amazônia pro mundo, tanto quanto entender o contexto da Amazônia pro Sul do Brasil. Penso que requer de todos nós a abertura pra um conhecimento, pra um entendimento e pra pensar uma Igreja, como diz o Papa Francisco, que possa brotar deste chão com características próprias de uma população que, se a gente olha, no contexto do que é a Amazônia, do que significa os rios da Amazônia, como artérias, do ponto de vista da vida e do valor da vida, tem que ter um outro entendimento. Entender, por exemplo, a partir da cosmovisão indígena, o mundo. Acho que a gente só tem a ganhar! Mas tem que se dispor a fazer esse processo. E talvez são grandes desafios e impasses. Mas eu penso sempre que, com o Sínodo, vamos ganhar muito numa linha de horizonte, de abertura e de necessidade de empenho, de reconstrução, ou de desconstrução do que está construído para abrir-se a novas construções – que é o grande caminho, é a dinâmica.”
Sopro do Espírito é denúncia e anúncio para Amazônia
O Pe. Vilson Groh está confiante para os resultados que o Sínodo Amazônico trará, seja para denunciar o que precisa ser denunciado, seja para elevar a beleza e a importância daquela região ao mundo.