A síndrome de abdicação pode ser uma explicação para o motivo pelo qual tantas pessoas seguem grupos, seitas, gurus, líderes religiosos e políticos que costumam ser francamente perigosos. Canibalismo, sequestro de crianças, maus-tratos, tráfico humano, massacres e outras atrocidades, fazem parte do quadro que algumas seitas e grupos escondem. Um dos exemplos mais claros foi a seita Templo do Povo, liderada por Jim Jones e cujo fim consistiu no suicídio coletivo de 918 pessoas, em 1978, na República Cooperativa da Guiana.
Dr. Steve Taylor, psicólogo, escritor britânico e escreve sobre Psicologia e espiritualidade. É professor sênior de psicologia na Leeds Beckett University. Os estudos de Taylor são focados na Psicologia Transpessoal, estados alterados de consciência, e especialmente nas experiências de despertar. Taylor obteve seu PhD em psicologia pela Liverpool John Moores University. O Dr. Taylor é um especialista em síndrome da abdicação.
O renomado Dr. Taylor, afirma que, desde o momento em que nascemos, encontramos proteção em nossos pais, ao mesmo tempo em que sentimos que eles podem resolver tudo. No entanto, à medida que envelhecemos, percebemos que eles não são poderosos ou sabem tudo. Então, aparentemente, essa mesma segurança é buscada em outras pessoas. Ou seja, é um comportamento que beira o infantilismo, pois é uma necessidade voltar a esse estado.
Dr. Taylor explica que nem todos buscam a iluminação, mas sua devoção incondicional responde a uma falta de responsabilidade na vida, então eles querem colocar essa responsabilidade em um líder que os guia, pois isso os isenta de pensar por si mesmos. O guru tem todas as respostas que eles precisam, como quando seus pais cuidaram deles, e, em troca, eles devem receber apenas a proteção e o carinho do líder. O Dr. Taylor chama essa síndrome de síndrome da abdicação.
O trabalho do Dr. Taylor foi divulgado amplamente pela mídia no Reino Unido, inclusive pela BBC Breakfast, BBC World TV, Rádio e no The Guardian. Seu trabalho foi descrito pelo escritor alemão e pesquisador da Universidade de Cambridge, Eckhart Tolle como “uma importante contribuição para a mudança de consciência que está acontecendo no momento presente” em nosso planeta.
“É mais fácil para os líderes tirar vantagem de sua posição. Assim como existem pessoas que são verdadeiramente altruístas e querem compartilhar suas fórmulas para se sentir bem física e espiritualmente, existem outros gurus cujos comportamentos são obscenos e abusam da confiança que seus fiéis seguidores depositaram neles. Há até quem começa sendo gente boa, mas depois perde essa orientação e acaba se comportando de forma deplorável. O problema é que, quando os seguidores abdicam em favor de um líder de culto, eles já têm dificuldade em aceitar o negativo. Há seguidores que oferecem explicações racionais, argumentando que o comportamento condenável do guru responde a uma “prova divina”, como quando os filhos têm dificuldade em aceitar erros por parte dos pais”.
“Os seguidores ou discípulos não reconhecem que o líder é imperfeito, porque não querem abandonar aquele sentimento de segurança e proteção que isso gera neles. Eles entregam a responsabilidade de sua vida a terceiros para que eles possam aconselhá-los, dizer-lhes o que fazer em uma determinada situação ou conduzir totalmente sua vida”, diz Isbélia Farias, mestrada em Filosofia pela Universidad del Zulia e Psicologia Positiva pela Universidade Metropolitana de Caracas
Os gurus, explica o especialista Dr. Taylor, são pessoas narcisistas que precisam ser adoradas. Outros podem ser psicopatas que gostam de poder, admiração e adoração. Dr. Taylor, de forma contundente alerta que a síndrome da abdicação nunca termina bem e que, em certas ocasiões, até as autoridades devem intervir para o bem dos seguidores. Em alguns casos, os seguidores percebem os maus-tratos que estão sofrendo, enquanto nos piores cenários o impulso do líder narcisista termina em violência.
Com muita força de vontade, apoio de pessoas próximas, dotada de sensatez, conhecedora profunda dessa matéria e a importante ajuda de terapia, poderá se libertar da Síndrome de abdicação. Não pode ser descartada o auxílio da farmacologia. Depende do quadro clínico do indivíduo.
Prof. Dr. Inácio José do Vale, Psicanalista Clínico, PhD.
Especialista em Psicologia Clínica pela Faculdade Dom Alberto-RS.
Especialista em Psicologia da Saúde pela Faculdade de Administração, Ciências e Educação-MG.
Doutorado em Psicanálise pelo Phoenix Instituto da Flórida-EUA.
Doutorado em Psicanálise Clínica pela Escola de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise Contemporânea. Rio de Janeiro-RJ. Cadastrada na Organização das Nações Unidas – (ONU).