Sexta-Feira Santa da Paixão do Senhor – Ação Litúrgica

    Ó Pai, em vossas mãos, eu entrego o meu Espírito. (Sl 30,31)

     Na Sexta-feira Santa celebramos o segundo dia do Tríduo Pascal, único dia do ano em que a Igreja não celebra missa, mas sim a Ação Litúrgica da Paixão do Senhor e a adoração à Cruz. Em todas as igrejas do mundo inteiro, essa celebração acontece por volta das 15h, horário em que Nosso Senhor Jesus Cristo entregou definitivamente seu espírito ao Pai.

    A Sexta-feira Santa é um dia de recolhimento e silêncio em respeito ao que aconteceu a Jesus. Na parte da manhã, os fiéis se reúnem para a oração. A tarde, os fiéis se preparam para celebrar a Ação Litúrgica e a adoração à Cruz. Após a Ação Litúrgica, à noite, depois do Sermão do descendimento da Cruz (onde é costume), acontece a procissão pelas ruas do bairro com a imagem do Senhor Morto e de Nossa Senhora das Dores. A Sexta-feira Santa é um dia longo, com muitas atividades litúrgicas, nas quais recordamos a entrega total de Jesus por nós. É também um dia de jejum e abstinência de carne.

    Nesse dia, a Igreja está com o altar e o ambão desnudados, e todas as imagens, cobertas, pois o nosso olhar deve estar voltado para o Cristo, centro de nossa vida e a celebração do mistério pascal que dá sentido a todas as demais celebrações. Somente na hora da comunhão é colocado o corporal na mesa do altar para a distribuição da Eucaristia e, em seguida, o altar é novamente desnudado. As toalhas somente serão recolocadas no altar e no ambão no Sábado Santo, e, após o hino de louvor — o Glória a Deus nas alturas —, e as imagens serão descobertas (se ainda estão cobertas).

    Conforme dizia São Paulo, a morte de Cristo pode ser escândalo para alguns e loucura para outros, mas, por meio da fé, acreditamos que foi necessário que Cristo sofresse isso para nos salvar e garantir a todos nós a ressurreição final. Cremos que Ele não está mais na cruz, mas ressuscitou para nos salvar: está vivo. Não adoramos um Deus morto. Na celebração da Paixão, adoramos a cruz, porque foi por meio dela que Jesus venceu a morte e ressuscitou.

    Como dissemos, nesse dia a Igreja vive um grande silêncio e recolhimento que prorrogamos também no sábado santo durante o dia. No início da Celebração da Paixão, não há procissão de entrada; a equipe de celebração entra pela lateral da igreja, e não há cântico de entrada. O bispo, sacerdote ou diácono que preside a celebração se prostra no presbitério logo que entra, em sinal da entrega de Jesus por nós. Os demais servidores do altar e os fiéis apenas se ajoelham. Esse momento pode durar alguns minutos. Ao se levantar, aquele que preside profere a oração inicial, sem pronunciar o convite “oremos”.

    Após a oração, segue-se a Liturgia da Palavra, que consiste em uma leitura do Antigo Testamento, salmo responsorial e uma leitura do Novo Testamento. O Evangelho desse dia é a conhecida narrativa da Paixão do Senhor segundo João. Após a homilia, acontece a Oração Universal, pedindo a Deus pela paz, pela Igreja, pelo povo judeu e por aqueles que não acreditam em Deus. É um pedido para que todos os povos sejam um, conforme o desejo do próprio Jesus. Depois da Oração Universal, realiza-se a adoração à Santa Cruz: toda a comunidade é convidada a se ajoelhar diante da cruz do Senhor e a fazer um breve momento de adoração, agradecendo a Jesus por ter se entregado por nós. Algumas paróquias realizam esse momento ao final, antes de iniciar-se a procissão.

    Em seguida, ocorre a Coleta para os Lugares Santos: o dinheiro arrecadado nessa celebração é destinado aos locais de missão da Igreja, sobretudo na Terra Santa, para sustentar os religiosos que ali trabalham.

    Após a coleta, a Igreja se prepara para a comunhão. Reza-se o Pai-Nosso e, logo após, o sacerdote profere o convite à comunhão. Nesse dia, omite-se a oração pela paz. A comunhão é distribuída com as hóstias consagradas na Quinta-feira à noite, já que não há consagração na Sexta-feira — único dia do ano em que não se celebra a Santa Missa. No Sábado Santo, também não há celebração ao longo do dia: é mais um tempo de recolhimento e silêncio. Apenas à noite acontece a grande Vigília da Ressurreição, a partir das 18h00.

    Ao final da Celebração da Paixão do Senhor, não há bênção final. O sacerdote apenas profere uma oração sobre o povo e todos se retiram em silêncio, sem cântico final. Algumas paróquias, à noite, celebram o Sermão do descendimento da Cruz, seguido da procissão com a imagem de Nosso Senhor Morto e de Nossa Senhora das Dores.

    A primeira leitura dessa Ação Litúrgica é do livro do profeta Isaías (Is 52,13–53,12). Trata-se da parte do livro conhecida como “Servo Sofredor”. Esse trecho é lido com frequência durante a Semana Santa: no Domingo de Ramos, na Segunda, Terça, Quarta e Sexta-feira. O Servo Sofredor se assemelha à figura de Jesus, pois sofre em silêncio e é condenado por praticar a justiça e anunciar o Reino de Deus. Condenado injustamente pelos homens, será glorificado por Deus. Ele intercede pelos pecadores e resgata os pecados de todos, entregando-se para salvar a humanidade.

    O profeta Isaías viveu cerca de 400 anos antes de Cristo. Muitas de suas palavras se cumprem na vida de Jesus. um profeta que previa tempos de paz para Israel e anunciava a chegada do Messias. Viveu no tempo em que o povo retornava do exílio na Babilônia, e sua missão era dar novo ânimo ao povo.

    O Servo Sofredor é comparado a um cordeiro levado ao matadouro. Para nós, Jesus é esse cordeiro pascal que tira o pecado do mundo para nos conceder a paz e a salvação. Com sua morte e ressurreição, não é mais necessário imolar o cordeiro animal para a Páscoa, como faziam os judeus. Agora, o cordeiro pascal é Jesus.

    O salmo responsorial é o 30 (31). Trata-se de um salmo de entrega nas mãos do Senhor. Devemos colocar toda a nossa esperança em Deus e confiar em sua misericórdia. O refrão do salmo diz: “Ó Pai, em vossas mãos eu entrego o meu espírito.” O próprio Jesus pronunciou esse versículo no momento de sua entrega na cruz. Confiemos, como Ele, na misericórdia do Senhor, especialmente nos momentos de dificuldade e no leito de morte.

    A segunda leitura é da Carta aos Hebreus (Hb 4,14-16; 5,7-9). O autor sagrado afirma que temos um sumo sacerdote eminente no céu, que intercede por nós. Ele foi provado em tudo, menos no pecado. Aproximemo-nos desse sumo sacerdote e peçamos o perdão de nossos pecados. Cristo, durante sua vida terrestre, foi obediente a Deus em tudo, dirigiu preces e súplicas, e foi atendido. Por sua obediência, entregou-se na cruz para salvar a todos. Confiemos nossas orações a Deus, e seremos atendidos em nossas necessidades.

    O Evangelho é a narrativa da Paixão do Senhor segundo João (Jo 18,1–19,42). No Domingo de Ramos, ouvimos a narrativa mais curta, de acordo com o evangelista do ano (Lucas). Na Sexta-feira da Paixão, ouvimos sempre a mais longa e completa: a de João. Essa narrativa conta desde a agonia de Jesus no horto até sua prisão, condenação e morte.

    Após lavar os pés dos discípulos e realizar a Última Ceia, Jesus sente grande angústia e vai ao deserto rezar. Os discípulos o acompanham. Judas, que já havia saído da ceia, conhecia o lugar e vai até lá com guardas e soldados. Para identificar Jesus, combina de beijá-lo, e o próprio Jesus diz: “Com um beijo tu trais o Filho do Homem?” Jesus fica sozinho, pois os discípulos fogem com medo.

    A partir daí, Jesus é preso e passa a noite no palácio de Anás, sumo sacerdote e sogro de Caifás. Anás o interroga e o envia a Caifás, que por sua vez o envia ao palácio de Pilatos, pois apenas os romanos podiam aplicar a pena de morte. Na manhã seguinte, Pilatos interroga Jesus, mas não vê crime que o condene à morte. Os sumos sacerdotes pedem então que Pilatos apresente Jesus ao povo junto com Barrabás, e que o povo escolha quem deve ser libertado.

    O povo escolhe Barrabás — um criminoso. Assim, Jesus é condenado à morte pelo mesmo povo que o aclamara no Domingo de Ramos. Herodes manda que Jesus seja flagelado. Os soldados colocam-lhe uma coroa de espinhos, um manto vermelho e o obrigam a carregar a cruz até o Calvário.

    Ao carregar a cruz, Jesus carrega as dores e sofrimentos do mundo inteiro. Por sua morte, nos salva do pecado e nos garante a vida eterna. Entreguemos à cruz de Cristo nossas dores e sofrimentos. Que tenhamos forças para carregar a nossa cruz diária e trilhar o caminho da santidade. Peçamos a Jesus, pela sua cruz, que cesse toda forma de violência e guerra, para que os inocentes não paguem pelos erros dos outros.

    Peçamos a Jesus, nesta celebração, que do alto da cruz brote a paz para todos os povos. Que todos os líderes das nações, ao contemplarem o Crucificado, pensem em quanta dor causam a tantas famílias por meio das guerras. Lembremos que, aqui no Brasil, vivemos a Campanha da Fraternidade com o tema: “Fraternidade e Ecologia Integral.” Que saibamos cuidar do nosso planeta sempre pensando no próximo.

    A cruz é sinal de nossa vitória e redenção. Recebemos no Brasil nestes dias a cruz da primeira missa no Brasil que faz 525 anos. Por meio da morte de Cristo na Cruz e sua ressurreição somos libertos do pecado. Não adoramos um Deus morto ou desconhecido, mas um Deus vitorioso. Sabemos que, na Sexta-feira Santa, Ele morreu, mas ressuscitou no Domingo de Páscoa. Durante a celebração da Sexta-feira, adoramos a cruz porque, por meio dela, nos veio a salvação. Que, através da celebração da Paixão, todos os povos se unam em busca da paz.

    A celebração de hoje termina sem bênção final, pois esta só será dada no fim da Vigília Pascal. Desde a Quinta até o Sábado, vivemos uma única celebração, conhecida como Tríduo Pascal. Após a comunhão, aquele que preside profere a oração sobre o povo, e todos saem em silêncio, rumo à procissão ou para suas casas.

    O Tríduo Pascal, iniciado na Quinta-feira Santa tem seu cume no Sábado Santo, concentra todo o mistério de nossa fé: a paixão, morte e ressurreição de Jesus e se conclui no domingo de Páscoa que abre esse tempo novo. Participemos de todos os dias do Tríduo, liturgia, devoções  cultura, passando pelo calvário até a glória da ressurreição. Que, ao chegar a Páscoa, possamos ressurgir com Cristo para uma vida nova, cheios da graça de Deus. Amém.

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