Mais uma vez estamos diante da servidão de Cristo, estampada agora no lema da CF 2015: “Eu vim para servir”. Essa é a missão da Igreja. O serviço que Jesus prestou à humanidade (especialmente durante os três anos de intensas pregações) foi de restauração e renovação de ânimos de um povo cuja esperança chegava ao fundo do poço. Sem um Messias já não tinham onde buscar novas esperanças diante do caos que a história humana apresentava até então. Nada diferente dos dias atuais.
Se pouco mudou, onde encontrar a razão de ser da Igreja nesses dois mil anos posteriores ao Cristo? A resposta não se encontra num balanço histórico puro e simples, mas na própria interrogação – quase sempre feita por céticos e derrotistas – que não conseguem visualizar ou mesmo compreender o quanto evoluímos depois de Cristo. Não se trata de uma simplória constatação de fatos, mas de consciência. Por piores que sejam os padrões do comportamento humano, aflora-lhe hoje maior discernimento entre o bem e o mal, o certo e o errado, que a doutrina cristã colocou no DNA do homem de fé. Por mais superficial que seja o contacto humano com a proposta evangélica ou mesmo e principalmente a partir do testemunho pessoal dos que acreditam no Cristo, uma mudança sempre acontece: a tomada de consciência.
A aparente inutilidade da ação da Igreja é sua maior valia. Os grandes profetas do passado também tinham essa sensação diante dos parcos resultados de seus trabalhos. Isaias chegou a dizer: “Somos servos inúteis”. Mas a história lhe deu a honra de uma biografia grandiosa. Da mesma forma Jeremias, Ezequiel, o próprio Abraão, considerado o Pai de todos os crentes e até Moisés – figura do libertador, que não conseguiu (ele próprio) alcançar a Terra Prometida – mas seu povo sim. Como vemos, nem sempre nos compete saborear os frutos que plantamos. Assim, a servidão da Igreja no mundo é uma ação profética que mina lentamente o coração sempre sedento dos que buscam novas esperanças. Um serviço útil diante das inutilidades que a história nos conta. A Igreja diante da sociedade não busca glorificações temporais, mas redenção.
Esse serviço, muitas vezes, se dá no silêncio de uma ação suplicante, orante, compassiva, porém nunca participante dos erros e negligências que a sociedade teima repetir. Os frutos desse trabalho não nos pertencem. Deus irá colhê-los. Quanto a nós – que medimos nossa inutilidade com as frustrações de um trabalho sem resultados aparentes, resta o consolo da vida de Cristo. “Passarão os céus e a terra, mas minhas palavras não”. Sobre o mesmo assunto, um dia um companheiro de missão comentou comigo: “Estou frustrado. É diferente de magoado. Essa fase de minha vida requer muito cuidado para não cair na depressão. Com certeza, aos trancos e barrancos, levaremos para frente nossa servidão inútil”. Meses depois, acrescentou: “De minha parte, como servo inútil, insensível, lâmpada queimada, zero, caos, confusão, espero praticar o apostolado do silêncio, do sofrimento, da oração em favor de todos”. Sim, caro irmão, é nessa aparente inutilidade que se agiganta a preciosidade do serviço que prestamos ao mundo.
Mas o consolo vem de Deus. A aparente frustração do evangelizador diante dum mundo insensível à mensagem não pode desestimular nossa missão. O serviço a que se presta a Igreja no mundo é dos mais nobres possíveis, pois nenhuma outra instituição humana recebeu tão importante incumbência. A tal ponto que Jesus fez questão de nos edificar com palavras de ânimo: “Já não vos chamo de servos, mas de amigos.” Ou seja: deixamos de lado a condição humilhante de quem presta um serviço ao amo e galgamos o degrau da igualdade com Cristo, a amizade, o companheirismo. O serviço é Dele, mas a missão agora é nossa, “porque vos revelei tudo o que sabia a respeito do meu Pai”. Com nossa presença e consciência de fé é que transformaremos o mundo.