Senti Firmeza

    Os assuntos fundiários no Brasil, são, por natureza, aptos a tirar a tranqüilidade  dos cidadãos. Desde longa data é tema perturbador. Trata-se de uma área, onde é possível, num minúsculo espaço, misturar verdades contundentes, e mentiras cavilosas. Nessas conversas facilmente se apalpam, com nervosismo, as armas de fogo, presas à cintura. No campo podem existir terras griladas pelos poderosos, escravidões impostas aos pouco qualificados, o veto formal aos que querem um pedaço de chão. Mas também podemos ver a legítima produção de alimentos, a inteligência usada com dinamismo, o uso criterioso dos melhores recursos mundiais em favor da alimentação. “E Deus nos deu esta terra, de onde fluem leite e mel”  (Deut. 26, 9). Conheci um Bispo, que sabia o resumo das coisas boas e ruins do mundo agrário. Foi o falecido Bispo de São José dos Pinhais, PR, Dom Ladislau Biernaski, sensato Lazarista. Seu saber era amplo e seguro. Conhecia todas as torpezas do mundo agrário, mas também suas virtudes e belezas. As suas proposições  eram claras e justas. Era um apoio para todos, a ponto de fazer falta.

    Nesta última Assembléia dos Bispos (a 51ª ) uma Comissão reapresentou um texto, sobre Reforma Agrária, que vem sendo burilado há três anos. O fragor da luta costuma cobrar pedágio. Os sub-grupos de Bispos, mais de 20, esquadrinharam a proposta, que mereceu louvores, mas também críticas muito fortes, devido à presença de ideologias, resquícios da teoria da dependência, já abandonada desde a década de 1980. Tal teoria, errônea, tenta explicar de que eu sou pobre, porque meu vizinho é rico. Havia laivos de luta de classes, e insinuações leves de que o agronegócio é uma atividade abominável. Quando essas contribuições foram apresentadas em plenário, senti-me orgulhoso de pertencer à CNBB. A Comissão aceitou as críticas e concluiu que o texto deveria ser novamente reescrito, e votado numa próxima Assembléia. Foi vitorioso o bom senso, e o Brasil. Ainda mais que o grande Papa João Paulo II ensinou que esse assunto deve ser relativizado. Pois hoje a “grande fonte de riqueza não é mais a terra, mas o conhecimento” (LE).