A Reta Final do Ano da Fé

    No mês de novembro, por ocasião da Festa de Cristo Rei cada católico se apresentará diante deste Soberano e lhe prestará contas de como viveu o Ano da Fé proclamado por Bento XVI. Ainda restam alguns meses e, nada melhor, do que uma revisão dos objetivos traçados pelo Papa Emérito para esta caminhada, os quais têm sido urgidos por seu sucessor. Ainda há tempo para revitalizar os compromissos atinentes ao aprofundamento na vivência desta virtude teologal. Isto embasado na certeza daquilo que disse São João: “Esta é a vitória que vence o mundo: a vossa fé”! (Jo 5, 4). Trata-se de um ano de graças especiais por força do empenho para uma mais total conversão a Deus, reforçando a crença em tudo que Ele revelou. Cumpre, de fato, atravessar a porta da fé numa caminhada que ilumine plenamente a vida do cristão. Para isto em todo decorrer deste Ano da Fé é preciso readquirir o gosto pela Palavra de Deus através do dom da Ciência. Um crescimento no amor à Eucaristia que é o Mistério da Fé. É de se notar que o início do Ano da Fé dia 11 de outubro de 2012 foi a data do cinqüentenário da abertura do Vaticano II e aí já surge o primeiro questionamento, ou seja, será que os documentos preciosíssimos deste Concílio têm sido estudados e aprofundados? A herança deixada pelos Padres Conciliares precisa sempre ser explorada, pois resulta uma grande força para a renovação sempre urgente da Igreja. Adite-se que na referida data se completaram vinte anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica, texto promulgado pelo Beato Papa João Paulo II. É necessária a redescoberta e o estudo dos conteúdos fundamentais da fé, que têm neste Catecismo a sua síntese sistemática e orgânica. Eis aí um valioso instrumento de apóio da fé para se viver nos moldes mais eficazes e apropriados no serviço evangelizador de levar a fé por toda parte, irradiando-a com eficiência e perseverança. Além disto, o Ano da Fé é propício para a intensificação do testemunho da caridade fraterna. A fé sem a caridade não frutifica e a caridade sem a fé, no dizer do Papa Francisco, leva à formação não de uma comunidade verdadeiramente cristã, mas a uma simples “ONG” piedosa. Neste Ano da Fé cumpre tornar cada vez mais firme a relação com o divino Redentor, dado que Ele é a única tábua de salvação e a razão de ser da fraternidade. Todas estas reflexões conduzem a uma renovação do compromisso missionário, gerando uma conscientização do que representa a autêntica adesão ao Evangelho. Haverá então, sim, uma fé professada com confiança e esperança. Isto, contudo, só acontecerá quando cada cristão assumir a responsabilidade social daquilo que ele acredita. Nunca, como em nossos dias, há precisão do testemunho de vida. Eis aí o fundamento da nova evangelização que levará a se descobrir de novo a alegria de crer e o entusiasmo da comunicação da fé, obrigação elementar de quem ama a Jesus Cristo. Tudo isto, porém, não acontecerá sem o auxílio daquela que foi feliz, porque acreditou (Lc 1,45). Maria é realmente a pedagoga da fé, modelo de fidelidade. Nada melhor também do que a mentalização dos textos bíblicos atinentes à fé. Jesus foi claro “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (Mc 16,15). A muitos miraculados ele disse: “A tua fé te salvou” (Mt 9,22; Mc 5,34). Fez até uma assertiva sublime: “Em verdade vos digo que se tiverdes fé […] e disserdes a este monte: passa daqui para acolá, há ele de passar” (Mt 17,20). É preciso sempre repetir a prece que lhe fizeram: “Senhor, aumentai-nos a fé” (Mt 17,5). A São Pedro Cristo afirmou: “Eu roguei por ti para que não desfaleça a tua fé” (Mt, 22,32). Lemos no Evangelho de São João:“Quem crê no Filho tem a vida eterna; quem, pelo contrário, descrê do Filho não verá a vida, porém, pesa sobre ele a ira de Deus” (Jo 3,36). Este Evangelista acrescenta: “A obra de Deus está em que tenhais fé naquele que Ele enviou (Jo 6,29). Donde o conselho de São Paulo: “Sede vigilantes e estai firmes na fé” (1Cor 16,13), guardando o mistério da fé numa consciência pura (1 Tm 3,9). Importante esta advertência do Apóstolo: “Por cima de tudo, embraçai o escudo da fé, com que possais extinguir os projéteis ígneos do maligno” ( 1Tm 6,16). Em síntese, a fé consiste segundo São Paulo “na firme confiança daquilo que se espera, na convicção daquilo que não se vê” (Hb 11,1). Sem esta virtude é impossível agradar a Deus (Hb 11,6). Estas reflexões culminam, porém, no que disse São Tiago: “ A fé sem as obras é morta em si mesma” (Tg 2,17).

     

    * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.