Rio de Janeiro, primavera de 2024
Entre os dias 16 e 22 de setembro, está sendo realizada a Semana Somos Um, em nossa Arquidiocese. Nesses dias, recebemos irmãos de várias partes do mundo para um encontro fraterno. Católicos e Evangélicos de diversas denominações estarão reunidos em oração, com a profunda convicção de que a unidade é a resposta em tempos divididos. A semana é parte do calendário oficial da cidade do Rio de Janeiro e é reconhecida como patrimônio cultural e imaterial do Estado. Temos também entre nós um representando do dicastério que trabalha como ecumenismo.
A semana deste ano tem como tema motivador a passagem do Livro dos Atos dos Apóstolos: Eram perseverantes na oração” (Atos 2,42). Este versículo nos transporta para os primeiros dias da Igreja cristã. Após o Pentecostes, a pequena comunidade dos seguidores de Jesus viveu um tempo de profundo fervor espiritual, marcado por uma prática contínua de oração, comunhão fraterna e estudo dos ensinamentos dos apóstolos. Essa perseverança na oração é uma virtude central que orientou e sustentou a caminhada da Igreja desde o início e continua sendo fundamental para nós, hoje, especialmente em um contexto de encontro ecumênico.
Nesta ocasião, temos também a oportunidade de refletir sobre o significado e a importância da perseverança na oração em nossas vidas como cristãos, independentemente de nossas tradições específicas, e como essa prática pode nos unir no espírito de Cristo, fortalecendo o testemunho de unidade e amor ao mundo.
Depois de receberem o Espírito Santo no Pentecostes, os discípulos de Jesus começaram a viver de maneira nova e radical, formando uma comunidade de fé centrada em quatro pilares fundamentais: o ensino dos apóstolos, a comunhão, a fração do pão e as orações. O versículo “eram perseverantes na oração” faz parte dessa descrição de uma vida comunitária plena, onde a oração era um aspecto central.
A oração não era algo ocasional ou secundário; ela era a base da vida espiritual dos primeiros cristãos. Eles oravam juntos constantemente, em suas casas e no templo, buscando estar sempre em comunhão com Deus. A perseverança na oração fortalecia a fé da comunidade e lhes dava força para enfrentar as dificuldades e perseguições que logo surgiriam.
Ser perseverante na oração não significa apenas orar em momentos de necessidade ou em ocasiões especiais. A palavra “perseverança” sugere uma continuidade, um esforço prolongado, uma dedicação que não esmorece diante das dificuldades. A oração perseverante é uma prática diária, constante, que molda nosso relacionamento com Deus e transforma nossa vida interior.
Essa perseverança é essencial porque a oração é o canal pelo qual abrimos nosso coração à graça de Deus. Através dela, crescemos na intimidade com o Senhor, somos fortalecidos em nossa caminhada e encontramos sabedoria para enfrentar os desafios da vida. A oração também nos ajuda a discernir a vontade de Deus e nos conformar mais plenamente com os Seus propósitos.
Além disso, perseverar na oração é um ato de fé. Quando continuamos a orar, mesmo quando as respostas de Deus parecem demoradas ou diferentes do que esperávamos, demonstramos nossa confiança de que Ele está conosco e age em nossas vidas. A perseverança na oração nos ensina a depender de Deus em todas as circunstâncias, não apenas quando tudo vai bem, mas também nos momentos de dúvida, dor e incerteza.
Na ocasião de um encontro como este, dentro da tradição ecumênica de nossa arquidiocese, e apoiados pela Comissão das Igrejas Cristãs do Rio de Janeiro, o tema da perseverança na oração assume uma dimensão ainda mais profunda, pois nos recorda que, como seguidores de Cristo, somos chamados a nos unir em oração, independentemente de nossas tradições e denominações. A oração é o grande ponto de encontro entre as tradições religiosas, uma linguagem universal que transcende barreiras.
Quando oramos juntos, estamos expressando nossa fé comum em Cristo e nossa busca conjunta por Sua vontade. Essa prática nos ajuda a construir pontes de compreensão, reconciliação e paz entre nossas diferentes tradições. A oração é um dos testemunhos vivos de que, apesar de nossas diferenças, partilhamos a mesma fé em um Deus que é amor e que nos chama à unidade.
A perseverança na oração também nos ensina a cultivar a paciência e a humildade, virtudes necessárias para o diálogo e a construção de unidade. No caminho ecumênico, a oração nos recorda que a verdadeira unidade não vem simplesmente de esforços humanos, mas é um dom de Deus que devemos buscar com coração aberto e disposto à transformação.
Hoje, mais do que nunca, somos chamados a perseverar na oração. Vivemos em um mundo marcado por rápidas mudanças, divisões e crises que desafiam nossa fé e nossa capacidade de viver em comunhão. A oração, assim como foi para os primeiros cristãos, é a chave para enfrentarmos esses desafios com coragem e esperança.
Em nossa caminhada comum, a oração nos ajuda a permanecer focados no que é essencial: a busca pela unidade em Cristo. Ao perseverarmos juntos na oração, damos testemunho ao mundo de que é possível superar divisões e construir pontes de amor e entendimento. Quando nos reunimos em oração, reafirmamos nossa fé em um Deus que é maior do que nossas diferenças e que nos chama a ser instrumentos de paz e reconciliação.
Além disso, a oração perseverante é uma fonte de força para a missão. Assim como os primeiros cristãos, que, fortalecidos pela oração, saíam para anunciar o Evangelho com ousadia, também nós somos chamados a evangelizar e a ser luz no mundo. A perseverança na oração nos dá o discernimento e a coragem necessários para testemunhar o amor de Cristo em nossos ambientes.
Que possamos, seguindo o exemplo dos primeiros cristãos, ser perseverantes na oração, orando juntos como irmãos e irmãs em Cristo, buscando sempre a vontade de Deus em nossas vidas e em nossas comunidades. Que a oração nos una e nos fortaleça, para que possamos ser sinais visíveis da unidade e do amor de Deus no mundo.