Sem religião e queda do cristianismo

    O número de cristãos na Europa está em queda livre. Os números estão evidenciados em uma projeção demográfica do Pew Reseach Center (PRC), instituto especializado na análise das tendências demográficas e sociais, com sede em Washington/EUA. Na Europa, em 1910, viviam 66,3% dos cristãos de todo o planeta. Em 2010 eram 25,5% e, em 2050, serão 15,6% na projeção do PRC, (1).
    Em muitos países, o número de pessoas que se consideram “não religiosas” está aumentando. Tudo indica que o futuro das organizações religiosas é incerto. Veja neste artigo o que acontece em alguns desses países.

    ÁFRICA DO SUL E AUSTRÁLIA

    Entre 2005 e 2012, o número de sul-africanos que afirmaram ser religiosos caiu 19%.
    Aproximadamente 50% da população australiana diz que não é religiosa. Outros 10% afirmam ser “ateus convictos”. Em 2010, um clérigo lamentou que “nos últimos 40 anos” têm ocorrido um “abandono em massa de fé cristã”.

    ESTADOS UNIDOS

    Desde 2005, o número de pessoas que afirmam ser religiosas caiu 13%. Uns 20% dos participantes da pesquisa não tinham nenhuma filiação religiosa. Nessa pesquisa, uns 30% dos adultos com menos de 30 anos não tinham religião. Todo ano, milhares de igrejas fecham as portas.

    FRANÇA

    Apenas 37% dos participantes da pesquisa afirmaram ser religiosos. Os outros disseram que são ateus ou que simplesmente não tem religião. Segundo a revista The Economist, em algumas partes desse país que já foi muito católico, o catolicismo esta “a beira do colapso”.

    IRLANDA

    Parece que grande parte dos irlandeses está abandonando a religião. Uns 45% dos que responderam à pesquisa disseram que não são religiosos, e outros 10% afirmaram ser ateus. Em termos de porcentagem, a Irlanda está entre os dez países com o maior número de ateus. Os noticiários comentam “o fim da Irlanda católica”.

    JAPÃO

    Apenas 16% dos japoneses que participaram da pesquisa afirmaram ser religiosos; 62% eram ateus ou não religiosos.

    TUNÍSIA

    Em 2013, uma pesquisa realizada na Tunísia revelou que cerca de 60% dos entrevistados não vão mais à mesquita e agora fazem suas orações em casa. O motivo disso foi à ideologia violenta promovida ali.
    Segundo o Pew Research Center, muitas pessoas acham que a religião dá muito destaque ao dinheiro. E, para piorar, alguns líderes religiosos, diferentemente de seus rebanhos, têm um estilo de vida ostentoso. Por exemplo, numa cidade da Alemanha, onde muitos religiosos lutam para conseguir o básico, o bispo foi acusado de levar uma vida luxuosa. Esse estilo de vida ofendeu muitos católicos locais. Além disso, uma reportagem na revista GEO diz que na Nigéria, “onde 100 milhões de pessoas vivem com menos de 1 euro por dia, o estilo de vida extravagante de alguns pastores está se tornando um problema”.
    “Quanto mais rico alguém fica, menos religioso se considera”, diz o Índice Global de Religião e Ateísmo (em inglês). Isso é significativo porque em muitos países a prosperidade material aumentou consideravelmente. “John Nye, professor universitário de Economia, diz que em alguns lugares as pessoas têm um padrão de vida que faria o rei mais poderoso de 200 anos atrás morrer de inveja”.
    As pessoas estão ficando desiludidas com a religião por diversos motivos, que incluem atos violentos e terroristas cometidos em nome da religião e o envolvimento de líderes religiosos em escândalos sexuais. Há também fatores menos evidentes que podem contribuir muito para que as pessoas abandonem a religião (2).
    “Pelo crescimento da iniquidade, o amor de muitos esfriará” (Mt 24,12).
    O CATOLICISMO NOS EUA

    “A próxima década será decisiva para demonstrar a capacidade ou a incapacidade da Igreja de se reformar”.
    Massimo Faggioli, 45 anos, autor desse desabafo, é professor do Departamento de Teologia da Universidade São Tomás, em Minnesota, nos Estados Unidos, e também historiador da Igreja. “As mudanças ocorridas no catolicismo mundial na década de 2005-2015 deveriam desencorajar qualquer pessoa de fazer previsões sobre catolicismo na próxima década de 2015-2025” – acrescenta Faggioli. Segundo o historiador, “as duas questões mais imediatas e dramáticas são a gestão de uma igreja de mais de 1 bilhão de fiéis com um corpo de clérigos e ordens religiosas cada vez mais reduzido e as perseguições anticristãs em muitos países da África e Ásia” (3).

    Igreja Católica na Alemanha perdeu um número maior de fiéis em 2014 do que em qualquer outro ano de sua história recente: 218 mil pessoas!

    Numa reunião com os bispos alemães em 20 de novembro de 2015, o Papa Francisco advertiu sobre uma “erosão” da fé católica no país, destacando as tendências que mostram que a Igreja aí está perdendo membros a uma taxa crescente.
    “Os sacramentos são incentivados cada vez menos e de forma constante”, disse Francisco, acrescentando que menos pessoas estão indo ao confessionário, recebendo o sacramento da Confirmação ou se casando na igreja, além de que as vocações ao sacerdócio e à vida consagrada vêm diminuindo também.
    “Vistos estes fatos, pode-se verdadeiramente falar de uma erosão da fé católica no país”, disse ele, dirigindo-se aos bispos alemães durante a visita ad limina, viagem que todos os bispos precisam fazer a cada cinco anos a Roma.
    Segundo as suas próprias estatísticas, a Igreja Católica na Alemanha perdeu um número maior de fiéis em 2014 do que em qualquer outro ano de sua história recente: 218 mil pessoas, representando 39 mil deserções a mais do que o ano anterior. Este número também excede o total de 2010, ano em que os escândalos em torno de abusos sexuais chocaram o país.
    Encarando este declínio, Francisco contou aos prelados alemães que o primeiro passo para reverter a situação é “superar a resignação paralisante” e evitar crer que “possam reconstruir a partir dos destroços dos ‘bons velhos tempos’”, convidando-os a uma “conversão pastoral”.
    Alguns críticos conservadores têm culpado a hierarquia alemã, relativamente progressista, por esta tendência decrescente. Por exemplo, o escritor católico americano George Weigel recentemente acusou a Igreja alemã de ser “um desastre catequético e um fracasso pastoral”, dizendo que a única resposta dos bispos do país parecia ser “exortar os demais para que sigam o caminho que levou o catolicismo da Alemanha a uma profunda incoerência”.
    O Papa, que não atribuiu culpa a ninguém, disse para os bispos usarem o Ano Santo da Misericórdia, a começar no dia 8 de dezembro, para convidar as pessoas ao sacramento da Confissão, chamando a iniciativa de “o início da transformação de cada cristão individual e da reforma da Igreja”.
    O pontífice concluiu as suas observações dizendo que “a Igreja jamais deve se cansar de ser a defensora da vida e não deve dar um passo atrás no chamado a proteger, incondicionalmente, a vida humana, desde o momento da concepção até a sua morte natural”.
    No começo do mês, o parlamento alemão aprovou um projeto de lei que autoriza o suicídio assistido se ele for conduzido com “motivos altruístas”, apesar da forte oposição dos bispos católicos.

    Fonte:http://blog.comshalom.org/carmadelio/48845-igreja-catolica-na-alemanha-perdeu-um-numero-maior-de-fieis-em-2014-do-que-em-qualquer-outro-ano-de-sua-historia-recente-218-mil-pessoas

    NO BRASIL

    O avanço da Igreja Evangélica brasileira, alavancado pela explosão pentecostal e neopentecostal de vinte anos atrás, estará perto de bater no teto? “No momento, parecem precoces e arriscadas quaisquer conjecturas desse tipo”, comenta Ricardo Mariano, doutor em Sociologia e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Em seu trabalho Mudanças no campo religioso brasileiro no Censo 2010, ele menciona que os sem religião, demograficamente insignificantes até 1970, já chegam a 15,3 milhões de brasileiros. “Eles quintuplicaram de tamanho entre 1980 e 2010, formando o terceiro maior “grupo religioso” do país”, diz no estudo (4).

    POLARIZAÇÃO RELIGIOSA

    Até meados deste século, o Cristianismo e o Islamismo terão praticamente o mesmo número de adeptos no planeta. Cristãos e muçulmanos serão, então, 70% da população mundial, de acordo com o Pew Research Center, especializado em pesquisas religiosas. Em contrapartida, o Budismo não terá, de acordo com as previsões, avanço numérico – um dos motivos são as baixas taxas de natalidade em nações onde budistas são maioria. O instituto fez projeções sobre o futuro das religiões globais:
    2,90 bilhões de pessoas serão cristãs em meados deste século (35% da população global);
    2,8 bilhões é a estimativa para o número de fiéis muçulmanos (34% da humanidade);
    1,4 bilhão será a quantidade de hinduístas (crescimento de 34% sobre o número atual);
    400 a 500 milhões serão os budistas, número próximo do atual;
    16 milhões de adeptos terá o Judaísmo (um avanço de 15%) (5).

    Pe. Inácio José do Vale
    Professor de História da Igreja
    Instituto de Teologia Bento XVI
    Sociólogo em Ciência da Religião
    E-mail: pe.inacio.jose@gmail.com

    Notas:
    (1) Mundo e missão, junho/julho de 2015, p.6.
    (2) Todos os dados (exceto os da Tunísia) são do Índice Global de Religião e Ateísmo de 2012 (em inglês), publicado pela Gallup International. Foram feitas pesquisas em 57 países, onde vive mais de 73% da população mundial.
    (3) Ultimato, Novembro/Dezembro 2015, p.16.
    (4) Cristianismo Hoje, Julho de 2015, pp.31 e 32.
    (5) Idem, p.10.

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