Em seu artigo “Via da misericórdia”, o arcebispo de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira afirma que a humanidade precisa ser banhada por um novo bálsamo – o bálsamo da misericórdia, que é muito antigo, mas sempre atual. “Antigo por ter suas raízes plantadas na eternidade. Novo e necessário porque a humanidade depende dessa fonte inesgotável, que é o amor de Deus”, explica. Para o bispo, o rosto desse amor misericordioso está próximo de cada pessoa – é Jesus Cristo. “Nele, o Filho de Deus, a misericórdia divina, se torna visível, mostrando que o seu Pai é o Pai de todos, Deus amor”, declara.
Eis, pois, a direção que de acordo com dom Walmor deve ser seguida pela humanidade, para encontrar novo rumo, após tantos descasos com a vida e o planeta, a “Casa Comum: a via da misericórdia”. Para ele, esse caminho está na contramão da perversidade e da indiferença. “Envolvendo corações e mentes, esses males marcam os tempos atuais com os frutos da insanidade e da ignorância, insensíveis às muitas possibilidades para os avanços humanitários, sociais e políticos”, afirma. A misericórdia é, assim, segundo dom Walmor, remédio indispensável, lição inigualável.
Quando um coração é forjado pela misericórdia, dom Walmor diz que ele se torna base para uma mente límpida, orientada para a fraternidade solidária, repleta de uma luz que inspira a inteligência e a sabedoria, qualidades indispensáveis em qualquer momento da história. “Afinal, a desastrosa percepção dos mais diferentes processos é um tipo de cegueira que causa confusões, leva a decisões equivocadas, à falta de senso crítico sobre as próprias atitudes”, considera.
Segundo dom Walmor para percorrer a via da misericórdia é necessário treinamento para se conquistar a competente compreensão a respeito de si e do outro. Permite, segundo ele, reconhecer a vida de cada pessoa como dom. “É, pois, atitude fundamental para se administrar, com equilíbrio, a própria vida. Caminho que consolida a justiça, pois conduz ao compromisso com a verdade, o bem comum, a honestidade”, aponta. Quem se aproxima do amor misericordioso de Deus, revelado em Jesus Cristo, desenvolve conforme o bispo, o gosto pela honestidade, não alimenta qualquer tipo de orgulho ou ilusória concepção sobre si.
Sem a via da misericórdia, o bispo acredita que tudo se enfraquece. “A religiosidade deixa de contribuir para que a sociedade alcance nova etapa de seu desenvolvimento. As famílias, que deveriam ser ambiente para muitos aprendizados, ficam desfiguradas”, considera. Para ele, buscar a misericórdia não é, pois, um passeio sem propósito. “É experiência renovadora, a partir do encontro com Jesus Cristo, o rosto misericordioso de Deus-Pai. Um acontecimento capaz de corrigir muitos descompassos, a exemplo do costume de se alegrar, perversamente, com o fracasso dos outros”, diz.
Ainda em seu artigo, dom Walmor destaca que as lições de Jesus Cristo salvam a humanidade também de males que afligem a alma, tornando-a suscetível a sofridas depressões: “Quem segue o Mestre, rosto da misericórdia divina, não desiste de viver, pois passa a reconhecer a própria existência como dom. Cultiva especial apreço à vida de todos, acima de qualquer interesse egoísta que possa levar a disputas insanas”.
Nesse horizonte, dom Walmor faz um elo com a Semana Santa e diz que o tempo compreende oportunidade singular para buscar a misericórdia seguindo os passos do Mestre, na sua paixão, morte e ressurreição, a partir das celebrações e da escuta da Palavra de Deus. “A Semana Santa condensa lições essenciais que, se aprendidas por todos, permitem o surgimento de uma humanidade nova, solidária”, aponta o bispo. Ainda de acordo com ele, Jesus é único e seus ensinamentos são a verdadeira sabedoria.
“Todos aproveitem a chance de fixar o olhar em Cristo, para percorrer com Ele a via da misericórdia. Assim, cada pessoa tem a oportunidade de unir-se a Deus, abrir o próprio coração para o amor, que transforma, produz sabedoria, permite discernimentos e escolhas acertadas”, exorta dom Walmor. Para ele, os atos de Jesus são permeados de compaixão, que não pode ser confundida com fraqueza. Trata-se, de acordo com ele, de corajosa fidelidade à verdade e ao bem de todos.
“Acolher suas palavras, silenciar ante seus sofrimentos e sua morte expiatória, refletindo sobre os preciosos ensinamentos reunidos na Bíblia, a exemplo dos que estão concentrados no Sermão da Montanha, é passo importante para percorrer a via da misericórdia junto com Cristo”, garante dom Walmor. No final de seu artigo, ele diz que a humanidade precisa, com urgência, trilhar esse caminho. “Seja, pois, compromisso de todos, percorrer a via da misericórdia para aproximar-se de Deus e aprender com o seu amor”, finaliza.
Confira o artigo na íntegra:
Foto de capa: Pedro Gontijo/O Tempo