Seguir a Cristo

    O preceito de Jesus:”Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 1624) merece atenção especial. Com efeito, o Mestre divino fala em ir atrás dele e não em imitá-lo. Há formas de imitação que entravam a vida cristã. O desejo de realizar as ações como Cristo no sentido de fazer os mesmos gestos poderia ser até algo descabido. Com efeito, a ordem de Jesus foi que cada um tomasse a sua cruz pessoal, pois a dele Ele levou até o Calvário. Do contrário, os caminhos humanos traçados por Deus para cada um estariam bloqueados e supressas estariam as vocações bem como os perfis caracterológicos de cada um. Além disto, um tal ideal de imitação de Cristo poderia levar a desespero dado que santo e perfeito somente Ele. Cumpre ao cristão seguir o Senhor vivendo a cada hora o que Ele ensinou nas circunstâncias em foi colocado pela Providência divina nas mais variadas tarefas que são a cruz que se deve carregar dia a dia. Os grandes santos chegaram a uma maravilhosa perfeição no seguimento de  Cristo dentro dos planos divinos,  mas é preciso não traçar grandes projetos e uma forma de vida além dos limites de cada um. Neste caso, seguir a Jesus é fazer de maneira extraordinária as coisas ordinárias, cotidianas da existência pessoal. Deste modo não existe um modelo único a enquadrar o comportamento cristão dada a diversidade de dons recebidos e as qualidades individuais. A vida e os ensinamentos de Cristo, isto sim, vêm sempre esclarecer a conduta do cristão que vai tirando as consequências do que deve fazer. A renúncia à qual o batizado deve se entregar em vistas a conseguir o Reino dos Céus é o esforço diurno no cumprimento do dever. Se alguém pensasse em imitar a Cristo no jejum do deserto durante quarenta dias estaria inteiramente equivocado. De fato, o que lhe é necessário é combater hora a hora tudo que contradiz a vontade divina, vivendo inteiramente cada um dos versículos da oração do Pai Nosso. Grandes proezas não são, por vezes, o mais difícil, mas, sim, por exemplo, desculpar a cada momento o próximo, rezar com atenção as orações, fazer com capricho o dever a ser executado. Seguir a Cristo não é procurar se singularizar em nada, ou seja, no modo de vestir, de se alimentar, nos gestos, na maneira de falar, mas agir com simplicidade e autenticidade. Seguir a Jesus é ostentar uma existência inserida em Deus, consagrada a Ele presente lá no íntimo do coração.  Então, sim, gestos e palavras evocarão a maneira de ser de Cristo.  O cristão não é um clone de Jesus, ou um magnetofone a repetir simplesmente as palavras do Mestre sem intensamente as viver. O cristão é, antes de tudo e sobretudo, um filho de Deus que aprendeu de Jesus que Deus é um Pai que deve ser amado sobre todas coisas e que todos são irmãos a serem amados e respeitados. Deste modo, o seguidor de Cristo não se desespera quando vê sua vida marcada por fraquezas humanas sem proezas espirituais ou apostólicas que ultrapassam suas possibilidades. É a procura do meio termo, isto é, nada de agitação, mas também longe de todo imobilismo ou conformismo com aquilo que possa não estar de acordo com a vontade divina. Cada um deve carregar a sua cruz apesar  de seus abatimentos, de suas fragilidades, nunca, contudo, deixando de lado a luta contra as limitações humanas. Os bons exemplos do próximo devem ser um incitamento a uma vida sempre melhor, mas, necessariamente, não se pode simplesmente querer igualar-se aos outros.  Portanto, em síntese  carregar a cruz seguindo a Cristo é ter Deus presente a cada instante, todos os passos marcados por Ele, impregnados dele. Deus em nós e nós nele. Então, tudo que o cristão faz tem um valor imenso para a eternidade.  Seguir Cristo em tudo quer dizer  que não se para na caminhada, mesmo porque esta é determinada pelos projetos divinos referentes a cada um. Jesus aliás deixou bem claro que  quando o Filho do homem vier  na glória do seu Pai, com os seus anjos, retribuirá a cada um de acordo com sua conduta ( Mt 16, 27). Cumpre então colocar sempre os passos nos passos de Jesus. Há na existência de cada ser humano  momentos de indizíveis tristezas. As mesmas lutas que recomeçam cada dia. A maldade que campeia pelo mundo. A morte, as catástrofes e tantas pessoas amadas que se vão, tudo isto causa pesar. Quando tudo externo já não perturba, no mais profundo do ser humano, que turbilhões, que fontes de aflição! È preciso, sobretudo,  nestas horas se lembrar da ordem de Jesus: “Se alguém quiser ser meu discípulo renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”.

    * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.