São Sebastião, rogai por nós!

    A festa do dia 20 de janeiro próximo relembra a minha infância, em Sarandira, junto de meus queridos pais: era esperado todo o ano a Festa de São Sebastião, patrono contra a peste, a fome e a guerra.

    Para os que moram na zona rural, no distrito como o de Sarandira, a proteção de São Sebastião é poderosa e necessária. Ele é o patrono dos animais, das plantações, das propriedades rurais, dos fazendeiros e dos trabalhadores rurais. A sua proteção é preciosa para a generosidade dos frutos da terra e dos frutos dos nossos animais.

    Mas, o que fez de extraordinário este soldado romano? São Sebastião era um cristão autêntico. Resolveu se inscrever no Exército Romano, particularmente, na guarda pessoal do Imperador Diocleciano, para poder confortar os cristãos que eram prejudicados e perseguidos por confessarem a sua fé católico. Converteu a muitos nos cárceres e deu a sua bendita presença naqueles momentos difíceis que os cristãos eram instados a adorarem aos ídolos pagãos para não serem martirizados.

    São Sebastião recebeu as flechas para que, agonizando devagar, pudesse renegar a sua fé e adorar ao augusto imperador. Mas ele foi salvo por seus companheiros cristãos. Curado comparece diante do Imperador e professa a sua fé em Jesus Cristo Ressuscitado. E ele admoesta o Imperador que deveria se converter ao Cristo, renunciando aos ídolos e aos paixões desordenadas. O Imperador num ímpeto de fúria e de raiva determinou aos seus guardas que matassem Sebastião a cacetadas, atirando-lhe pedaço ou bolas de chumbo.

    Aqui está a novidade: mesmo tendo sofrido com as flechadas, mesmo tendo passado quase pela morte física, Sebastião teve a coragem de denunciar os desmandos e a idolatria do Imperador Diocleciano. Relativizou a sua vida humana para ganhar a vida eterna. Inscreveu com o seu sangue, no livro da vida, o testemunho vivaz de Sebastião que fez florescer na Igreja nascente o autêntico seguimento de  Cristo, no despojamento total, na confiança absoluta somente em Deus, que apesar dos homens e dos seus autoritarismos, governo o tempo, governa as pessoas, governa a história e sempre nos coloca nos caminhos da sua graça, não nos abandona, mesmo quando somos infiéis, e nos chama a todos a dar testemunho do Cristo Redentor que acolhe, que perdoa, que dá uma segunda chance, que recebe o filho pródigo gastão e mulherengo, que abraça a prostituta, que acolhe o aidético.

    Neste dia em que celebramos São Sebastião, patrono da agricultura, da pecuária, patrono das Polícias, das Forças Públicas de Segurança e das Forças Armadas supliquemos ao glorioso Mártir que nos livre da peste do “carreirismo eclesiástico”, do “mandar”, “do ser maior do que o outro”, “do pisar”, “da idéia fixa de destruir quem incomoda”; que ele nos livre da fome de poder, seja ele civil, militar ou eclesiástico e, por fim, da guerra, não somente a guerra urbana, as guerras intercontinentais ou étnicas, mas a guerra silenciosa que destrói o outro, que joga o outro no precipício. São Sebastião denunciou as incongruências do Imperador, mas o chamou a conversão. O mal campeia o mundo, as pessoas são livres para serem maldosas. Mas quem comunga não pode carregar o mal no seu coração e nem nas suas atitudes. Peçamos ao glorioso Mártir que nos ajude a testemunhar e viver o amor, o perdão, a caridade e a renúncia sempre em favor da vida e da acolhida do irmão.

    Rezemos com fé: São Sebastião, rogai por nós!

    Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG.