Iremos celebrar no dia 21 de setembro a festa do Apóstolo e Evangelista São Mateus. Na manhã desse sábado, dentro do ano vocacional sacerdotal, iremos celebrar a Eucaristia no Seminário Missionário Redemptoris Mater de nossa Arquidiocese, recordando a importância do apóstolo para as missões ad gentes. Dentro das buscas de evangelização, nesse sábado teremos a celebração anual da santificação dos matrimônios em nossa Catedral (neste ano perto de 280). O Dia de São Mateus nos convida à uma séria reflexão.
O nome Mateus é muito conhecido nos próprios evangelhos. Ele aparece em todas as listas de apóstolos do Novo Testamento (Cf. Mt 10, 3; Mc 3,18; Lc 6,15; At 1,13). Ao que parece, seu nome mesmo era Levi. E sua vocação é narrada pelos sinóticos. Marcos e Lucas falam de Levi (Cf. Mc 2,13-14; Lc 5,27-28). Ele era um publicano, filho de um tal Alfeu (Cf. Mc 2,14) que recebe um chamado de Jesus. Contente com este chamado, ele reúne seus companheiros de trabalho em sua casa, em Cafarnaum, para uma ceia com Jesus.
No entanto, o primeiro Evangelho fala que este personagem é Mateus (Cf. Mt 9,9). Este nome significa “alguém que é doado por Deus”. O mesmo Evangelho também confirma a profissão deste Mateus como o publicano (Cf. Mt 10,3). Por isso alguns estudiosos concluem que o nome seria mesmo Levi e que Jesus teria mudado para Mateus, da mesma forma que mudou o nome de Simão para Pedro e deu apelido de “Boanerges” para os filhos de Zebedeu, Tiago e João.
Partindo da data da assembleia dos rabinos, podemos afirmar que o Evangelho de Mateus ficou pronto por volta de 85/90. Foi dirigido para comunidades de Judeu-Cristãos que viviam no norte da Galiléia e na Síria do sul. Possivelmente migraram mais tarde para Antioquia, capital da Síria. Estas comunidades chamavam-se a si mesmas de “Igreja” (Cf. Mt 18,17).
Neste período a Igreja vivia a crise da perseguição política por conta do império romano. O império tinha vencido o povo judeu, tendo destruído o templo e a capital, Jerusalém. Ao mesmo tempo o império tinha vencido suas crises internas e vivia um período de esplendor. A crise era também cultural. A cultura greco-romana, chamada de helenismo, ocupava todos os espaços, e seus seguidores consideravam qualquer proposta cultural diferente como barbarismo. A crise era também religiosa, já que as diferenças entre judeus e cristãos chegaram a ponto de ruptura. Viver a fé em Cristo passou a ser considerado um crime contra o Estado romano. Entre os anos de 95-96 o imperador Domiciano lança a segunda perseguição. Roma passa a ser descrita como a nova Babilônia, embriagada pelo sangue dos mártires (Cf. Ap 18,24).
Estas comunidades demonstram já certo grau de organização, como celebrações e serviços. Tinham o batismo (Cf. Mt 28,19), a Eucaristia (Cf. Mt 26,26-30), a reconciliação (Cf. Mt 18,15-17), o poder de perdoar os pecados (Cf. Mt 16,18-20), curar (Cf. Mt 10,1) e de proclamar a Boa Nova do Reino (Cf. Mt 10,7). Todos assumiam suas responsabilidades com humildade e espírito de serviço (Cf. Mt 18,4; 20.26-28).
Alguns pontos importantes trabalhados no Evangelho de São Mateus: O Messias, o Reino de Deus, o Novo Moisés, o novo povo de Deus e herdeiros da missão. Jesus é o Messias anunciado pelas Escrituras e esperado pelo povo ao longo de toda a História. Jesus é o Ungido de Deus, o Filho de Abraão, o herdeiro de Davi (Cf. Mt 1,1). Jesus anuncia o Reino de Deus realizado e presente no meio da humanidade. Jesus é chamado de Emanuel (Cf. Mt 1,23), está conosco todos os dias até o fim dos tempos (Cf. Mt 28,20). Quanto ao Reino de Deus, este significa assumir uma nova prática, uma justiça que seja maior que a dos escribas e fariseus. Jesus também é o novo Moisés. Ele veio levar a Lei de Deus à sua plenitude, atualizando-a e radicalizando-a. Para a comunidade o que vale agora é a Nova Lei proclamada por Jesus na montanha, como outrora no Sinai. Nas comunidades de seguidores, Jesus forma o Novo Povo de Deus, estes são herdeiros da promessa e continuadores da tradição dos antigos personagens dos Atos dos Apóstolos 8,11. A missão das comunidades é continuar a caminhada buscando a realização desta promessa repetindo a prática libertadora de Jesus.
O Evangelho proclamado na Santa Missa da festa (Cf. Mt 9,9-13) Jesus chama aquele que estava sentado na coletoria de impostos. Mas, eis que o Senhor o chama para ser um seguidor. Mateus deixa aquilo que tinha, ou seja, o apego ao dinheiro e aos bens matérias para se apegar em Jesus. Logo depois, Jesus vai à casa de Mateus e se senta à mesa com os cobradores de impostos. Os Fariseus veem Jesus fazendo este ato e assim perguntam: “Por que vosso mestre come com os cobradores de impostos e pecadores?” (Cf. Mt 9,11) Jesus ouviu a pergunta e respondeu: “Aqueles que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes”(Cf. Mt 9,12). Aí começa toda a caminhada do apóstolo no encontro com Jesus até o fim de sua vida com o martírio.
Que neste dia da festa de São Mateus, olhemos para este grande seguidor de Jesus e imitemos o seu exemplo, pois, São Mateus deixa a sua vida antiga para se lançar nas mãos de Jesus. Que São Mateus interceda por cada um de nós!