São João Paulo II estaria hoje completando 102 anos

O Papa Peregrino, que perdeu toda a família ainda muito jovem, vivia seu aniversário como “um dia normal de trabalho”

São João Paulo II estaria hoje completando 102 anos. Era 18 de maio de 1920 quando, na pequena cidade polonesa de Wadowice, a 50 quilômetros de Cracóvia, nasceu o filho caçula de Karol Wojtyła e Emilia Kaczorowska.

Herdeiro do nome do pai, Karol Józef Wojtyła tinha dois irmãozinhos mais velhos: Edmund, que se tornaria médico, e Olga, que, infelizmente, faleceu antes mesmo que o pequeno Karol nascesse.

Karol Wojtyła pai era suboficial do exército e faleceria em 1941, em plena Segunda Guerra Mundial. Já a mãe, Emilia, partiria deste mundo vários anos antes, ainda em 1929, quando Karol Józef tinha apenas 9 anos de idade.

Emilia, a mãe

Emilia, de fato, tinha uma saúde bastante frágil, que se tornou ainda mais delicada após o nascimento do futuro Papa. A própria gravidez já havia sido muito difícil, a ponto de os médicos lhe indicarem o aborto. Ela fez questão de lutar pelo filho e protegê-lo. Emilia aceitou com firmeza o custo dessa opção pela vida: passou os 9 anos seguintes entre internações e o progressivo enfraquecimento que acabou por levá-la embora desta vida. Na primavera de 1939, quando o futuro Papa Wojtyła tinha 19 anos e já fazia uma década que havia perdido a mãe, ele escreveu sobre as saudades dela:

“Sobre o teu túmulo branco florescem as flores brancas da vida. Ah, quantos anos já se foram sem você, quantos anos?”

Vem do amor materno, inegavelmente, boa parte da profunda sensibilidade de Wojtyła na defesa enfática da vida humana mais frágil, desde a concepção até a morte natural. Não admira que os cidadãos de Wadowice tenham dedicado a Emilia Kaczorowska Wojtyła uma obra em prol das mulheres que, mesmo no meio de muitas dificuldades, escolheram proteger o fruto da sua maternidade: a Casa da Mãe Sozinha. Em visita à sua terra natal em junho de 1999, São João Paulo II declarou sobre essa obra:

“Sou grato por esse grande dom do amor de vocês ao homem e da solicitude de vocês pela vida. A minha gratidão é tanto maior porque esta casa é dedicada à minha mãe, Emilia. Acredito que aquela que me colocou no mundo e envolveu de amor a minha infância cuidará também desta obra”.

Edmund, o irmão

Apenas três anos depois da morte de Emilia, outro luto comoveria os Wojtyła: a trágica morte de Edmund, o irmão maior, a quem Karol tanto amava e admirava. Formado médico em 1930, ele começou a trabalhar no Hospital Estatal de Bielsko. Pouco depois, eclodiu na região uma epidemia de escarlatina, doença infectocontagiosa aguda, provocada por uma bactéria e contra a qual, na época, não existia vacina.

Apesar dos riscos para a sua própria saúde, dos quais era bem consciente, o jovem doutor continuou atendendo os pacientes com esmero e acabou contraindo a infecção. Edmund foi arrancado deste mundo e da carreira promissora na medicina com apenas 26 anos, em 1932.

Karol, o pai

Karol Józef tinha apenas 12 anos e já tinha perdido a mãe e o irmão, além de irmã que sequer havia chegado a conhecer. Restava-lhe, porém, o amado pai, o Karol que lhe dera o mesmo nome, um militar bom e rigoroso, de fé inabalável apesar das tragédias pessoais, familiares e nacionais. Karol pai acompanharia Karol filho até a idade adulta, ajudando a consolidar a sua personalidade e a gerir a própria conduta com base na honestidade, no patriotismo, no amor à Virgem Maria e em outras virtudes humanas e espirituais que se tornariam para ele um “segundo DNA”. Quando já era Papa, em conversa com o amigo jornalista André Frossard, São João Paulo II testemunhou:

“Meu pai foi admirável. E quase todas as minhas recordações de infância e de adolescência se referem a ele (…) A dor dele se transformava em oração. O simples fato de vê-lo se ajoelhar teve uma influência decisiva nos meus anos jovens”.

A influência do pai se estendeu também à vocação sacerdotal do filho. Em seu livro autobiográfico “Dom e Mistério”, o Papa Peregrino contou:

“Não falávamos de vocação ao sacerdócio, mas o exemplo dele foi para mim, de qualquer modo, o primeiro seminário, um tipo de seminário doméstico”.

Karol filho e Karol pai vivem em Cracóvia, onde o jovem estuda na universidade, quando, em 1939, irrompe a ocupação nazista. Os sofrimentos da família se entrelaçam e se fundem com os da pátria polonesa, tornando-se um só. Aos 21 anos de idade, o futuro pontífice perde também o pai, que morre na fria noite de inverno de 18 de fevereiro de 1941, talvez o dia mais doloroso da sua vida.

“Dia normal de trabalho”

Ao longo do seu pontificado, São João Paulo II costumava passar o seu aniversário como um “dia normal de trabalho”, em palavras ditas em 2004 pelo então porta-voz vaticano Joaquín Navarro-Valls. O porta-voz contava aos repórteres como o Papa estava celebrando os seus 84 anos de vida. Seria o último aniversário de São João Paulo II neste mundo.

“Para o Santo Padre, hoje [18 de maio de 2004] foi um dia de trabalho normal e, principalmente, de ação de graças a Deus pelo dom da sua vida. A única coisa extraordinária foi convidar para um almoço os colaboradores mais próximos da Cúria”.

Ao longo do peregrinar da sua existência, o pequeno grande Karol Wojtyła sempre manteve a família consigo. Assim como a mãe, ele defendeu a vida corajosamente. Assim como seu irmão, ele se doou ao próximo até o fim. Assim como seu pai, ele não teve medo, porque abriu, ou melhor, escancarou as portas para Cristo.

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