Este santo que hoje se faz objeto de nossa atenção é bem digno de todas as honrarias. Fernando foi o nome que Santo Antônio recebeu no dia de seu batismo em Lisboa, cidade que o viu nascer em 1195 dentro de uma família nobre e rica. Filho de Martinho de Bulhões e Maria Teresa de Taveira, pais de comprovada virtude que souberam transmitir ao filho um exemplo magnífico de vida cristã. Bem cedo fulgiram as qualidades de Fernando, que primava pela piedade e correção de atitudes. Sua primeira escola foi a comunidade dos cônegos da catedral de Lisboa. Completados os quinze anos quis entrar para a Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho. Em Lisboa, a visita de parentes e amigos o distraiam de seu objetivo de profunda união com Deus e entrega total a seus estudos a bem da evangelização que tinha em mira. Isto motivou o pedido de Fernando para ser transferido para a cidade de Coimbra, onde prosseguiu sua existência de eclesiástico exemplar. Certa vez ele presenciou a partida de cinco franciscanos para as missões na África e cintilou no seu coração o desejo de se tornar discípulo de São Francisco. Um fato o fez tomar esta resolução: aqueles missionários que tinham ido para a África foram martirizados e Frei Fernando assistiu o féretro daqueles heróis em Portugal. Fez-se franciscano e, em 1220, toma o nome de Antônio com o qual entraria na História como um dos santos mais populares. Logo se colocou à disposição de seus superiores para as Missões na África, visando a conversão dos mouros. Tais não eram os planos de Deus, pois lá chegando uma enfermidade o obrigou a regressar à Europa, não para Portugal, mas para a Itália, dado que uma tempestade desviou a embarcação para as costas da Sicília. Desembarcou em Messina e, de lá, foi para Assis, onde estava São Francisco. No capítulo geral da Ordem, ninguém deu conta de sua presença, mas como houve logo depois uma ordenação em Forli, faltando o pregador, ele foi escolhido para falar à comunidade dos frades. Sucesso absoluto! Todos ficaram assombrados com a unção daquele jovem pregador, com o conteúdo de sua doutrina, com sua irradiante santidade de vida. Todos concluíram que ali estava um talento escondido e que deveria ser aproveitado a bem da Evangelização. Grande era, de fato, sua sabedoria. São Francisco mesmo o encarregou de ensinar teologia aos frades. Antônio lecionou em Bolonha, Montpellier, Toulouse e Pádua. Sábio e santo, seus sermões arrastavam multidões que enchiam as igrejas para escutar a Palavra de Deus. Como salientou o papa São João Paulo II, “toda a sua pregação foi um contínuo e incansável anúncio do Evangelho”. A pregação era o seu modo de acender a fé nas almas, de as purificar e iluminar. Ouvintes de todas as classes sociais e crenças e sua palavra tocava os corações mais empedernido. Ele combatia a avareza, a usura, a prepotência, a corrupção dos costumes, as heresias que campeavam pela Europa de então e fazia tudo isto movido por um maravilhoso zelo pela causa de Deus. Gostava de pregar sobretudo para os pobres e admirável sua caridade para com os mais humildes. Era um enamorado da Santa Pobreza. O sucesso extraordinário de sua comunicação mostra que ele sabia como se dirigir aos seus ouvintes numa empatia total. Transmitiu o conteúdo da fé e fez acolher os valores do Evangelho de acordo com a cultura popular de seu tempo. Sua fama se espalhou e as graças que as pessoas alcançavam com suas bênçãos fizeram com que entrasse para a História como o santo dos milagres. A imaginação popular multiplicou inclusive tais prodígios, floreando uma existência admirável. Seus prodígios foram até imortalizados pelos artistas como a pregação aos peixes, a mula que se prostrou diante da Eucaristia a uma ordem sua, o coração do avarento encontrado no meio de seu tesouro, o pé amputado que o santo juntou a sua perna, outras numerosas curas, e o célebre aparecimento do Menino Jesus a ele, o que originou suas tradicionais imagens. O certo, porém, é que Deus o dotou com o dom dos milagres. Trinta e seis anos de vida e Antônio falecia. Foi enterrado em Pádua, cidade que lhe emprestaria o nome e lhe prestaria singular homenagem com uma Basílica magnífica onde está o seu corpo e sua língua que não se corrompeu. Tornou-se também o santo que abençoa aqueles que querem um bom casamento. Ele está a dizer a cada um de seus devotos: “O fiel Cristão, iluminado pelo resplendor de Cristo, deve emitir centelhas de palavras e exemplos para, com eles, inflamar o próximo”. Com nossas palavras e gestos podemos e devemos anunciar a Cristo aos que necessitam, ou seja, precisamos servir os outros, Jesus foi claro: “Vós sois a luz do mundo, brilhe a todos vossa luz” (Mt 5,16).
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.